Placebo: Envelhecendo para ficar cada vez melhor
Resenha - Loud Like Love - Placebo
Por Ronaldo Celoto
Postado em 30 de novembro de 2013
A arte de não decepcionar talvez seja a mais difícil arte, pois ela pode ser reluzente no primeiro disco de estréia, mas dificilmente consegue manter a mesma qualidade em todos os demais trabalhos. Mas bandas como o PLACEBO traduzem realmente, esta arte. Tal como o vinho, eles simplesmente envelhecem para ficarem cada vez melhores.
O início, com a faixa título, traz de volta a grande sonoridade desta banda, marcada por homenagens diretas a DAVID BOWIE em seu alter-ego ZIGGY STARDUST, e, LOU REED na melhor apologia pós-VELVET UNDERGROUND, em trabalhos como "Blue Mask".
"Breathe... breathe... believe", são as palavras marcantes que rasgam as distorções bem melódicas das guitarras cortantes, que, de forma agradável aos ouvidos, trazem na minha imaginação enquanto a escuto, uma mensagem similar a de um músico prisioneiro de seus fantasmas em uma torre, que de repente, abre a janela e vê lá embaixo a multidão clamar, aos brados: "We... are... loud... like... love !!!". É talvez uma das mais belas canções dos últimos dez anos e certamente, está entre as cinco melhores canções de BRIAN MOLKO e sua trupe. Ouso dizer que ela é o HINO DE AMOR E JUVENTUDE (a exemplo do que foi a música "Sit Down", do grupo JAMES, há muitos anos atrás) para o biênio de 2013 - 2014...
...Após o belo início, onde MOLKO mostra que este álbum tem os seus melhores trabalhos de voz, segue-se "Scene of the Crime", com uma batida beatle, violões e uma narrativa onde o crime não é matar, e, sim, amar. Aliás, a cozinha entre as duas guitarras e a bateria está fantástica em todos os momentos. E os teclados com sons de piano infante, surpreendem em muitos momentos do álbum.
A balada autobiográfica "Too Many Friends" inicia-se relembrando épocas de "Rise and Fall of Ziggy Stardust" e "Alladin Sane" (DAVID BOWIE), com as respectivas "Lady Stardust" e "Drive in Saturday". É aquela canção onde você conclui que entre todos os seus lamentos e sua dor, você percebe que tem muitos bons amigos que jamais poderá conhecer. Para quem espera melancolia estilo "Charlote Sometimes" (THE CURE) para uma letra como esta, esqueça. A canção é belíssima e chega a confundir-se também com épicas passagens de bandas como THE KILLERS e sua canção "Human", por exemplo. Isto em nenhum momento é um desprestígio, ao contrário, é apenas uma prova de que é possível fazer letras introspectivas e até mesmo dolorosas, mas com sonoridade popular e agradável, a exemplo do que já fez o próprio THE CURE com "Friday I’m in Love" ou "In Between Days". Nunca é demais dizer que esta terceira canção (sim, estamos apenas na terceira) traz, como já mencionei estar presente em todo o disco, um belíssimo e peculiar trabalho de teclados.
"Hold On To Me" é a quarta faixa, também, muito introspectiva, como que a relatar alguém que resolve levantar da sua cadeira depressiva e perguntar: "Quem disse ao mundo que eu estava mais velho? Quem disse que a corrida terminou?". O ritmo é leve, no estilo de "Sonnet" do THE VERVE, e, com algumas passagens que remotam a LOU REED nos momentos mais gritantes de "Caroline Says", entre outros ápices. O fundo orquestrado dos teclados é maravilhoso e o final da música sofre uma mutação magnífica. É muito, muito impressionante mesmo dizer como MOLKO está cantando neste disco: - Magníficamente bem.
"Rob The Bank" é a mais underground do álbum. Tem um belo trabalho de baixo e bateria feito por STEFAN OLSDAL e STEVE FORREST, respectivamente. E, claro, conclama a todos para roubarem os bancos do Reino Unido e de toda a União Européia, e, ao final, celebrar em casa, fazendo amor em nome da arte. É uma canção rebelde, limpa e muito bem serviria para tocar em algum comercial antipartidário.
Seguem-se "A Million Little Pieces", que conta a saga de alguém que perdeu o poder de compreender o mundo ao seu redor, que antes se contentava com a brisa de um sorriso a soprar em seu rosto, e, agora, vê-se em um inverno nebuloso mesclado a perda de um amor e da capacidade de sentir. Belo momento, belo trabalho dos teclados, violões, guitatras, numa canção ritmica que poderia ser intitulada como a "One" (U2) do PLACEBO. Para os mais despercebidos, a voz de MOLKO chega até a lembrar o intrépido GEDDY LEE, do RUSH (eu disse "chega a lembrar"). Mas com mais seriedade, mais dor, mais beleza. Linda canção.
"Exit Wounds" é a tentativa do PLACEBO de soar como NINE INCH NAILS, ao menos no início, para depois, retomar a alegria melancólica, se é que isto possível existir tamanha antítese, mas com eles, isto torna-se real. Grande trabalho de guitarras, novamente.
"Purify" traz novamente um momento perdidamente glam...sim, é glam desde os riffs até a forma com que MOLKO convida a sua (ou o seu) meretriz a ouvi-lo declamar: "My kiss...Can you feel it yet?...In the back of your legs...And on the nape of your neck...Are you a temple? Are you a temptress?". Enfim, é uma canção daquelas canções que gruda nos ouvidos, pois traz o barulho pop de forma fantástica. Eles já fizeram isto como "Every You, Every Me" e conseguiram de novo, de uma forma surreal.
O penúltimo momento fica com "Begin The End", com guitarras rítmicas após a primeira estrofe, copiadas propositalmente do estilo criado por THE EDGE (U2), para dar um ressonar atmosférico à canção, e, fazer com que a falta de refrão seja substituída inteligentemente pelas guitarras. Gosto destes climas atmosféricos...servem para todo e qualquer momento, de preferência, ao lado de alguém que se ama e se encontra inserido na mesma filosofia de ouvir rock para respirar, fazer amor, viver, trabalhar, estudar, pensar e repensar a própria existência.
E por fim, a balada "Bosco", muito, muito melancólica, introspectiva, ao estilo de "Perfect Day", "Sad Song" e tantas outras baladas tristes compostas por LOU REED. A letra traz um amor em forma de agradecimento, de autodependência, mas também, de afirmação de alguém que entende o quanto suga a energia, o amor e a vitalidade da outra pessoa, mas de repente, também entende que precisa se embriagar deste amor mais e mais e mais. Novamente, um belíssimo trabalho orquestral dos teclados, que resumem uma bela música de desfecho, com um pequeno ressonar de bateria que lembra mini-tambores, em certo momento.
Sim, eles conseguiram. "Loud Like Love" é o melhor álbum de sua carreira. Os fãs mais saudosos que adoram "Without You I’m Nothing", "Black Market Music", entre outros, talvez duvidem desta minha afirmativa. Mas é uma questão pessoal. A meu ver, a fusão e evolução perfeita de tudo que eles já fizeram, está neste disco. Sem dúvida, um dos melhores álbuns de 2013 e, do gênero, certamente o melhor dos últimos anos.
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