Trapeze: uma banda que merecia sorte melhor
Resenha - Medusa - Trapeze
Por Paulo Severo da Costa
Postado em 19 de setembro de 2012
O que torna um álbum, ou banda, dignos da terminologia "clássico"? Na literatura musical, registros de terrenos tão eqüidistantes quanto o blues e o death metal encontram espaço em meio a um aglomerado de obras conceituais ou não, de discos gravados com uma só guitarra ou com a Filarmônica de Berlim, vocalistas monocórdicos e divas operísticas, guitarristas meia boca e virtuoses. Nesse campo de diversidades, bandas tão díspares quanto STOOGES e YES, MC5 e QUEEN encontram um lugar ao sol, e o status de eternos perante seus admiradores.
Para outros, infelizmente, a propagação do mito não atinge proporções tão igualáveis quanto os casos acima; bandas de primeiríssima grandeza como BLUE MURDER, BECK, BOGGERT & APPICE e GUN CLUB e outras tantas, inobstante a qualidade indiscutível de suas obras, não aparecem nas listas dos mais procurados ou encabeçam os tópicos de discussão on line na medida de seu potencial, ficando restritas, muitas vezes, aos papos de boteco entre os aficcionados na "matéria". Falta de sorte? Talvez. Fato é: entre estas bandas, o TRAPEZE era uma dessas que mereciam uma sorte melhor. Em matéria de power trio, DAVE HOLLAND (JUDAS PRIEST ), MEL GALLEY ( WHITESNAKE, PHENOMENA) e GLENN HUGHES (DEEP PURPLE, SABBATH), não deviam nada a ninguém fazendo um cruzamento casca grossa da versatilidade do CREAM com o blues rock pedrada do BAD COMPANY. Após lançarem seu debut homônimo em 1970, mandaram, no mesmo, o clássico "Medusa".
O disco é curto - sete faixas cuidadosamente construídas pela inspiradíssima guitarra de GALLEY por sob a cozinha invejável de HOLLAND e HUGHES. Embalados pela roupagem soul do futuro vocalista do BLACK COUNTRY COMMUNION, o disco transita com uma desenvoltura fora do normal por alternâncias entre a leveza absoluta e o pé devidamente fincado no solo do metal. "Black Cloud" parece algo produzido no quintal do FREE em seus momentos iniciais, desembocando inesperadamente em uma incorporação heavy, cortesia da flexibilidade vocal de HUGHES. Na sequência, "Jury", com seus oito minutos, começa como um lamento blues e igualmente pega um passaporte para o peso – destaque para o tenebroso e denso riff de passagem de GALLEY.
"Your Love is alright" mais uma vez torce o pescoço do ouvinte: estamos agora em uma jam session sulista com direito a riff seco, marcação de chimbal de precisa e uma improvável mistura de um leve toque country com o vocal despachado de sempre- mesma tônica da não menos sensacional , porém mais lenta "Touch My Life". "Seafull" , tranquilamente, uma das mais inspiradas baladas dos anos 70, permeada por uma guitarra no melhor estilo que GARY MOORE traria ao mundo anos depois. "Makes you wanna cry" e "Medusa" fecham o álbum "naquela "classe – essa última um prenúncio do tom épico dos grandes registros que, especialmente GALLEY e HUGHES levariam a suas carreiras nos anos seguintes.
Infelizmente, nos anos que se seguiram, a praga do rock n´roll quase matou HUGHES em razão de seu vício irrefreado, GALLEY faleceu em 2008 devido ao câncer e HOLLAND foi preso em 2004, acusado de abuso sexual contra um aluno de bateria, portador de deficiência mental. O fato é - ainda dá tempo de se colocar o TRAPEZE no lugar que merece: entre os clássicos.
Track List:
1. "Black Cloud"
2. "Jury"
3. "Your Love Is Alright"
4. "Touch My Life"
5. "Seafull"
6. "Makes You Wanna Cry"
7. "Medusa"
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