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Oasis: O quinteto de Manchester que sabia criar boa música

Resenha - (What's The Story?) Morning Glory - Oasis

Por Juliano de Henrique Mello
Postado em 09 de outubro de 2011

Com o sucesso alcançado no ano anterior com o disco de estréia, ‘Definitely Maybe’, todos esperavam o que Noel e Liam Gallagher, Paul ‘Bonehead’ Arthurs, Paul ‘Guigsy’ McGuigan e Tony McCarroll ainda trariam à tona. Críticos especializados logicamente duvidavam que eles ainda poderiam produzir um álbum à altura da qualidade inovadora de ‘Definitely...’, mas o inesperado aconteceu. Os Oasis superaram as expectativas, de uma vez por todas.

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O baterista Tony McCarroll desligou-se do grupo, sendo substituído por Alan White, sobrinho do lendário Paul Weller (The Jam), uma das principais influências da banda e amigo pessoal do líder e guitarrista Noel Gallagher. Mais tarde, veio à tona que McCarroll teria sido demitido por Noel, o que provocou certa polêmica. Questionado sobre os motivos de tal decisão, Noel afirmou: "Ele não seria capaz de conduzir as batidas e levadas do novo disco." Logo os fãs entenderiam isso na prática.

O disco abre com "Hello", uma pesada e irônica faixa de abertura, que traz a proposta principal da banda, já demonstrada no primeiro disco: hedonistas por natureza. A música traria mais algumas acusações de plágio (curiosamente, todas as músicas do Oasis que trouxeram repercussões desse tipo não alcançaram sucesso internacional), e as batidas de violão do início pareciam belas demais para se perderem numa simples vinheta. E realmente eram.

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Em seguida, as caixas de som explodem com "Roll With It", e fica óbvia a veracidade das declarações de Noel quanto à demissão de Tony McCarroll. O ritmo acelerado e o som quase ensurdecedor, ainda por cima dotado de ativos backing vocals e geniais solos de guitarra de Noel davam a cara e a definição mais objetiva possível do movimento Britpop, que começava a expandir as fronteiras do seu império aos quatro cantos do planeta. Realmente, a lacuna na indústria musical deixada pelo fim do Grunge, que praticamente morreu junto com Kurt Cobain, estava sendo mais do que maravilhosamente bem coberta. Mas ainda não vimos nada.

Sem mais nem menos, a introdução em violões apresentada em "Hello" volta e, para a alegria coletiva dos amantes da boa música, evolui e se desenrola numa das mais belas e emblemáticas canções de todos os tempos: "Wonderwall". O acompanhamento de violoncelos, a bela interpretação de Liam e a temática romântica da letra realmente tornaram a canção cativante, e ajudaram a eternizá-la como clássico universal.

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É importante salientar que a palavra "wonderwall" não existe. Noel compôs esta letra em homenagem à sua amada na época, Meg Matthews, e havia usado a palavra "wonderful" ("maravilhosa", em português). Porém, Noel sofre de dislexia (distúrbio mental que compromete a memória e a capacidade de concentração) e, ao apresentar a canção ao restante da banda, usou a palavra "wonderwall" por engano. No fim das contas, eles decidiram que ela ficou melhor assim, e creio que todos nós concordamos que a música ficou "wonderful".

A faixa seguinte começa com uma bela introdução de piano que nos faz perguntar: "Será um plágio de ‘Imagine’, de John Lennon? Mas não. Trata-se de outro clássico absoluto do Oasis, "Don’t Look Back In Anger", que apresentava simplesmente a seguinte inovação: Noel Gallagher no vocal principal. Uma pequena dissensão interna foi causada quando Noel impôs sua vontade de cantar "Don’t Look Back..." ou "Wonderwall", pedindo a Liam que escolhesse. Fica óbvio o que foi decidido. Embora Noel não seja um vocalista de ofício, como Liam, e realmente tenha um alcance vocal bastante limitado, pode-se dizer sem medo que ele cumpriu seu papel e, em resultado disso, a canção está gravada em definitivo no coração dos fãs.

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"Hey Now!" parecia chamar a atenção para o que vinha a seguir: "Some Might Say", o primeiro single do Oasis a atingir o primeiro lugar no Reino Unido. Embora não tenha a qualidade óbvia de "Wonderwall" ou "Don’t Look Back...", curiosamente conseguiu o que nem estas e nem "Live Forever", do álbum anterior, haviam conseguido. Coisas do rock, que não dá para explicar.

"Cast No Shadow", a faixa seguinte, tem potencial para brigar pelo título de "mais bela canção do Oasis". A música é maravilhosa, e foi composta em homenagem a Richard Aschcroft, líder e vocalista dos colegas de Britpop, The Verve. Os acompanhamentos de violões, violoncelos e sintetizadores, a harmonia vocal dos backings, e a perfeição da linearidade do ritmo da música pareceram dar a Liam o impulso que faltava para interpretar a melodia com uma "grandeza e beleza que poucas vezes conseguiria igualar em toda a sua carreira", segundo os críticos. Se o álbum acabasse aqui, já estaria perfeito.

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Mas ainda tinha mais. Na minha opinião, "She’s Eletric" entraria como uma faixa perfeitamente descartável, mas não fui eu que a escolhi. Quando parece, por um segundo, que não sairá mais nada de bom do álbum, o barulho das hélices de um helicóptero e um mortífero riff de guitarra introduzem a pesadíssima e maravilhosa faixa-título, "Morning Glory". Perfeita. E a temática da letra era realista: os Oasis haviam chegado para dominar, mesmo que fosse por apenas quinze anos.

Mas, como se costuma dizer, "tudo o que é bom dura pouco". O álbum, de 50 minutos de duração, chegava ao fim, mas não antes de apresentar um dos clássicos definitivos do Oasis e uma das mais belas canções de que se tem notícia. A vinheta que a precede traz o repousante som de águas correntes, e é em cima dele que se constrói a doce "Champagne Supernova". Com quase 7:30 de duração, a canção é capaz de hipnotizar e emocionar o ouvinte, seja pela harmônica interpretação de Liam, seja pelo doce som dos violões, seja pelos melodramáticos solos de guitarra de Noel e do ilustre Paul Weller, que nos dá a honra de ouvi-lo em participação especial, ou seja pelo mellotron, tocado com maestria por Bonehead, que atestou na prática a emoção transmitida pela música quando, segundo a banda, se emocionou e chorou como um bebê quando Noel apresentou o protótipo da canção com um violão, durante uma viagem no ônibus do grupo.

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Bem, detalhes e rasgações-de-seda à parte, o disco acabou, e a banda também. Quantas vezes você já o ouviu essa semana? Nenhuma? Você merecia um tiro. Mas, como somos amantes da paz e da boa música, daremos a você mais uma oportunidade de contemplar e se encantar com a grandiosidade dessa verdadeira obra prima do quinteto de Manchester que, embora não tenham o relacionamento fraternalmente mais afetuoso do mundo, realmente sabiam fazer boa música juntos.

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