Resenha - Quaterna Réquiem - Quaterna Réquiem
Por Rodrigo Werneck
Postado em 11 de março de 2007
Nota: 9
O Quaterna Réquiem é um dos principais grupos brasileiros de rock progressivo, tendo surgido em 1989 e, entre idas e vindas de integrantes, lançado dois aclamados discos de estúdio, mais um ao vivo. Nesse mais recente retorno às atividades, a banda gravou um DVD ao vivo no Rio de Janeiro, que se antecipa a seu novo trabalho de estúdio.
O som do Quaterna Réquiem (o nome significa "repouso dos quatro") foi inicialmente moldado na tríade teclados-violino-bateria, contando ainda com a adição de baixo e guitarra. A tecladista Elisa Wiermann, o baterista Cláudio Dantas e o violinista Kleber Vogel, músicos de formação erudita e atuação nesse métier (Kleber, por exemplo, é integrante da Orquestra Sinfônica Brasileira), constituíram o alicerce básico sobre o qual o estilo do grupo se firmou. Pelo baixo e pela guitarra, vários músicos passaram, entre eles os guitarristas Jones Júnior e Saulo Battesini, e os baixistas Marco Lauria, Álvaro Seabra, Fábio Fernandes e Fred Fontes. O guitarrista Roberto Crivano, porém, se firmou no posto e lá se mantém já há cerca de 10 anos, mesmo tendo nesse período se dividido entre este e outros projetos (foi durante um tempo guitarrista de outra banda progressiva carioca, o Tempus Fugit).
Após o início arrebatador com o disco "Velha Gravura" (1990), e shows marcantes e lendários que arrebanharam uma legião de fãs órfãos de rock progressivo de qualidade no Brasil, em especial numa época de poucos concertos de bandas internacionais no país, o Quaterna se dividiu e gerou 3 grupos. O próprio Quaterna seguiu com os irmãos Elisa e Cláudio, numa nova formação que não incluía violino. Nessa época, lançaram o segundo disco, denominado "Quasímodo" (1994), assim como um disco ao vivo chamado "Livre" (lançado em 1999, mas gravado no Rio ArtRock Festival de 1997). Vogel deixou o Quaterna para seguir adiante com seu próprio grupo, Kaizen, levando consigo Seabra e, num segundo momento, Battesini. Gravaram o disco "Gárgula" (1992), numa linha similar à do Quaterna. E, por fim, o guitarrista original Jones Júnior criou o grupo Index, que já lançou 3 discos de estúdio: "Index" (2000), que por sinal contém a música "Quaterna Réquiem", seguido de "Liber Secundus" (2002), e "Identidade" (2005).
Em 2002, um episódio fez com que o universo conspirasse para o retorno do Quaterna baseado em sua formação original de quinteto: Kleber e Elisa compuseram e gravaram juntos o introspectivo álbum "A Mão Livre", lançado em 2003. Com a posterior adição do baixista Jorge Mathias (ex-Topos Uranos), finalmente a lineup se estabilizou, e novos planos foram elaborados.
O primeiro fruto dessa renovada formação (Vogel, Wiermann, Dantas, Crivano e Mathias) é o DVD ao vivo que se chama simplesmente "Quaterna Réquiem". O show de comemoração dos 15 anos do conjunto, realizado em agosto de 2004 no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio de Janeiro, foi gravado e finalmente lançado em 2006 em DVD. Um apanhado de músicas das várias fases da história brevemente narrada acima é o que compõe o repertório, criteriosamente selecionado e demonstrando todo o talento e a coerência musical que a banda vem demonstrando em sua já longa carreira.
Do já clássico álbum "Velha Gravura" estão presentes a bela "Tempestade", a enérgica "Aquartha", a infalível "Toccata", sempre arrebatadora ao vivo e aqui usada no bis, além da faixa-título, mais do que obrigatória nos shows da banda, com sua longa duração e solos apoteóticos, uma verdadeira catarse coletiva. O estilo progressivo melódico do Quaterna, seguindo a escola italiana principalmente, e incluindo também amplas citações eruditas, agrada em cheio aos fãs do rock progressivo instrumental.
Do disco "Quasímodo" foi escolhida apenas "Irmãos Grimm", talvez porque já fizesse parte do repertório do grupo antes da saída (temporária) de Vogel, e por isso certamente mais fácil de ter seu arranjo readaptado para a (re)entrada do violino. Do álbum "A Mão Livre", da dupla Wiermann & Vogel, entrou "Cantilena", que conta com a participação especial do flautista Paulo Teles. Já do disco "Gárgula" (da banda Kaizen), entraram a faixa-título e "Horda", ambas composições de Kleber.
Completando o repertório estão 4 músicas do disco que está sendo preparado no momento para lançamento em breve, chamado "O Arquiteto", e compreendendo músicas dedicadas a vários arquitetos famosos da história humana: "Prefácio", "A Casa da Cascata", "Bramante" e "Fantasia Urbana". Um estilo com quedas para os lados do fusion pode ser notado em "A Casa da Cascata", por exemplo, lembrando um pouco Jean-Luc Ponty, até pela sonoridade do violino de Vogel. Novos ares que trazem um positivo frescor ao som do conjunto, e dão a impressão de que o novo álbum de estúdio será arrebatador.
O pique no decorrer da apresentação é homogêneo, com todos os números sempre muito bem ensaiados. Curiosamente, e de certa forma contraditoriamente, os pontos altos acabam sendo as músicas nas quais o "lado rock" da banda transparece mais, com os integrantes mais livres para solos e improvisos. Dois bons exemplos são "Horda", na qual Crivano se sai bem com alguns solos mostrando sua veia hard rock, e Elisa se destaca no sintetizador; e "Velha Gravura", na qual há espaço para solos de quase todos: violino, guitarra, teclado, e um arrebatador solo de baixo, onde Mathias mostra que domina plenamente várias técnicas, como o pizzicato de 3 dedos e o tapping (e o melhor, inserindo-se dentro do contexto da música, o que é muitas vezes raro em se tratando de solos de baixo).
Outros bons momentos ficam por conta das músicas novas, como as ótimas "A Casa da Cascata", na qual Vogel desponta com um solo que arranca aplausos e gritos entusiasmados do público, e "Fantasia Urbana", climática, com vários andamentos, e contendo inspirados momentos da dupla da "cozinha": as partes de baixo e bateria são extremamente criativas, e nessa música o indefectível solo de bateria de Cláudio Dantas se faz presente, no qual ele demonstra suas claras influências de Carl Palmer e Neil Peart, revezando-se entre os sets acústico e eletrônico.
O DVD possui quase 2 horas de duração, e se levarmos em conta que são apenas 12 músicas, nota-se que são todos números de longa duração, para deleite dos fãs do gênero. Entretanto, uma das características mais marcantes do Quaterna, e uma de suas principais virtudes também, é que as músicas são compostas de forma a privilegiar melodia, harmonia, a estrutura das composições em si, e não como forma de extravasar uma auto-indulgência desmedida. Méritos em especial de Elisa Wiermann, compositora da maioria das faixas, que dá espaço em suas composições para todos brilharem (inclusive ela).
A produção artística do DVD é impecável. A bonita arte da capa, do encarte, e do menu interativo, são frutos do talento do designer Bernard, que tem em seu currículo vários trabalhos na área. Está incluída no DVD como bônus a discografia da banda, sendo possível inclusive ouvir trechos de algumas músicas em suas versões originais.
Para quem esteve no show de gravação do DVD, é impressionante que a qualidade tanto do áudio quanto do vídeo estejam tão boas. Embora a performance da banda seja sempre impecável, a estrutura do local do show, de iluminação e som, não é exatamente apropriada à gravação profissional de um show como este, porém a equipe envolvida fez milagres e o resultado final é excelente, bem acima do satisfatório, e fazendo jus à história do Quaterna Réquiem. A edição de imagens é bem feita, captando perfeitamente a dinâmica da banda. O som, em 5.1, está bem balanceado e mixado, com todos os instrumentos perfeitamente audíveis.
Altamente recomendável!
Tracklist:
1. Prefácio
2. Gárgula
3. Tempestade
4. Aquartha
5. Cantilena
6. A Casa da Cascata
7. Bramante
8. Irmãos Grimm
9. Fantasia Urbana
10. Horda
11. Velha Gravura
12. Toccata
Sites relacionados:
http://www.quaternarequiem.com
http://www.rocksymphony.com
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps