Resenha - Bubblegum - Mark Lanegan
Por Bruno Romani
Postado em 22 de março de 2005
Cresceu, experimentou, amadureceu. Na vivência, nos percalços da vida artística, e nas contribuições a outros e por outros, Mark Lanegan, o outrora líder do Screaming Trees, gera "Bubblegum", seu novo trabalho solo.
Um álbum de blues sem solos de guitarra, ou um trabalho de rock alternativo, por mais genérico que o rótulo possa parecer, muito sofisticado? "Like Little Willie John ou "Hit the City"? Sofisticação gerada a partir de texturas criadas por pianos, teclados, sintetizadores e violões. Muitos instrumentos mas que por vezes tocam notas poucas. Espaços silenciosos entre cada nota que nos fazem lembrar que para a existência do som é preciso o barulho do silêncio. Assim, há a fundação necessária para que a voz rouca que um dia cantou "Nearly Lost You" se entregue e comande as canções com belas melodias e/ou seqüências que parecem uma conversa numa mesa de algum pub no meio do deserto americano. Produção de tamanho bom gosto, que impressiona até mesmo pela sonoridade da bateria.
Lanegan preenche aonde parece estar vazio, e por momentos cria vazio nos corações de quem ouve a peça. O clima soturno é inevitável. É o negro americano do começo do século XX adaptado ao rock do início do novo milênio. Embala tristeza e envoca lembranças embaçadas pelos fracassos da memória. Canta sobre a morte, canta sobre sangue, canta não sobre as dificuldades da vida escrava do trabalho, mas da viciosa relação às drogas.
Não é, entretanto, um testemunho de autodestruição como os conterrâneos do Alice in Chains uma vez professaram. Lanegan mostra a maturidade de quem sobreviveu. E ele atinge a maturidade musical provando que se domina quase todo o álbum com sua voz, e porque conhece os caminhos pelos quais percorre. Não é um processo de masturbação do ego que muitos artistas criam ao se atirar a um projeto solo.
Ao lembrar dos tempos em que trabalhou na instituição do rock "Queens of the Stone Age", sabe do poder da contribuição entre artistas e aqui recruta para várias canções a musa do indie-rock PJ Harvey, e os ex-membros do Guns n’ Roses Izzy Stradlin e Duff Mckagan para "Strange Religion". Está completa, assim, a receita para Lanegan mostrar do que anos sem acomodação são capazes.
Difícil é parar de ouvir.
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