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Facada: brutalidade ou genialidade?

Por Ricardo Cunha
Fonte: Esteril Tipo
Postado em 14 de agosto de 2017

"O Facada toca grindcore desde 2003. Simples, rápido, pesado, cru, sem experimentalismos, sem frescura, sem viagens sonoras, sem hypes ou modas, sem alegria, sem cultuar ninguém, sem dar satisfação a ninguém, sem breakdowns, sem vocais limpos, sem falsa amizade nem falso discurso. Sinta-se à vontade para não gostar. Se não gostar faça o favor de não nos visitar ou ouvir nossos sons. Já viajaram por quase todo Brasil, incluídos aí: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. [...]"

Com este singelo preâmbulo a banda formada por James (baixo e vocais), Dangelo (bateria), Danyel (guitarra) e Ari (guitarra), se apresenta para "a quem interessar possa". Cantando em português, discreta e rapidamente ganhou notoriedade entre os fãs da música extrema. Da parte deste que vos escreve, de tanto ouvir falar na banda, surgiram perguntas que considero pertinentes: 1) porque o nome "Facada" está tão em evidência? 2) O que os diferencia, brutalidade ou genialidade?

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Antes de (tentar) responder, entretanto, visitaremos a breve mais profícua discografia da banda que, tendo acabado de lançar um split album com os gregos do Stheno, está prestes a lançar o aguardado Nenhum Puto de Atitude (álbum de covers), e um novo full length ainda esse ano.

Em 2005 a banda lança a demo que precede o seu primeiro álbum completo. Totalmente de acordo com a auto biografia, a demo contém dez faixas curtas e grossas executadas em pouco mais de 10 minutos de duração (10:14, pra ser exato). Com destaque para "Set Fire In The Bomb", que serve de trilha sonora para uma estranha e engraçada história ocorrida numa passagem pelo interior da Bahia, segundo contaram os caras numa entrevista aos Meninos da Podreira.

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Cada disco tem sua própria dinâmica, por isso, quem diz que disco de grindcore ou de "seja lá  o que for" é tudo igual, comete o erro da generalização. Que por sua vez, leva a banalização. Indigesto (2006) contém todos os componentes de um disco do gênero. Porém, contém também traços que o ressignificam com o tempo. Pelo menos se o considerarmos na perspectiva dos dissidentes, que dão voz ao coro contra os desarranjos sociais, a apressão e a alienação. A música aqui, é contorno, é forma, é pulsão, que dá corpo ao conteúdo de um modo geral.

Ao ouvir O Joio as primeiras palavras que me vieram à mente foram "puta que pariu!". Agora num nível de produção mais profissional a banda se mostra mais claramente em sua proposta musical. E não é somente esporro gratuito. A [banda] Facada tem personalidade! Pelo menos é o que os anos de estrada parecem nos dizer através de mais este trabalho. O Joio (2010) marca a entrada de Danyel (guitarra) na banda e o cara já mostra a que veio. A banda parece ter assimilado influências, as mais diversas. Pois tudo num liquidificador e o resultado esta agressão.

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Nadir (2013) veio para consolidar o trabalho realizado ao longo de dez anos. Mais apropriados de seus instrumentos e com uma postura mais amadurecida, a Facada produz um disco simples e poderoso. Nadir ou Nazir é um conceito utilizado pela banda para significar o ponto mais baixo do ser humano. Um tema pertinente numa época em que nos vemos obrigados a defender o óbvio. O disco conta com as participações de Marcelo Appezzato (Hutt), Jão (Ratos de Porão) e John "The Maniac" Leatherface (Chronic Infect).

Em parceria com a banda grega Stheno, lançou este ano (2017) mais um petardo, o brutal "Primitive". Ao todo são 11 faixas, sendo que, ao Stheno, coube 7 delas, enquanto que a Facada, entra 4 vezes. Musicalmente não há muito o que discutir: pancadaria distribuída à torto e à direito. As duas bandas, oriundas de culturas bem distintas têm similaridades, o que conferiu ao trabalho, bastante linearidade. O disco está sendo lançado por quatro selos ao mesmo tempo.

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O título Nenhum Puto de Atitude de cara  soa como um escárnio típico do grupo, pois, no apanhado de faixas que ouvi no Youtube, pode-se ver que o que não falta aqui é atitude. Tocando covers de nomes como Bad Brains, Titãs, Napalm Death, Sarcófago, Misfits, Dorsal, entre outros, o disco já um dos álbuns mais esperados por este que vos escreve. Na Europa, o álbum está saindo como edição limitada, na qual as primeiras 500 cópias terão cores variadas. Destaque para a arte de capa feita por Vitor Willemann parafraseando o Secos e Molhados em seu disco de estréia.

Agora, com uma visão mais ou menos panorâmica sobre a banda e o que ela representa podemos retomar a argumentação e tentar responder as questões acima propostas :

1) Não há como negar, o nome Facada hoje, é comentado em corredores, becos e ruas das periferias do rock e da música underground no Brasil, com ecos no exterior. Muito provavelmente pela postura dos caras, de acordo com o que eles próprios se definem como banda, e, principalmente, porque parece haver coerência no discurso por eles apregoado.

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2) Não sei se há, de fato, algo de genial na música da banda. Mas de brutal, sem dúvida, há! A mesma brutalidade que consagrou nomes como Napalm Death, e Nasum, entre outros. O fato é que a simplicidade da sua música e a despretensão como projeto musical pode significar, sim, um traço de genialidade. Talvez haja realmente algo de complexo em se fazer o simples. E isto pode simbolizar mais do que um estilo de vida. Talvez, uma visão de mundo! O que certamente deve dar um nó na cabeça de muita gente. Porém, essa questão dá muito pano pra manga e o que nos interessa aqui é a música. Portanto, todas as tentativas de resposta que se formularem em torno do assunto serão vindas. Deixo-os com a excelente versão de Igreja, dos Titãs. Forte abraço.

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Sobre Ricardo Cunha

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