Raízes longínguas: origens das paixões de nossos ídolos
Por Rodrigo Contrera
Postado em 03 de agosto de 2017
Quando eu trabalhava numa editora técnica, tinha uma ideia fixa: conhecer o ambiente mais amplo de onde eu havia nascido (o Chile). Isso levou-me a visitar, com minha esposa, o Uruguai, a Argentina, o próprio Chile, o Peru e o Equador, pesquisando, além de livros, músicas locais. Eu queria conjugar o rock, que era minha grande paixão, com a música andina, patagônica, e folclórica de forma geral. Ainda tenho o charango que comprei em Otavalo, no Equador, e o cavaco que comprei na época, tentando entender o samba de forma geral.
Blackmores Night - Mais Novidades
Eles gostam de fuçar
Ocorre que, assim como eu, muitos de nossos ídolos foram atrás de origens. E com base nisso fizeram suas obras. Claro, eu não fiz ainda nada de tudo o que pesquisei. Mas eles, sim, eles fizeram. Eu sempre soube disso, e por isso nunca hesitei em abandonar o rock, quando ele não pegava bem em mim, e começava a pesquisar em outros gêneros. Isso aconteceu antes do meu período de viagens, quando naveguei pelo blues, em especial pela leva de caras até hoje relevantes das décadas de 60 a 80, e pelo jazz, aqui embarcando nos clássicos mais antigos, e mais aproximados à era das Big Bands (delas, eu pesquisei pouco).
Ídolos que fuçam
Falarei agora algo sobre alguns de nossos ídolos, e de como navegaram por origens que lhes diziam mais respeito. As informações que divulgarei aqui não são inéditas, de forma alguma, nem pretendem sê-lo. São apenas um link para compilações que cada um deve fazer, por si só, e para reflexões que precisamos fazer, caso queiramos utilizar a música para nos aproximarmos ainda mais de nós mesmos.
Eric Clapton
Hoje, o nosso querido bluesman é pego pescando ou andando em cadeira de rodas. Mas houve uma época em que Clapton queria algo mais, naquele rock que despontava, e que encontrava bem longe, no distante blues dos negros (especialmente). Seria um contrasenso eu me meter a entrar nos alfarrábios do blues, aqui, mas cumpre ao citar o nosso querido músico aposentado sua fixação por um sujeito que deixou quase mais lenda que obra: Robert Johnson. Se não me engano, é Clapton que até hoje repete o mantra: o Bob é o maior. Para alguns, como eu, parece difícil apurar essa informação. Mas é algo a ser levado em conta. Não à toa Clapton é até hoje um dos maiores do rock - e também do blues, do seu jeito muito particular.
Ritchie Blackmore
Aqui no Whiplash, o ex-Purple e ex-Rainbow aparece mais por meio de notas que falam do seu jeito chato ou de suas tretas com o Gillan e muitos outros. Mas para mim isso realmente não tem muita importância. Lembro dele da época do Purple e aparecem-me boas lembranças. Mas realmente ele me causa algo a mais quando vejo como soube transformar uma fixação (pela música renascentista e medieval de suas paragens) em algo diferente, o Blackmore's Night. Não que aprecie demais suas viagens com sua esposa. Considero-o mais um diluidor, com o Ezra Pound classifica os artistas de literatura, um sujeito que apostou em algo mas que não acrescentou nada de eminentemente novo. Mas só o fato de ter tentando já me motiva a citá-lo.
John Zorn
Cito aqui um sujeito de outra área, o jazz. Mas cito-o por vários motivos. John Zorn, em primeiro lugar, é um saxofonista de boa cepa. Mas se ele se limitasse apenas a isso seria pouco. John Zorn é um sujeito, na casa dos 60 anos atualmente, que encontrou para si um lugar no jazz experimental. Mas um sujeito curioso, que pegou inspirações nos quadrinhos (os Looney Tunes o embalavam na infância, assim como a mim), nos filmes (especialmente os faroestes e as suas trilhas), e na música judaica (numa pegada que não me atrai tanto). Zorn hoje navega, entre Nova Iorque, Tóquio e a Europa, fazendo o que pode, em boas companhias, e por isso vale a pena ser citado aqui. Até para quem não o conhecia.
Marty Friedman
Já escrevi no Whiplash até bastante sobre este guitarrista que me agrada tanto. Ocorre que, para além de sua presença no Cacophony, de sua carreira solo, e de seu envolvimento com o Megadeth, onde é até hoje lembrado, o Marty tem uma fixação muito clara por outro tipo de música, que não tem a ver com suas origens norte-americanas: a japonesa. Isso fica claro desde que, ao ter saído do Megadeth, começou a apostar num lirismo que o faz girar o mundo rumo a um mercado que gosta tanto dele. Noto que, em sua pegada japonesa, ele também faz jus ao karatê que fiz (e no qual cheguei à faixa roxa) e ao fato de ter casado com uma japonesa por 11 anos. Porque no Marty algo parece meio deslocado, realmente. Algo que o faz soar diferente, de uma forma que tanto me agrada.
Paro por aqui neste breve artigo em que meto-me a mostrar a vocês algo de novos horizontes musicais pelos quais nossos ídolos navegam há muito tempo. E para que paremos de ser tão acirrados em nossas opiniões rasteiras sobre paixões que sempre se tornam o que se tornam por ultrapassarem fronteiras.
Até mais!
PS. Tenho andado muito ocupado, então não consigo mais escrever tão longamente quanto outrora.
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