Revista Metal: algumas resenhas dos anos 1980
Por Ivison Poleto dos Santos
Fonte: Revista Metal
Postado em 25 de junho de 2017
Ricardo Seelig na sua matéria muito bacana chamada "Humor involuntário: as resenhas de discos da Rock Brigade na década de 80", fez uma citação à contemporânea revista Metal que, em alguns momentos, foi tão ou quase, conhecida e lida quanto a Brigade.
Como o assunto é resenha, trago aqui algumas que esta revista fez, entre 1985 e 1988, aos álbuns de lançamento e outros que chegavam ao Brasil, de bandas que hoje são sumidades do gênero. Vale destacar que alguns álbuns resenhados eram importados. É interessante notar que algumas são verdadeiras premonições acertando o futuro de algumas bandas. Além disso, seus resenhistas tinham um estilo mais direto, iam direto na veia quando não gostavam das obras e as criticavam sem dó e piedade. Tempos de politicamente incorreto.
Recordar é viver! Reproduzo aqui trechos das resenhas:
Edição nº 11
Power Of The Night - Savatage
"Preparem seus ouvidos que chegou mais um. A WEA acaba de lançar o disco "Power Of The Night" do grupo americano Savatage. A formação conta com Jon Oliva (vocal e teclados), Criss Oliva (guitarra), Keith Collins (baixo) e Steve Wacholz (bateria).
Antes de pensarem ‘Ih, bandinha com teclado, deve ser comercial!’, ouçam. É uma das pauleiras mais consistentes da nova leva americana. Criss é uma verdadeira fera na guitarra, criando passagens incríveis, sustentado pelo ótimo baixo de Keith Collins: quanto ao batera Steve Wacholz, basta dizer que ele é citado como o "Dr. Killdrums" devido ao autêntico massacre que impõe a seus instrumentos no decorrer do disco.
À chegada de algo como o Savatage, acendem-se as esperanças dos heavies quanto aos lançamentos (não esqueçam que corre por aí que a Metallica assinou com a Elektra, da WEA)".
Edição nº 19
Hell Awaits – Slayer
"Speed Metal "Hell", assim poderíamos chamar o Slayer em seu primeiro álbum "Show No Mercy" (1984), ultra veloz e satânico, dando início a uma reformulação ao estilo heavy metal underground, ou seja, tão hostil como o power metal, só que com mais velocidade nas bases e nos solos.
A banda é da Califórnia, terra onde surgem a cada instante dezenas de grupos de Real e falso metal. E depois do sucesso do "Show...", seu seguinte álbum é o "Hell Awaits", um pouco mais dosado em velocidade, porém excelente como sempre. Não deixa nada a dever ao primeiro.
Destacar uma faixa do álbum fica realmente difícil, pois todas as músicas são muito boas, talvez "Praise Of Death" seja a preferida dos headbangers".
Edição nº 20:
Witch Hunter – Grave Digger
"Estamos aqui falando do novo disco do grande grupo alemão Grave Digger (coveiro), que foi criado por Caris Bolttendahl, dando vida à banda com seu vocal pavoroso e agonizante.
Eles não se consideram uma banda Black metal como todos dizem, pois eles têm bastante influência do grupo alemão Accept.
Este play veio para comprovar a eficiência do grupo. Este mesmo não apresenta nenhuma balada ou comercialismo.
Se você gosta de barulho e do verdadeiro metal vale a pena ter esse vinil junto a sua coleção. Palavra de amigo".
Edição nº 26:
Master Of Puppets – Metallica
"Apesar de diferente de seus dois anteriores álbuns, "Master Of Puppets" não indica que o Metallica tenha sido castrado pela multinacional, muito pelo contrário. O LP é irrepreensível do começo ao fim.
Agora, a faixa título é uma obra-prima, com climas variados, onde o primeiro solo é de James Hetfield, que também faz o 2º solo da instrumental e aprimorou mais ainda os seus vocais. Kirk Hammett comprova sua competência, especialmente nos solos mais calmos. Lars Ulrich é um criativo baterista, perfeitamente encaixado no estilo Metallica.
Daqui a alguns anos, será o Ozzy que terá que abrir para ele".
Edição nº 39:
Metallica – Ride The Lightning
"Acontece que o grupo é bom mesmo. Quem duvidar, é só ouvir com atenção esse Ride The Lightning (de 84), lançado no Brasil conforme METAL já havia antecipado na edição nº 34 para mudar de opinião.
O disco já começa a todo vapor com "Fight Fire With Fire". Na continuação "Ride The Lightning" e "Fro Whom The Bells Tolls" fazem o estilo que nos acostumamos a ouvir do Mteallica: guitarras fortes, muito peso, vocal destacado e melodias chamativas. Fechando o lado – composto, como todo o disco, por longas músicas -, "Fade To Black", que deveria ser copiada e distribuída a todas as bandas heavies do planeta. Trata-se de uma demonstração de como uma banda de rock pesado deve fazer uma balada. O início é lento, quase acústico, crescendo no refrão e se tornando, no todo, um tema de extremo bom gosto.
Na verdade, o grande triunfo do Metallica é conseguir se renovar a cada faixa, trabalhando praticamente dentro de um só estilo mas transpirando criatividade a cada sulco no vinil".
Mutilator – Immortal Force
"Pelas duas músicas incluídas na coletânea Warfare Noise já dava para sentir: a banda é muito ruim. Neste primeiro LP, a sentença se consuma. E, pior, em larga escala.
Mas a crítica se torna mais incisiva quando o vocalista (?) abra a boca. Aparentemente em estado epilético durante as gravações, ele vocifera da primeira à última faixa, como se estivesse em discursando em javanês arcaico, tornando sua péssima pronúncia em um vomitar de frases ininteligíveis.
Quanto ao instrumental, é digno de prantos. O baterista costuma perder o tempo quando o ritmo é acelerado, escorrega nas viradas e é muito, muito pouco criativo. O baixo limita-se a não tentar errar – como explicar as frases mesquinhas e a pulsação safenada? – e não sustenta o peso que um grupo metálico deve possuir. Por último, o guita utiliza-se de harmonias insossas e registros pobres, demonstrando nos solos que é um tanto rápido, mas pouco melodioso e "comedor" de certas notas que realçariam a acentuação rítmica de uma frase.
Enfim, uma banda que nada acrescenta e um disco que faz menos ainda. Aconselháveis somente para surdos. Ou para "metaleiros pós-Rock In Rio"."
Edição nº 40:
Viper – Soldiers Of Sunrise
"O Viper é, sem nenhuma dúvida, uma das melhores bandas Heavy já surgidas em território nacional e, se continuar no mesmo esquema deste excelente álbum de estréia, poderá vir a se tornar a melhor em pouquíssimo tempo, pois talento é que não falta a esses garotos, cuja média de idade não ultrapassa os 17 anos.
Todas as faixas são verdadeiras pérolas de Metal bem-feito, com arranjos bem cuidados, bases sólidas e letras inteligentes, cantadas em inglês. O disco defeitos, é claro – alguns solos ficam mal resolvidos -, mas isso não prejudica em nada o resultado final. Destaque para o vocalista André Matos, cujo perfeito domínio de seus recursos vocais o faz soar diferente e inusitado em cada faixa.
E pensar que tudo isso foi feito por garotos que nem têm idade para se barbear... Imaginem quando eles ficarem mais velhos!
Savatage – Hall Of The Mountain King
"Depois do fraco Fight For The Rock, confesso que passei a torcer o nariz a tudo que se referisse ao Savatage desde então. Por isso, quando Hall Of The Mountain King apareceu aqui na redação, só aceitei criticá-lo porque a distribuição de trabalho em nossa equipe é feita do modo mais democrático possível: no palitinho. E vocês querem saber de uma coisa? Nunca, em toda a minha vida, fiquei tão satisfeito em perder um joguinho...
Hall... pode não ser um disco perfeito se comparado a preciosidades como Sirens, The Dungeons Are Calling, mas pelo menos mostra que a banda resolveu tomar vergonha na cara e para de visar as FMs".
Na edição de aniversário, nº 48:
Appetite for Destruction do Guns N' Roses
"Com muitas tatuagens no braço e muito - mais muito - Led Zeppelin nos ouvidos, a banda americana Guns N' Roses chega até nós com seu primeiro disco Appetite For Destruction. De cara, esse disco ratifica o que já bem sabemos: o hard rock/heavy tradicional está mais vivo que nunca.
Já a guitarra tem como grande qualidade a adequação: se a música pede um solo acelerado, Slash escancara na velocidade; se o ritmo é mais cadenciado, o guitarrista não tenta se exibir.
Por essas e outras que Appetite For Destruction é um dos mais interessantes discos de estreia de bandas americanas".
I'm The Man do Anthrax
"Muito se reclamou do último disco do Antharx, I'm The Man. 'Traidora' e 'oportunista' foram as declarações mais leves que a banda acabou ouvindo. E tudo isso pelo fato da faixa-título - que aparece em três versões diferentes - ser um hip-hop.
Só que o buraco é bem mais embaixo. O grande problema é que, independente de qualquer radicalismo, o Anthrax é simplesmente medíocre quando se mete por esse ritmo. Se o Aerosmith, por exemplo, conseguiu um resultado mais do que audível quando resolveu dobrar fileiras com os hip-hoppers do Run-DMC, a banda novaiorquina não tem o menor cacoete pro negócio e, além de botar os pés pelas mãos, perdeu com certeza alguns fãs.
(...) Duas são versões, também ao vivo, de "Caught in a Mosh" e "I’m The Law" que se mostram absolutamente inexpressivas. E a outra é mais do que uma pisada no tomate. É um completo sapateio na maionese. Trata-se da regravação de "Sabbath Bloody Sabbath" que virou um atentado à moral e aos bons costumes. O ritmo arrastado, as guitarras sem garra e o vocal totalmente descompromissado com os princípios básicos da afinação dão motivos suficientes para que Ward, Iommi, Butler e Osbourne movam um processo por injúria, calúnia e difamação contra seus detratores musicais".
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps