Max Bloody Roots: possuído por sua arte
Por Caio "Subterraneans"
Postado em 31 de janeiro de 2014
O que faz com que um artista seja realmente autêntico, sincero e forte em sua arte? A ligação que alguns indivíduos possui com aquilo que fazem é tão intensa que os fãs e admiradores já não esperam somente mais um trabalho, esperam algo muito mais poderoso, mais surpreendente e mais arrebatador. Assim é Massimiliano Cavalera, ele está sempre subindo degraus, escalando possibilidades e desafiando a acomodação criativa.
Não é a toa que ele é o protagonista das duas maiores bandas brasileiras de Metal com projeção internacional, o Sepultura e o Soulfly. Bem diferente dos artistas que gostam de se amarrar aos clichês do estilo, Max escapa do convencional e lança-se de corpo e alma em experiências estéticas e sonoras ousadas.
Conheci o Sepultura em 1991 com o disco Beneath the Remains, sem saber exatamente que era uma banda brasileira. A primeira audição foi uma experiência devastadora, não entendi direito aquela sonoridade, eu disse: Que porra é essa!? Mas, gostei! Tudo muito pesado, soturno, agressivo, veloz e gutural. Estava ali naquelas faixas algo que me acompanharia desde então: uma espécie de confiança e respeito pela capacidade criativa de Max.
Vieram então Arise e Chaos A.D., discos sintonizados com profundas demandas estéticas que sondavam o mundo. Arise, um puta disco de Thrash Metal inspirado por um ódio combativo, permeado por uma expressão gutural singular e furiosa. Chaos A.D., um salto sonoro extraordinário recheado com elementos industriais e temática social mais lúcida e direta, um disco chocante com todos aqueles toques tribais na bateria.
Biotecnologia é Godzilla, letra de Jello Biafra com rifferama sepulturesca, diz:
Encontro no Rio, em 92
Mendigos raptados e escondidos
"Salvar a Terra", nossos governantes
se encontraram, mas alguns tinham
Outros planos secretos...
Não... Não... Não... Não
Biotecnologia... O que?
...
Mutações são criadas em laboratórios
Dinheiro... experimentos malucos
Novas comidas e remédios?
Novos germes e acidentes!
...
Como em Cubatão, a "cidade
mais poluída do mundo"
O ar se funde na sua cara
Crianças deformadas por toda parte
A biotecnologia não é tão má
Como todos as outras tecnologias
ela está em mãos erradas
Presente no Chaos A.D., as sementes para a busca das próprias raízes já haviam sido lançadas por meio da música Kaiowas e o tronco dessa poderosa árvore plantada por Max manifesta seu vigor no disco Roots de 1996. Uma das coisas mais selvagens que já ouvi em toda vida! Não tenho certeza que algum outro disco vai superar o impacto sonoro e estético que esse provocou em mim. Eu disse mais uma vez: Que porra é essa!? O Roots não é somente um disco, as faixas não são somente músicas... tudo ali vai além. a experiência com a tribo dos índios Xavantes durante três dias pirou os caras e proporcionou a produção de um disco vivo, furioso, cheio de alma, encarnado.
O termo "pesado" ganha aqui uma perfeita definição. Os elementos percussivos – contribuição de Carlinhos Brown – acrescentam ao conjunto de características do Metal um groove completamente inovador. A brasilidade ritmica está presente, justificando o título do trabalho.
Raizes, sangrentas raizes
Raizes, sangrentas raizes
Raizes, sangrentas raizes
Raizes, sangrentas raizes
Eu acredito em nosso destino
Não precisamos disfarçar
É tudo que queremos ser
Me veja enlouquecer
Eu digo que estamos crescendo todo dia
Ficando fortes de todas as formas
Vou te levar para um lugar
Onde devemos achar nossas
Raizes, sangrentas raizes
Raizes, sangrentas raizes
Raizes, sangrentas raizes
Raizes, sangrentas raizes
Chuva
Traga-me a força
Pra alcançar mais um dia
E tudo que quero ver
Nos liberte
Por que?
Não pode ver?
Não pode sentir?
Isso é real
Aaah
Eu rezo
Nós não precisamos mudar
Nossas maneiras para ser salvos
É tudo que queremos ser
Nos veja enlouquecer
Mundialmente, o disco proporcionou aos ouvintes uma experiência antropológica com toda ordem de excentricidades étnicas. O Brasil, como nunca, foi divulgado em toda sua complexidade cultural, fundindo a urbanidade do Metal com a percussividade tribal. Um disco que trata a identidade brasileira – notadamente as identidades tribais – como algo a ser valorizado, preservado e enaltecido. Roots é extremamente ambicioso em suas intenções e genuinamente feliz em sua concepção.
Na minha opinião, o juvenil Max Possessed do Bestial Devastation é o mesmo Max Cavalera do Roots e o mesmo do Soulfly, ou seja, um músico possuído por sua arte desde sempre: arte encarnada, arte de tribo, arte fundida ao espírito desejando lançar novos vôos musicais.
Mas, o que faz mesmo com que um artista seja realmente autêntico, sincero e forte em sua arte? RAÍZES, SANGRENTAS RAÍZES! Ele justifica em sua autobiografia:
"A minha atração inicial pelo heavy metal surgiu por causa da situação em que me encontrava. Estava puto da vida e então a música assumiu o controle, falando diretamente à minha alma. Estava furioso e, de início, ouvia música apenas como uma válvula de escape. Depois, quando descobri que poderia me expressar com guitarra, vocais e letras, tudo mudou, cara. Ganhei uma arma, ganhei uma voz. Ganhei uma nova maneira de pensar." (My Bloody Roots. Ed. Agir, 2013).
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