Skyclad
Postado em 06 de abril de 2006
Por Sílvio Costa
Uma das primeiras bandas a acrescentar elementos folclóricos ao heavy metal, o Skyclad surgiu em Newcastle upon Tyne (Inglaterra). Martin Walkier, ex-vocalista da seminal banda de thrash Metal Sabbat resolveu convencer Steve Ramsey, guitarrista da banda de NWOBHM Pariah a formar um novo grupo. Eles recrutaram o baixista Graeme English e assim estava formado o núcleo do Skyclad. A idéia original era misturar os estilos das duas bandas (Pariah e Sabbat) e acrescentar outros elementos, como a música folclórica da velha Inglaterra, música cigana e muitos outros elementos atípicos nas bandas que faziam som pesado naquela época. Estamos no início de 1990.
Em dezembro deste mesmo ano, eles recrutaram o baterista Keith Baxter e entraram em estúdio para gravar o primeiro álbum, de uma série de cinco contratados pela Noise Records. Lançado em fevereiro de 1991, The Wayward Sons of Mother Earth apresentava um thrash metal vigoroso, com sutis intervenções de teclados e violinos (a cargo de um músico de estúdio chamado Mike Evans). A primeira tour incluiu uma apresentação como headliners na Holanda – algo raro, em se tratando de uma banda iniciante. A gravadora ficou surpresa com as vendas e apressou o grupo, para que eles lançassem logo o segundo álbum.
Desde o início chama a atenção o fato de o Skyclad ter à sua volta um grupo de pessoas que estariam constantemente envolvidas com a banda, mesmo não integrando diretamente o grupo. Kevin Ridley produziu todos os discos, Duncan Storr – de estilo inconfundível - fez todas as capas e o estúdio Lynx, em Newcastle, foi utilizado para gravar quase todos os discos da banda. Essa regularidade é uma marca no Skyclad tanto quanto qualquer outro elemento do seu som.
A Burnt Offering for the Bone Idol foi lançado em 1992. Agora a banda já contava com um segundo guitarrista (Dave Pugh) e com uma violinista fixa. Fritha Jenkins, uma jovem estudante de música, encaixou-se perfeitamente na banda, com seu estilo único de tocar. A Burnt Offering for the Bone Idol traz alguns dos primeiros clássicos do Skyclad, como "Spinning Jenny", "The Declaration of Indifference" e "Alone in Death’s Shadoul". Distanciando-se ainda mais do thrash metal que ainda era forte no álbum de estréia, aqui o grande destaque é mesmo Fritha Jenkins e seus riffs e solos maravilhosos. Desta vez, a tour incluiu aberturas para bandas como Gamma Ray e Manowar e mais uma série de apresentações como headliners na Alemanha, Holanda e Inglaterra. As vendas deste segundo álbum foram ainda melhores e o Skyclad se tornou uma banda largamente conhecida no underground europeu.
Jonah's Ark é lançado em 1993. Desta vez a banda mergulhou ainda mais nas raízes folk e nas influências de música cigana, o que influenciou inclusive no visual da banda. Foi nessa época que o Skyclad fez três apresentações no legendário Marquee Club de Londres. Neste período a banda enfrentou a primeira baixa na formação. Fritha Jenkins estava enfrentando dificuldades em conciliar a carreira na banda com as obrigações de mãe. Ela se comprometeu a finalizar a tour, mas deixou a banda no início de 1994, tornando-se mãe em tempo integral.
Com Cath Howell assumindo os violinos e teclados, a banda grava Prince of the Poverty Line. Tido por muitos fãs como o melhor álbum desta primeira fase da banda, aqui a opção foi criar bases mais melódicas para as letras de Walkier, cada vez mais ácidas, sem perder o bom humor. "Land of the Rising Slum" e "One Piece Puzzle" (uma das letras mais interessantes do Clad) são algumas das músicas que ficaram mais conhecidas nas apresentações ao vivo do grupo. Nesta época eles fizeram uma grande apresentação da Grécia e também se apresentaram em Milão, abrindo para Yngwie Malmsteen, cujo ego gigantesco e rabugice constante o transformou no principal assunto das piadas e comentários sarcásticos do sempre boa-praça Martin Walkier. Alguns problemas, entretanto, marcaram a banda nesta época. Primeiro foi a saída de Cath Howell, que decidira dedicar-se mais aos estudos. Além disso, enquanto mixavam o novo álbum nos EUA, o estúdio foi arrombado e todo o equipamento roubado. Como se não bastasse, Keith Baxter decidiu deixar a banda assim que as sessões de gravação do disco novo estivessem concluídas. Em seguida foi a vez de Dave Pugh abandonar o barco, juntando-se ao Loadstone com seu irmão.
O quinto álbum – o último compromisso contratual com a Noise Records – apresenta a estréia da violinista Georgina Biddle. Silent Whales of Lunar Sea apresenta nova mudança no direcionamento, mas sem perder o pique dos três álbuns anteriores. Algumas letras são verdadeiras pérolas, como no caso de "Brimstone Ballet", "Desperanto" e "Just What Nobody Wanted". Se Martin está escrevendo cada vez melhor, o mesmo se pode dizer das composições e solos inspirados de Ramsey, que encontrou em George (como a violinista é conhecida) uma parceira perfeita. Os riffs que ambos criaram pra este disco se encaixam perfeitamente e os solos dobrados de guitarra e violino – uma característica marcante neste disco – ficaram lindíssimos. Na tour, o destaque foi a apresentação no Dynamo Open Air (que virou o CD Another Fine Mess, lançado em 2001), com o baterista Jed Dawkins e o guitarrista Dave Ray, ambos do grupo de rock progressivo Inner Sanctum. Mas Jed e Dave não permaneceriam no grupo, apesar de terem participado do raríssimo EP Outrageous Four Tunes. A coletânea Old Rope marca o rompimento do grupo com a Noise Records e o início de uma nova fase para o agora quarteto.
Depois do pequeno motim vivido no ano anterior, o Skyclad, agora contratado pela Massacre Records, lança Irrational Anthems. As letras de Martin foram ficando cada vez mais pessoais e, conseqüentemente, ainda mais ácidas. Algumas são divertidíssimas, como "Penny Dreadful" em que se fala da saturação da cena musical européia e da falta de cuidado de algumas bandas que estavam no topo do mainstream daquela época (o disco foi lançado em 1996, época que assistiu à ascensão de bandas como Offspring, NOFX, Green Day, etc.). Alguns fãs se ressentem da falta de peso neste disco, mas isso não seria nada quando comparado ao disco lançado ainda naquele mesmo ano.
Em Oui Avant-Gard à Chance (o título, aparentemente em francês, não possui nenhum significado neste idioma. A pronúncia, no entanto, lembra algo como "não tivemos chance", em inglês), a banda radicaliza na presença do folk no seu som. Dominado por guitarras acústicas, exceto, talvez, na primeira faixa (a genial "If I Die Laughing, It´ll be an Act of God"), o disco não apresenta a fúria e o peso que os fãs estavam acostumados a ouvir nos álbuns anteriores. Ainda assim, é um disco delicioso de se ouvir, graças às sempre muito bem escritas letras de Martin e à participação do lendário grupo de folk rock alemão Subway to Sally. A banda deixou de lado os grandes festivais europeus e voltou a tocar em pequenos clubes e pubs, como fazia no início da carreira.
The Answer Machine?, de 1997, é um disco que recupera um pouco o peso quase ausente no álbum anterior, mas sem perder as características marcantes do folk e das melodias intrincadas presentes em Oui... a atmosfera aparentemente alegre de algumas músicas (como o petardo "Building a Ruin") escondem algumas das letras mais depressivas (e mais belas) já escritas por Walkier. A tour inicialmente incluiria os primeiros shows da banda fora da Europa, incluindo algumas apresentações na América do Sul, mas tais shows jamais chegaram a acontecer.
"Anno 1999, a classic year for vintage whine". Era assim que Martin anuncia o novo disco do Clad, Vintage Whine tem um pouco daquele clima perdido em Irrational Anthems. A banda está mais descontraída e agora conta com Kevin Ridley na segunda guitarra, reforçando e estabilizando a formação. Agora a banda também passa a contar com um baterista fixo, Jay Graham. A banda volta aos grandes festivais europeus (o Metal Gods italiano, o Wacken alemão e o Dynamo Open Air, na Holanda) e parece pronta para continuar na estrada.
Martin demonstra mais uma vez porque é um dos mais geniais letristas da música pesada ao batizar o próximo disco da banda de Folkémon. Recheadas, como sempre, de sarcasmo, ironias e trocadilhos dos mais infames, as letras deste disco discutem um pouco a alienação em que vivemos nos dias de hoje. Algumas canções são um convite à reflexão, como "The Great Brain Robbery" e "Antibody Politic". É uma pena que este disco marque a saída de Martin do grupo. Insatisfeito com as decisões que seus colegas vinham tomando, ele decide abandonar o Skyclad e reviver, jundo com o legendário Andy Sneap, sua antiga banda, o Sabbat. Além dele, Jay Graham também deixou a banda em 2001
O Skyclad viveu um período de expectativa, mas a banda decidiu continuar. Agora com Kevin Ridley nos vocais. Em 2002 essa formação se reuniu no Lynx estúdios para gravar No daylights...Nor Heeltaps. Trata-se de uma coleção de clássicos do Skyclad com novos arranjos e com a voz de Ridley. Agora, em 2004, a banda se prepara para lançar o primeiro disco com material inédito desde 2000. As expectativas em torno de A Semblance of Normality são muito grandes. Todos se perguntam se a banda vai manter a mesma qualidade – tanto nas letras quanto no instrumental – dos álbuns anteriores e continuar a oferecer aos fãs discos absolutamente originais e cheios de grandes idéias.
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