New Model Army
Postado em 06 de abril de 2006
Por Márcio Baraldi
A história do rock está repleta de bandas excelentes que infelizmente, por um motivo ou outro, não alcançaram o merecido sucesso, são as famosas bandas "injustiçadas". E em meio a tantas que compõe essa lista, vale destacar o soberbo New Model Army, que acaba de lançar lá for a seu 8º álbum de estúdio, "Eight".
Uma das bandas mais inflamadas e estimulantes de todos os tempos, o NMA é o elo perdido entre o Clash e o Rage Against the Machine, fazendo de suas canções, verdadeiros hinos libertários; e de sua existência uma missão quase sagrada. Ausentes do mercado brasileiro há muitos anos, talvez os leitores mais novos só os conheçam pelo hit "51th State", por isso vale a pena dar uma geral rápida na carreira desse incendiário power trio.
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Formada no subúrbio industrial de Bradford (o ABC paulista da Inglaterra) em 1980 por Justin Sullivan (mais conhecido como Slade, the Leveller), vocal e guitarras, Rob Heaton, bateria e guitarras, e Stuart Morrow, baixo; a banda roubou seu nome homônimo do exército revolucionário inglês do século 17, cujos membros eram conhecidos como "levellers" (niveladores ou igualitários) pois pregavam um modelo de sociedade sem diferenças sócio-econômico-cultural.
Esquerdistas de carteirinha e politizados até a medula, a bandas começou com um punk rock crú e urgente, porém com características próprias bem marcantes, como uma bateria militar galopante e linhas de baixo extremamente agudas e acrobáticas, o que lhe conferiu desde o princípio uma sonoridade peculiar e inconfundível. As letras então, eram um capítulo a parte, pois o verborrágico e extremamente culto Slade consumia Bob Dylan em altas doses, tornando-se em pouco tempo, ao lado de Jello Biafra (Dead Kennedys) e do próprio Dylan, um dos melhores e mais lúcidos letristas da história do rock. Nada escapava de sua artilharia lírica: do imperialismo yankee às dificuldades da vida em família; da guerra das malvinas às estupidez do uso das drogas.
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Mas nem tudo eram flores, depois de gravarem dois discos "Vengeance" (1984) e "No rest for the wicked" (1985), o genial baixista Morrow deixa a banda. Imediatamente recrutaram Jason Harris para seu posto, que o substituiu com extrema competência. Passaram então a incorporar cada vez mais folks celtas e ciganos em seu trabalho, crescendo como músicos e alcançando uma sonoridade muito mais madura e consistente e cada vez mais original e viril. Com essa formação, transbordando energia e criatividade, gravaram 3 discos impecáveis: "The ghost of Cain" (1986), "Thunder of Consolidation" (1989) e o mini-lp "White Coats" (1987).
Em 1989, porém, é a vez de jason deixar a banda e entrar o baixista nelson em seu lugar, com quem vieram tocar no Brasil em 1991, em 3 shows antológicos. Com a nova formação gravaram "Impurity" (1990), "The Love of hopeless causes" (1993) e "Strange Brotherhood" (1998). No final de 1998, nosso bravo exército sofre mais uma baixa, dessa vez o batera Rob Heaton, um dos fundadores da banda, sai para se dedicar a seu novo projeto musical "Gardeners of Eden". Em seu lugar entra seu roadie Michael Dean, com quem acabara de gravar "Eight" (2000).
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Infelizmente, apesar da altíssima qualidade, originalidade e inteligência de sua obra, o NMA continua uma banda cult, pouco (re)conhecida for a da Inglaterra. Mas eles não se importam com isso, sempre tiveram uma postura rígida e nunca adimitiram qualquer interferência das gravadoras para "comercializar" mais seu som (seus contratos com as gravadoras chegavam a incluir uma cláusula que lhes garantia total liberdade de criação), recusaram muitos programas de TV com os quais não simpatizavam e nunca tiveram papas na língua, corneteando duramente contra o governo, multinacionais, gravadoras, mídia, modismos e tudo mais com o qual não concordavam.
Seu carinho e lealdade, no entanto, guardaram sempre para os fãs em todo o mundo, chegando a interromper o show e a pular do palco para defendê-los de seguranças truculentos.
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No entanto todo esse caráter e atitude, tão raros atualemte tiveram seu preço: foram ignorados por boa parte da crítica, tivera músicas banidas de inúmeras rádio, são boicotados nesses famosos festivais patrocinados por cigarros (por serem abertamente contra o fumo) e chegaram a ser proibídos de entrar nos EUA. Em compensação tocaram (e tocam) em prol de todas as causas justas, possíveis e imagináveis: festivais ecológicos, anti-drogas e anti-racismo, sendo considerados a maior banda underground da Inglaterra, onde continuam entricheirados, gravando por selos independentes. Aliás, a independência sempre foi a palavra chave para o New Model Army. Afinal, não é justamente para defendê-la que surgem exércitos revolucionários?
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