Marcelo Nova
Postado em 06 de abril de 2006
Por Carlos, o Chacal
Marcelo Nova, o motor que fez girar a máquina chamada Camisa de Venus durante anos, resolveu formar sua primeira banda de rock quando ouviu um disco do Rolling Stones. Não a formou, mas passou tardes inteiras tocando guitarra com a raquete de tênis de seu pai ao som de "Satisfaction".
Seu primeiro disco foi de Little Richards, quando tinha oito anos de idade. Suas principais influencias foram Chuck Berry, Little Richards e o único artista brasileiro que o influenciou foi Raul Seixas, com o qual tinha uma grande e eterna amizade.
Marcelo Nova que nunca se considerou um cantor, já lançou uma dezena de discos, sem contar as coletâneas e os discos gravados ao vivo. Em 1988, com o fim do Camisa de Vênus, iniciou sua carreira solo com o disco "Marcelo Nova e a Envergadura Moral", uma obra com um número maior de baladas do que rock ‘n roll, falando mais dele próprio e de sua visão do mundo. Um disco pra dentro, intimista, reflexivo, já que na época do Camisa de Venus suas composições eram mais criticas políticas e sociais. Este disco que contou ainda com Genival Lacerda na gravação da faixa "A gente é sem Vergonha", de autoria do próprio Genival.
A grande amizade entre Marcelo e Raul Seixas começou como adimiração, na época de Raulzito e seus Panteras. Marcelo Nova não o conhecia, e ia aos shows na Bahia. Depois das apresentações ia até o palco apertar a mão de Raul.
Quando certa vez o Camisa estava tocando no Circo Voador e Raul foi ver, Marcelo o chamou para o palco, mesmo não acreditando que Raul iria. Mas para surpresa de todos, Raul subiu ao palco e eles tocaram, na base do improviso, um medley de rock‘n roll misturando "Long Tall Sally" com "Be-Bop-A-LuLa" e "Tutti Frutti". Marcelo ficou tão emocionado que não conseguia cantar nada.
Depois disso, em 1984, Marcelo foi ao último Show de Raul em São Paulo e quando foi cumprimenta-lo, acabaram trocando endereços. Ficou surpreso quando num Domingo, às 11 da manhã, Raul, Tony Osanah e suas respectivas esposas bateram à sua porta.
Em 86 o Camisa de Vênus gravou "Ouro de Tolo", de Raul, e no ano seguinte Marcelo compôs a letra e Raul a música de "Muita Estrela, Pouca Constelação". Depois disso os dois não pararam e fizeram mais de 50 shows juntos
Finalmente chegou o tão esperado disco em parceria, exatamente em setembro de 1989. Marcelo Nova e Raul Seixas gravaram o disco "A Panela do Diabo". Uma pérola do Rock ‘n Roll nacional, reunindo as idéias e pensamentos desses dois gênios da música brasileira. Raul morreu dois dias antes do lançamento deste álbum.
Marcelo considera "Panela do Diabo" um disco que determinou muito em sua carreira musical, e é um trabalho do qual se orgulha muito. Além de ter sido um sonho pessoal, Raul nunca gravou junto com mais ninguém. Não gosta de ser considerado o herdeiro de Raul Seixas, como a mídia costuma classificá-lo. Marceleza diz que a capacidade que Raul tinha de se comunicar com todas as classes sociais e a dimensão de sua obra não deixam herdeiros.
Marcelo era existencialista e Raul um místico, mas certa vez Raul dissera numa entrevista que se identificava com o seu texto. Marcelo e Raul sempre estiveram à margem da mídia e dos modismos de época, carregavam isso com muito orgulho. Fizeram 50 shows e foram assistidos por mais de 200 mil pessoas e nunca tiveram uma matéria na Rede Globo. Não queriam conquistar o mundo, sabiam de suas limitações porque nunca se deixaram embriagar pelo sucesso. Raul e Marcelo Nova foram o primeiros letristas a imprimir pertinência, sarcasmo e um senso crítico afiado ao rock brasileiro.
Já na década de 90, mais precisamente em 91, lançou "Blackout", que pode ser considerado o primeiro disco acústico brasileiro, lançado muito antes do modismo de acústicos que viria invadir a música do país. Era Marceleza mudando a cena novamente.
Chegou a ser diretor de um selo, da gravadora Continental, a convite de Matheus Nazareth. Foi com esse selo que foi lançado seu álbum "Blackout", só que quando Marcelo iria começar a gravar para outras bandas, Matheus saiu da gravadora e como conseqüência Marcelo foi junto.
Em 1994 seria lançado "A Sessão Sem Fim". Dessa vez o som é mais pesado, traz músicas eletrizadas, com um grande ganho com a inclusão do guitarrista Luiz Carlini e participação especial de Drake, filho de Marcelo, na faixa "Drake's Boogie".
Em 1998 saiu "Eu vi o futuro baby, ele é passado" A inspiração de fazer o disco veio quando viu um feto na ultra-sonografia e ficou pensando que ele pulsava num ritmo exato, não tinha futuro, nem passado, era um ponto de luz. Reunindo recortes musicais de seus 18 anos de carreira, Marceleza revê sucessos e resgata antigas canções, para isso ele montou uma banda procurando músicos com mais habilidade técnica para permitir outros "vôos".
Marcelo Nova continua até hoje na ativa, compondo, e com certeza virão ainda novos discos por aí. Ele estará sempre incomodando com suas criticas e sua constante luta contra o conformismo do povo brasileiro. Um autêntico roqueiro que ainda tem muito de sua genialidade para mostrar ao mundo, mesmo com todo o descaso da mídia.
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