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Paralamas Do Sucesso

Por Airton Jordani
Postado em 06 de abril de 2006

Os Paralamas do Sucesso surgiram em uma pequena cidadezinha do Rio de Janeiro, Seropédica (fica a mais ou menos 1 hora da Capital), mais precisamente no Campus rupestre da Universidade Rural. O ano era 1981, João Barone assistiu a uma apresentação (e gostou muito) do que posteriormente tornaria-se Os Paralamas do Sucesso. Naquela época, faziam parte da banda Herbert na guitarra e vocais, Bi no baixo e Vital (sim, existe um Vital!) na bateria. Mas, num deslize de Vital (faltou a uma apresentação no Festival Universitário), João Barone, as baquetas mais rápidas da América Latina, assumiu prá sempre o posto nos Paralamas. Não podemos deixar de ressaltar o mérito de Brasília, a Seattle brasileira dos anos 80 (segundo Ana Maria Bahiana), afinal, de lá, veio o Bi, filho de diplomata, e o Herbert (apesar de ser de João Pessoa/Paraíba, passou por lá), filho de um militar da Aeronáutica, veio também o imortal Legião Urbana e muitos outros ícones da Geração Rock dos anos 80 do Brasil.

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Em seguida, Herbert Vianna conheceu Maurício Valladares que levou uma fita demo para a Rádio Fluminense, onde os Paralamas foram muito bem executados e caíram nas graças dos ouvintes. A demo continha 4 músicas, sendo uma delas Vital e Sua Moto. Logo após houve uma apresentação bem sucedida no Circo Voador/RJ. Graças a essa popularidade, a banda conseguiu um contrato com a EMI-Odeon e lançou, em 1983, seu primeiro LP: Cinema Mudo.

Alguns meses depois, já no ano de 1984, veio o segundo LP da banda, mais refinado e melhor acabado que o primeiro, chamado O Passo do Lui, que contém um punhado de sucessos ouvidos até hoje nos shows dos caras (incluídos neste: Óculos, Meu Erro, Fui Eu, Romance Ideal, Ska, Me Liga, Assaltaram a Gramática, entre outros). As vendas foram muito superiores ao primeiro LP, e isso rendeu uma participação no maior festival de rock que o Brasil já assistiu - o Rock in Rio, em 1985. Os Paralamas, uma banda com menos de 3 anos de estrada, dividiria o palco com bandas como o Scorpions e o AC/DC e tocaria para um público de mais de 140 mil pessoas. A aceitação foi excelente, e eles se consagraram como os melhores "made in Brazil".

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Em 1985, em meio a sensação de indignação geral que o país vivia, foi lançado Selvagem?, um disco com a radiografia socio-política do Brasil. Selvagem, Alagados, Teerã e a Novidade falam de maneira franca e aberta das nossas piores feridas. Nessa verdadeira obra-prima da história da música nacional, ainda podemos desfrutar uma homenagem ao rei do soul brasileiro, Tim Maia, através da eterna Você. O disco contém hits inevitáveis como Melô do Marinheiro, e uma música linda chamada O Homem, que nunca chegou a estourar, mas é fantástica. Esse disco vendeu mais de 528.000 cópias.

Com toda essa bagagem, Os Paralamas foram convidados para tocar na Suíça, no Festival de Montreaux de 1987, onde foram muito bem aceitos pelo público. Esse show estupendo rendeu o primeiro disco ao vivo dos Paralamas, o D, e um vídeo, o V. O D, contém gravações esplêndidas de Alagados (que tem como música incidental De Frente pro Crime, de João Bosco), Charles, Anjo 45 (do então esquecido pelo público Jorge Ben), a inédita Será Que Vai Chover (em duas versões - ao vivo e em estúdio), e ainda Ska (que contou com o sax afiado de George Israel, do Kid Abelha).

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Veio então o Bora-bora, em 1988, um banquete rítmico (novamente um conceito da Ana Maria Baihana). Aqui, o Paralamas se assume como uma banda de som mais complexo e elaborado, com a participação intensa de metais e teclados que deixaram de ser meros coadjuvantes. Apesar de conter grandes músicas como O Beco, Um a Um (uma espécie de pai de "Uma Partida de Futebol do Skank"), Uns Dias e Quase Um Segundo (ambas com endereço certo - a então recente ex-mulher, Paula Toller do Kid Abelha), o disco não obteve o mesmo sucesso de seus dois antecessores.

A década de 80 foi fechada com Big Bang, um LP com uma qualidade musical superior, que nos oferece pérolas "paralamíticas" como Lanterna dos Afogados (a mais linda canção já escrita nesse Brasil, na humilde opinião deste que vos comenta), Perplexo, Pólvora, Se Você Me Quer (um sambinha simpático, dono de uma letra muito lindamente poética), Rabicho do Cachorro Rabugento (uma espécie de pai do "calango" protagonizado pelo Skank, na música "O Homem Que Sabia Demais").

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Os Grãos, lançado em 1991, é um disco de transição. Tem hits de novela como Tendo a Lua, tem Trac-trac (versão da música homônima de Fito Paez), Carro Velho (muitíssimo divertida). Apesar disso, o mercado estava em crise no Brasil; passávamos pela ressaca do Plano Cruzado; recessão e falta de grana eram as palavras de ordem em nosso país.

Os anos se passavam, e os Paralamas não conseguiam reencontrar-se com o sucesso no Brasil. No entanto, na Argentina, eles haviam se tornado Paralamas verdadeiramente DO SUCESSO. Dois discos bem vendidos (Paralamas e Dos Margaritas) e shows para milhares de pessoas faziam parte da rotina do trio "argentino" (Herbert Vianna preocupou-se em aprender o espanhol a fundo, para não chegar na Argentina como "Los Brasileiritos del Pelourito", nas palavras dele mesmo - prova disso, é que muitos argentinos não sabiam que eles eram brasileiros!).

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Em 1994, eles lançaram Severino, um disco cheio de influências nordestinas, com letras políticas e melodias que poderiam ser classificadas como "antipáticas" pelos fãs dos Paralamas da década de 80. Ainda assim, é um trabalho extremamente conceitual, parada obrigatória na carreira das grandes bandas. Poderíamos destacar Cagaço (que mesmo com esse nome ganhou um clip no programa Fantástico , da rede Globo de TV), Vamo Batê Lata, El Vampiro Bajo el Sol (com um arranjo no melhor estilo do "maestro" Fito Paez, a balada romântica O Amor Dorme, e versões em espanhol de Go Back e Casi Un Segundo. Comercialmente foi um total fracasso.

Os fãs já imploravam a volta da simplicidade, quando eles lançaram Vamo Batê Lata, um CD ao vivo, acompanhado de um CD bônus com 4 faixas inéditas. Os velhos clássicos ganharam roupagem nova: A Novidade virou samba-reggae dançante, com muito swingue; Meu Erro ganhou a companhia de Soul Sacrifice do Santana, a "imelhorável" Lanterna dos Afogados ficou mais perfeita ainda; Um a Um recebeu como abertura o dedilhar poético de Se Você me Quer em seu início e, de quebra, Você virou um "medley" do Tim Maia, ganhando a companhia de Gostava Tanto de Você. Ah! Já ia me esquecendo: o CD bônus!! Uma Brasileira (que revela a fusão do ska-reggae "paralamítico" com a nova língua de Brown - com a pitada melódica da voz de Djavan), Saber Amar (uma poesia sobre o quanto é simples amar e ser amado); Luís Inácio, 300 Picaretas, a polêmica e proibida música, cheia de samplers e tendência dance, que tem por base a denúncia de Lula, sobre a corrupção em nosso congresso nacional - as minúsculas são propositais) e Esta Tarde, balada simpatissíssima. As 800.000 cópias vendidas dão a perfeita dimensão do que foi a aceitação deste CD no mercado brasileiro. SUCESSO! Paralamas do SUCESSO, o nome predestina.

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Em 1996, 9 Luas, o CD pós reencontro com o sucesso. Perfeito! Não tenho palavras para descrever, mas vou tentar! 9 Luas é fantástico do início ao fim. Começa com a contagiante versão samba-reggae de Parate y Mira, chamada Lourinha Bombril (os gringos devem ter se mordido de inveja ...), que foi a grande vencedora do MTV Video Music Awards - Brasil, tem Outra Beleza (com o eterno contemporâneo Lulu Santos que vai do calipso ao samba com a naturalidade de quem sabe tudo da música pop brasileira); La Bella Luna ("como é bonitinha !", diriam as meninas); De Musica Ligera (prá mostrar que eles tocam rock como ninguém); Capitão de Indústria (um resumo do meu cotidiano - meu e de outros milhares de brasileiros); Busca Vida (pela riqueza de arranjo e vocais, poderia ser tranquilamente uma música dos Beatles); Seja Você (uma sinopse do teorema do amor ideal) e por último, Um Pequeno Imprevisto ("... no céu havia 9 Luas, e nunca mais eu encontrei minha casa..."). E assim como a Ana, deixo as palavras finais sobre o 9 Luas com o próprio Herbert: "Eu relembrei ou revivi a capacidade que a gente tem de produzir canções simples. Boas, bem acabadas, simples. A gente descobriu o prazer simples de fazer uma boa canção."

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Veio então A Pólvora, a caixinha com os 8 primeiros CD´s, remasterizados em Abbey Road (olha os Beatles aí de novo ...). Lançada em 1997, vem acompanhada de um livro ilustrado, com texto de Ana Maria Bahiana - onde elucidei algumas dúvidas e preenchi lacunas desse histórico (obrigado Ana!). Atualmente fora de catálogo, é, de fato, um artigo para colecionadores e fãs. Na verdade, todo o conjunto é muito bem trabalhado esteticamente.

Em maio deste ano, os Paralamas lançaram o CD "Hey Na Na", mais uma bela salada de frutas paralâmica. Puxado pelo hit "Ela Disse Adeus", que estourou em todas as rádios, o disco já saiu com 1 milhão de cópias vendidas, e traz ainda outras "pérolas" como "Depois da Queda o Coice", uma mistura contagiante de elementos do soul dos Commitments com o rockão tradicional; "O Amor Não Sabe Esperar", balada romantica, bem reggae, com a participação da Marisa Monte, nos vocais; "Screaming Poetry", que tem a letra de Chico Science, "3 Viernes A.M.", uma versão muito bonito para música de Charly Garcia e "Santorini Blues", homonima do último disco solo de Herbert Vianna. Um disco maduro e muito bem produzido, que mostra que os Paralamas estão cada vez melhor no que fazem. Viva os Paralamas! E ficamos aqui, torcendo por bons acontecimentos nesse futuro tão incerto quanto desconhecido, inevitável e apaixonante.

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