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Kreator x Arch Enemy: uma briga boa no Liberation Fest Tour

Resenha - Arch Enemy e Kreator (Armazém, Fortaleza, 11/11/2018)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 16 de novembro de 2018

A roda não para. Até diminui em tamanho, em número de participantes, mas não para. Tem gente que não aguenta. Esse repórter, por exemplo, já é velho. Mas a roda não para. Continuam sempre com algumas dezenas de pessoas que conscientemente fizeram sua escolha por não olhar para a banda no palco, mas por envolver-se numa diversão frenética e violenta no meio do salão do Armazém, em Fortaleza. A roda é uma explosão de adrenalina. Estar em seu meio, no olho do furacão, é arriscar-se. Um chute ou soco mais empolgado pode mesmo machucar. Óculos, então, não são recomendados. Eles tem o péssimo hábito de sair voando, mas, sem asas, acabam se estraçalhando sob os pés dos moshers. Na roda, amigos são mais amigos, mas são também inimigos. É, como diz a canção, everyone against everyone, todo mundo contra todo mundo. Pelo menos até alguém cair (que é quando se juntam três, quatro desconhecidos para fazer contenção e ajudar o irmão caído). Essa é a roda. E assim foi o show inteiro do KREATOR em Fortaleza. E até mesmo o do ARCH ENEMY, também agressivo, mas mais melodioso. Confira mais detalhes da edição itinerante do Liberation Tour Fest que pousou na capital cearense neste domingo, 11 de novembro, com fotos de Rubens Rodrigues.

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ARCH ENEMY

Em 2017, o Liberation Festival trouxe ao Brasil, mais especificamente à cidade de São Paulo, depois de uma aguardada espera, o KING DIAMOND, ladeado por outras bandas aclamadas como CARCASS e LAMB OF GOD. Em 2018, a produtora foi ainda mais arrojada, transformando o festival em uma turnê itinerante, com a "sueca" ARCH ENEMY e os alemães KREATOR viajando por cinco cidades brasileiras: Porto Alegre (09/11 - Opinião, Fortaleza (11/11 - Armazém), Manaus (14/11 - Studio 5), Rio de Janeiro (16/11 – Circo Voador) e São Paulo (17/11 – Audio). Na cidade alencarina, embora com uma tradição de receber bem as vertentes mais extremas do metal, entre as quais o Thrash Metal adotado pelo KREATOR, há relatos de que a busca por ingressos nas semanas que antecederam o festival foram bem mais concentradas na banda de Death Metal melódico ARCH ENEMY, estreando em solo cearense (o KREATOR já apresentara-se no extinto Siará Hall em 2009). E foi a banda da loira com cabelos azuis Alissa White-Guzz que abriu a parte cearense do festival da Liberation (com apoio local da Gallery).

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Além de Alissa, ao centro (e à esquerda, e à direita e em cima da estrutura em que foi montada a bateria - a moça não para quieta), subiram ao palco os guitarristas Michael Amott (cérebro da banda) e Jeff Loomis (ex-NEVERMORE), o baterista Daniel Erlandsson e o baixista Sharlee D'Angelo. Logo depois de uma homenagem a Lemmy (a primeira da noite), com "Ace of Spades" soando no sistema de som da casa, o barulho dos fãs eclipsava o som da banda, de tão alto que era. Nos primeiros momentos de "The World Is Yours" realmente não dava pra ouvir a moça de cabelo azul. E foi na parte pianinho da canção que ela se rendeu e deixou o público fazer mesmo um karaokê no Armazém. Sobre a canadense, há que se dizer que sua performance é impressionante. Seus guturais são um tom menos agressivos que os de Angela Gossow (isso fica claro em "Ravenous"), mas são ainda extremamente poderosos. Seus colegas de palco, por sua vez, executam lindas melodias, como é o caso de "Stolen Life". O tempo todo Alissa incita o povo, comanda, rege. E se tem um solo de guitarra, ela não sabe ficar parada. Pula, grita, faz de conta que está procurando alguém em meio ao público, faz de conta que acha. Sabemos que é jogo de cena, mas funciona.

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Depois de "War Eternal", "My Apocalypse" é um convite pra pular. Pesada, agressiva, mas cheia de técnica, uma das melhores do ARCH ENEMY, melhorada ainda pelos efeitos sonoros em background e pelo interlúdio criado na guitarra de Jeff Loomis. Uma música dessas tem que ser ouvida num som perfeito. E era assim que estava o som do Armazém.

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Com dois discos do AE na sua voz, Alissa quis saber se as pessoas estavam se sentindo bem e se queriam mais. É assim que ela apresenta "The Race", outra do disco novo, "Will To Power" que, junto com "War Eternal" foi a tônica do repertório, embora tenha aberto também um bom espaço para as canções da fase Gossow. Angela também quis saber quem já os tinha visto antes (três ou quatro pessoas, foi a resposta do público). Para estes, um bem vindos de volta. E para quem estava vendo pela primeira vez, quase todo mundo, um muito obrigado. Já na canção, de andamento rápido como pede seu título, uma roda se forma.

Outro grande momento do show foi "You Will Know My Name", que termina com um belíssimo solo de Michael. Já no manifesto "The Eagle Flies Alone", muitas câmeras ávidas por registrar tudo. Alguns minutos extra garantiram a presença de surpresas no repertório, como "Intermezzo Liberté" e "Blood on Your Hands", entre outras que antecederam "We Will Rise", que sinaliza o final do set principal do show.

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A saída do palco e só o charme pro público gritar insistentemente o nome da banda que volta com "Avalanche". Adiante, ao comando das baquetas de Daniel todo mundo acompanha com palmas até que o ex-NEVERMORE, Jeff Loomis, fica só no palco para seu solo. Mais que apenas a melodia e a técnica, impressionam os timbres escolhidos pelo americano que andava com o mítico Warrel Dane. Logo ele é acompanhado de Michael e ambos fazem um duo de fazer chorar. Se a ARCH ENEMY fosse uma banda de grind, só esses solos já serviriam para classificá-los como melódicos. É por falar em grosseria com melodia, não era apenas entre fans do ARCH ENEMY e do KREATOR que se dividia o público (a contar pelas camisas) mas também em fãs de CARCASS, num honroso terceiro lugar, garantido pelo tempo que Michael Amott na banda. Fechando o show, a clássica "Nemesis" explica porque o ARCH Enemy é uma das bandas que conquista mais fãs na atualidade.

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A propósito, as aspas no gentílico da banda remetem ao fato de que, apesar de Michael ter passado boa parte no país nórdico, ele é inglês. Com Loomis nascido nos Estados Unidos, Alissa, no Canadá, Sharlee na Dinamarca, apenas o baterista Daniel Erlandsson nasceu nas terras onde andou Ragnar Lodbrok.

KREATOR

Mas os headbangers das antigas queriam mesmo era ver de novo o KREATOR. Um dos nomes mais perceptíveis nas influências do metal cearense, a banda do m DARKSIDE, WARBIFF, FLAGELO... Mille Petrozza ganha até menção em "Retroboy", da banda GSTRUDS. São inúmeros os frutos originados pela semente lançada "nas oropa" e regada em 2009. Era possível notar uma diminuição no número de presentes no Armazém (foi realmente perceptível), mas, isso até foi bom. Mais espaço para a roda.

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Com o quarteto formado por Mille Petrozza e Sami Yli-Sirniö empunhando guitarras, Christian Giesler no baixo e o Ventor arregaçando na bateria, a violência já começou em "Phantom Antichrist" (canção que, além da vinheta "Mars Mantra, que a antecedeu, vem do álbum homônimo, o penúltimo da discografia até agora). Terminou "Phantom...", o público grita.

-KREATOR.
-KREATOR.

E hey hey hey para receber "Hail to the Hordes". Ao fim, os gritos com o nome da banda continuam. Até que são interrompidos por Mille. "Faz muito tempo que viemos a Fortaleza", disse ele. "Uma das coisas que me lembra é da roda gigantesca". "Uh uh uh", os guerreiros antecipam o grande momento. Divididos em dois lados por um general que não vai entrar na batalha em si (alguma semelhança com uma batalha real?), os beligerantes se encaram, se enfrentam, medem forças. Até que a batalha campal começa e ninguém tenha amor por si próprio, entregues ao ofício de se mostrar mais fortes que o inimigo. O choque é inevitável. Era, na verdade, um dos motivos para todos estarem ali. Se você não participou de uma Wall of Death (e poucas bandas, como o KREATOR, KORZUS ou EXODUS, garantem uma boa), você ainda não viveu tudo o que o metal pode proporcionar.

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Algo que não caiu tão bem para uma parcela do público foi a predominância de temas novos. A banda está divulgando seu "Gods of Violence", então é até óbvio que traria muitas canções dele (assim como do que ainda pode ser considerado recente "Panthom Antichrist"). O público, no entanto, queria os clássicos. É compreensível a divisão, uma vez que, numa extensa discografia de 14 álbuns (até os ruins são acima da média), pinçar uma canção de cada disco e ainda mostrar trabalho novo é uma tarefa que nunca satisfará a todos. E se o KREATOR acreditar em pecado, céu e inferno, vão dormir abraçados com o cramunhão (eles tinham acabado de dizer que "Satan is Real", né?) só porque só incluíram uma do álbum. Das novas faltaram "Totalitarian Terror" e "From Flood into Fire". Das antigas, são tantas, "Extreme Aggression", "Tormentor"... é melhor nem começar a mencionar. "People of The Lie", por exemplo, é a única do "Coma of Souls".

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Pra quem está na roda, nada disso importa. Só importa que na hora de cada solo debulhado, como o de "Civilization Colapse", ela fica ainda mais perigosamente veloz.

"Flag of Hate" é mais um dos poucos momentos mais "teatrais" do caos generalizado criado por Petrozza e seus comparsas. Segurando uma bandeira, o vocalista pergunta. "Vocês sabem o que é isso? Vocês sabem que horas são? É hora de Flag of Hate". E faz jogo reclamando. "Não era o que eu esperava de vocês", para que o público grite ainda mais alto: "Flag of Hate".

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A mais calminha do show (se é que se pode dizer isso sem que eu também vá dormir com o cramunhão) é "Phobia". Dá até pra cantar junto. E cada vez que o nome da canção e pronunciado, canhões de fumaça são disparados.

A bela introdução acústica de "Gods of Violence", parte gravada, parte executada por Sami é interrompida pelos gritos nervosos de Mille.

-We shall kill.
-We shall kill.

Ao fim da canção, o muito obrigado, em português, recebe aplausos. Mille diz diz que é ótimo tocar novamente em Fortaleza e exibe uma bandeira do time que tem o nome da cidade (e que na noite anterior conquistara o Campeonato Brasileiro da Série B). E assim como Roger Waters, o alemão de ascendência italiana é vaiado por uns e aplaudido por outros. Mas, ao contrário dos shows do ex-líder do PINK FLOYD, aqui tudo fica na camaradagem, na gaiatice do cearense (e dos potiguares, piauienses e de outros estados vizinhos que vieram a Fortaleza só para ver o show e entrar na roda. "Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)" é outro grande momento. "Everyone against every one" diz a letra da canção, grudando na mente. Há ainda espaço para mais uma homenagem a Lemmy, do MOTORHEAD, através da canção "Fallen Brother".

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A hora do bis chega parecendo que só se passaram só cinco minutos desde o início do show. As duas últimas oportunidades de se perder na roda são "Violent Revolution" e "Pleasure to Kill". Claro que queríamos mais. Então, poderíamos já deixar acertado que o KREATOR não vai demorar mais quase dez anos pra voltar, tranquilo?

Agradecimentos:

Liberation e Ultimate Music Press, pela atenção e credenciamento.
Rubens Rodrigues, pelas imagens que ilustram esta matéria.

Setlists

ARCH ENEMY

1. The World Is Yours
2. Ravenous
3. Stolen Life
4. War Eternal
5. My Apocalypse
6. The Race
7. You Will Know My Name
8. Blood on Your Hands
9. Intermezzo Liberté
10. The Eagle Flies Alone
11. First Day in Hell
12. As the Pages Burn
13. Dead Bury Their Dead
14. We Will Rise
15. Avalanche
16. Snow Bound
17. Nemesis

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KREATOR

1. Phantom Antichrist
2. Hail to the Hordes
3. Enemy of God
4. Satan Is Real
5. Civilization Collapse
6. People of the Lie
7. Flag of Hate
8. Phobia
9. Gods of Violence
10. Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)
11. Fallen Brother
12. Violent Revolution
13. Pleasure to Kill

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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