Shaman: O quarto show no Rio em menos de dois anos de tour
Resenha - Shaman (Claro Hall, Rio de Janeiro, 14/02/2004)
Por Rafael Carnovale
Postado em 14 de fevereiro de 2004
Fotos: Anderson Guimarães
A primeira vez foi uma surpresa, a segunda uma festa, a terceira uma consolidação de competência, mas o que seria do quarto show do Shaman em terras cariocas em menos de dois anos na mesma turnê? Um fato inusitado e curioso: raras vezes uma banda faz tantos shows na mesma cidade, e a "RitualTour" já havia passado dos 120 shows, sendo digna de figurar como uma das maiores já feitas por uma banda de metal nos últimos anos. Mas eis que o DVD "Ritualive" e o CD de mesmo nome foram lançados em dezembro de 2003, e este show foi marcado para comemorar o lançamento dos mesmos e também marcar a despedida da turnê do Rio de Janeiro, com surpresas sendo prometidas. O batera Ricardo Confessori tratou de incendiar as manchetes informando, em seu workshop na cidade maravilhosa no final de janeiro, que a banda iria dedicar 30 minutos a músicas do mestre Ozzy Osbourne. Só isso já valeria a pena. E as 3000/3500 pessoas que compareceram no sábado ao Claro Hall não pareciam nem um pouco chateadas com mais um show do SHAMAN aqui no Rio.
Mas as coisas não iam bem para a banda. Ao chegar no Claro fomos informados que uma virose atacara todos os membros do SHAMAN, e que ambos estavam literalmente em situação precária. Porém o show ficava de pé... mesmo com a banda não passando o som. E este seria também um show especial, pois marcaria a primeira perfomance das bandas HEAVENS GUARDIAN e SAGITTA no Rio de Janeiro. Ou seja, três shows, por um preço bem em conta. Ponto para a produção.
Por volta de 21:30, o SAGITTA sobe ao palco, com uma casa ainda não tão cheia, e começa a detonar músicas de sua primeira demo, "Bad Signs", como "Take On", "Bad Signs", "Angel Guide", "With or Without You", "Fight for Your Dreams" e "There's no Tomorrow". A banda mostra claramente que tem talento e disposição, não escondendo a alegria de tocar pela primeira vez no Rio de Janeiro, mas falta ainda o "algo a mais" para o SAGITTA se tornar uma grande banda. Nitidamente a banda está procurando sua identidade, pois ainda estão muito presos ao power metal germânico. Não que isso seja ruim, mas a verdade é que, apesar do público nitidamente ter curtido, os melhores momentos do show foram o cover para "Formula One" (do Primal Fear), dedicada a Ayrton Senna (com direito a coro), e o "medley" com "The Chance" e "Eagle Fly Free" do Helloween, com destaque para o vocal Ricky, um bom discípulo de Michael Kiske. Nada que mais shows e um cd completo não possam corrigir.
Um pequeno intervalo e por volta das 22:30 o HEAVENS GUARDIAN sobe ao palco, detonando músicas de seu cd "Strava" e do novo (a ser lançado em breve) "Doll". A banda esbanja força e garra em músicas como "Killing Mind" (aonde o microfone do vocalista Carlos Zema apresentou problemas), "Castle Of War", "Neverland" e uma música do novo cd (aonde uma estranha figura adentrou o palco, vestida como a morte), que difere por ser mais cadenciada do que as outras, que são bem mais rápidas. A banda só peca na "versão" para "Breaking the Law" do Judas Priest, que ficou meio sem sentido. Alguns problemas de som começam a aparecer, principalmente no vocal, que chegava a incomodar, mas a banda mandou bem e o público reverenciou o talento destes músicos, que já estão na estrada há um bom tempo. Nitidamente outra banda que não escondeu a emoção de tocar no Rio pela primeira vez, agradecendo o apoio do público todo o tempo.
Dois shows de cinquenta minutos já deixaram os fãs ansiosos, e por volta de 23:30, as luzes do Claro se apagam e um telão enorme desce ao palco, exibindo os extras do DVD "Ritualive". Apesar de ser interessante para quem ainda não comprou o mesmo, os 25 minutos foram um tanto cansativos, por não mostrarem nada de novo, e muitos fãs sentiram isso. Sobe o telão, "Ancient Winds" ecoa nos PA's e "Here I Am", "Distant Thunder" e "For Tomorrow" marcam a entrada do SHAMAN no palco, para um público alucinado.
De cara notamos que a banda realmente não está bem. O vocal de Andre sofre, com dificuldades para atingir as notas mais altas (Hugo faz "backings" por todo o show) e pequenos erros são notados, além do som, que se manteve inconstante durante todo o evento. Mas há de se ressaltar o profissionalismo da banda, que antes de tocar "For Tomorrow", explica aos fãs o ocorrido, com Andre relatando que eles literalmente estavam "de cama" a tarde inteira. "Lisbon" vem em seguida e o público canta a música com Andre, em forma de apoio.
Seguindo a tradição do show do SHAMAN, era hora da "jam" com solos de HUGO e RICARDO, que se mostraram mais contidos, mas ainda despejando o talento que já os consagrou. "Ritual" e "Fairy Tale" vêm em seguida, na mesma sequencia de sempre, o que talvez seja o maior ponto negativo do show. A previsibilidade.
Para quebrar esta previsibilidade, os músicos deixam o palco e desce (de novo!) o telão, exibindo "Sign of The Cross" e "Eagle Fly Free" do DVD "RITUALIVE". Novamente um momento de tédio para alguns fãs e de euforia para outros. A banda volta em seguida e emenda "Pride", já mostrando que os mesmos estavam dando o sangue para fazer o show, já que o cansaço era evidente, principalmente no vocalista Andre Matos.
Quando todos esperavam "Carry On", eis que o tecladista Fábio Ribeiro emenda os primeiros sons de "Mr. Crowley". AGORA SIM! A banda surpreende pela precisão e competência, emendando com a clássica "Sabbath Bloody Sabbath", que arrancou lágrimas de alguns fãs. Andre cantou como nunca, nem parecia estar derrubado pela virose. E antes de acalmar o público, que insistia em pedir "Carry On", a banda emenda "No More Tears", com extrema habilidade e um trabalho primoroso. Esses 25 minutos já valeram o show todo.
Mas faltava "Carry On". E eis que a mesma foi tocada, com "intro" e tudo, totalizando 1:50 de show. O público curtiu muito a música, e a despedida emocionada da banda, ao som de "Lasting Child".
Apesar de todos os problemas (no backstage conferimos que a situação foi bem pior do que se pensava, com os membros ainda muito baleados), e do show até certo ponto previsível, o SHAMAN merece os créditos por ter apresentado um diferencial que marcou o evento, e pelo profissionalismo mostrado. Uma grande banda, com muito talento, que foi prejudicada por problemas de saúde, mas que ainda assim arrancou muitos elogios. Agora eu peço aos músicos um favor: SÓ APAREÇAM POR AQUI AGORA NA TURNÊ DO NOVO CD OK? VOCÊ PROMETEU SR. ANDRE MATOS!!!!!!
Agradecimentos:
- CIE/CLARO HALL: Bianca Senna
- PRODUTORA/CANTÁRIDA: Fernanda
- SHAMAN, H. GUARDIAN E SAGITTA.
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