Rock: a cambaleante situação do estilo
Por Alexandre Campos Capitão
Postado em 17 de julho de 2012
Dia 13 de julho é o Dia Mundial do Rock. Veja só você, algo que surgiu com o intuito de quebrar regras e romper com o status quo, tem também a sua data e se iguala ao Dia das Mães e ao Natal. Duas instituições das mais caretas e reacionárias.
Com todo respeito a esse senhor de mais de 60 anos, mas é isso que ele merece, já há algum tempo. O rock não morreu, nem vai morrer, mas se tornou uma coisa insuportável.
Não me refiro propriamente à música em si. A música passa por fases, modismos, mas sempre se encontra qualidade, seja nos dinossauros, nos independentes, ou nos não originais. O bom rock sempre está aí. Mas o ambiente que cercou o comportamental do gênero vem descendo o nível a galopes largos.
Sem dúvida, eu sou um velho, ou pelo menos me considero um, e isso diminui a paciência e a tolerância. Mesmo assim, não é de hoje que os absurdos vem se somando, tudo em razão do ser roqueiro.Veja você quanto às roupas, tem coisa que dá medo de ver, o cara que ouve metal extremo, por exemplo, usa uma calça tão apertada que é capaz de encontrar o próprio demônio em pessoa, tamanha dor no saco. E o nome dos estilos, hardcore melódico, AOR, quanta bobagem. E as tribos, que já nem se sabe se é rock, se não é, ou se é caso de psicólogo, como o tão falado emo, onde os "roqueiros" leem palavras doces, choram, e cultivam a franja. E por falar em cabelo, peço licença para me negar a falar sobre o "moicano Neymar". Agradeço a compreensão.
As redes sociais acabam por expor o ridículo ainda mais. O sujeito se coloca como fã do Slayer, mas posta uma foto de um cavalo marinho com uma frase motivacional do lado. O outro é super Iron, mas não deixa de compartilhar o novo clip da Kate Perry. As fotos de cachorrinhos maltratados então, é bom nem lembrar. E assim seguimos, descendo mais 100 jardas.
Há cerca de 30 anos eu conheci o The Number of The Beast do Iron através de um amigo do meu irmão. Imediatamente fiz ele me vender o Lp, e a partir dali não conseguiria mais me livrar do tal rock´n roll. Logo em seguida descobri um garoto no bairro que tinha uma grande coleção de discos. Ele me apresentou várias coisas que ouço até hoje, como o WASP. Seu nome era Jerry, e eu o considerava o cara mais cool que já havia conhecido. Anos mais tarde ele foi preso por roubar o vídeo cassete da escola. Rock era coisa de bandido. Que orgulho, "tá vendo aquele cara ali no camburão, é meu amigo, quando for solto ele me devolve o Heaven and Hell". Era uma era "pré-rock in rio", e a babaquice ainda não estava institucionalizada no rock Brasil.
Acabava sempre participando de rodas onde o papo eram as bandas que gostávamos, principalmente aquelas da New Wave of British Heavy Metal. Me lembro que nos lamentávamos sobre não ter ninguém com quem nos identificar no Brasil, quando um garoto virou e disse "não conhece o Camisa de Venus?, os caras são foda, o vocalista fala um monte e o caralho". Perguntei de onde ele tinha tirado essa banda, e ele me recomendou que assistisse ao programa Perdidos na Noite, que sempre apresentava bandas interessantes, além do clima despojado que o diferenciava. Não só descobri o Camisa, como me tornei fã, e através dos anos acabei me tornando amigo do Marcelo Nova, falo com ele todas as semanas, mantenho um blog sobre sua carreira, aceito como oficial, e ganhei dele meu o apelido de Capitão. E ganhar o respeito do maior roqueiro em atividade do país, me enche de orgulho, e me faz pensar que dei alguns passos certos nesse caminho que estou aqui criticando.
Pra quem não é jornalista, não vive de música, nem é rico, acredito que caminhei muito bem, aliás. Alguns desses passos incluem uma boa coleção de discos e vídeos, além de uma coleção de contrabaixos. E muitos shows, que gostaria de ter visto mais e não pude, mas posso afirmar que tenho um currículo razoável, mas vou me gabar apenas de ter visto Raul Seixas ao vivo.
Acredito que à essa altura do campeonato deva me orgulhar também de não ter nenhuma tatuagem, tamanha banalização.
É verdade que ainda circulam por aí, e de forma extremamente ativa, figuras como Lemmy, Keith Richards, Tom Arraya, e o próprio Marcelo Nova, para citar quatro nomes que de estilos e gerações diferentes, e produzem música de qualidade e mantém a envergadura e a postura. Mas a coisa anda feia pra você, rock. E vou ser bem sincero contigo, meu saco anda bem cheio com as coisas que andam acontecendo em seu nome. Não vejo remédio que possa te curar. Vou te deixar agonizando, com seus sorrisos e suas feridas. E torcer pra ninguém me associar contigo, mesmo quando me verem no meu Corcel II preto placa 1313.
Eu odeio rock.
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