Explicações: Rita Lee fala sobre suposta crítica a São Paulo
Fonte: UOL Música
Postado em 26 de janeiro de 2004
Durante shows de lançamento de seu novo disco, "Balacobaco", no Rio de Janeiro, no último final de semana, a cantora Rita Lee não poderia imaginar que suas tradicionais piadas e textos maliciosos iriam virar assunto da semana em São Paulo. Tudo por conta de uma suposta crítica que a roqueira teria feito a São Paulo, às comemorações dos 450 anos, às mulheres paulistanas e, inclusive, à administração da cidade.
Durante a semana, vários e-mails e sites traziam várias versões da história e até um "flashmob" tem sido articulado. O assunto tomou tamanho vulto, que a produção das comemorações do aniversário de São Paulo resolveu aumentar a segurança durante o show da cantora, que acontece neste domingo, no Vale do Anhangabaú.
Para entender o ocorrido, o UOL procurou a cantora para que ela esclarecesse o que há de fato neste mais novo boato virtual. Por e-mail, a cantora conta em detalhes o que foi dito durante o show no Rio. Leia abaixo a íntegra da entrevista.
UOL - Você fez críticas à cidade de São Paulo durante show no Rio de Janeiro?
Rita Lee - Quando não estou fazendo show em Sampa, sempre faço piadas sobre as idiossincrasias paulistanas. Judeu contando piada de judeu é engraçadíssimo, mas se um católico fizer o mesmo é anti-semitismo, eu sou uma "judia" que fala de cadeira sobre meu holocausto.
UOL - O que você disse exatamente?
Rita Lee - Putz, meu, essa história de as mulheres paulistanas não terem personalidade e ponto final foi uma traição à minha verve de boba da corte. A piada completa é a seguinte: "mulher carioca é gostosona, mulher gaúcha é européia, mulher baiana são todas gabrielas e mulher paulista não tem uma personalidade apenas, tem várias, desde peruas da Daslu até as negonas de Brasilândia", e fiz a música " As Mina de Sampa", como homenagem à "porretice" personalíssima das "Pagus" que vivem aqui nesse caos. Também disse que Sampa não sabe fazer festa, mas o complemento desta afirmação é que nós não precisamos saber fazer festa porque sabemos fazer grana, e se for o caso pegamos uma buzanga/avião e vamos brincar nas festas de Salvador, do Rio, de Recife etc. Esse tipo de piada eu faço há séculos, sou praticamente representante oficial de São Paulo, pelo menos traduzo bem a "coisa" segundo São Veloso, então por que não provar um pouco de bom humor "paulistês", uma vez que somos considerados sisudos pelo resto do Brasil. Aliás, essa história da imprensa "reaça" me esculhambar sem ter assistido ao show confirmou essa fama de imbecilidade informativa que temos desde a Semana de 22.
UOL - Você se arrepende de ter dito isto no show?
Rita Lee - Já disse coisas "zilhões" de vezes mais ferinas e nunca nada me aconteceu, por que vou me arrepender de uma piada que fez tanta gente dar boas risadas? E por que os "reaças" da imprensa paulista querem agora que eu peça desculpas pela cagada deles? Quando eu morrer, esses mesmos caras vão dizer que sou um gênio, você quer apostar? Por que a imprensa paulista não vai perguntar para os artistas que assistiram ao meu show no Rio e não para os que não assistiram? Vão perguntar para a Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Vera Fisher, Malu Mader, Marisa Monte, Bibi Ferreira, Simone, Tony Belloto, Denis Carvalho, Roberto Talma, Eva Vilma, Lulu Santos, Frejat, Zélia Duncan, Lucia Veríssimo, Betty Goffman e mais uma porrada de cariocas que já saiu em minha defesa numa matéria grande publicada no Segundo Caderno do "Globo" ridicularizando essa rixa tola entre Rio e Sampa.
UOL - Quando o show aconteceu no Rio, você já sabia que seria a anfitriã da festa dos 450 anos da cidade?
Rita Lee - "Of course", isto já estava organizado desde o ano passado.
UOL - Você se sente à vontade para comandar a festa neste fim de semana?
Rita Lee - Agora mais do que nunca, entrar no palco na iminência de ser vaiada ou levar um tiro (como já me avisaram) me remete à apresentação de "É proibido proibir", quando a platéia composta principalmente de jornalistas "reaças" infiltrados nos vaiava e jogava tomates. Minutos depois estavam todos aos pés de Caetano, jurando que não sabiam quem havia orquestrado tamanha falta de respeito, conheço bem as hienas da minha floresta.
UOL - Você tem alguma observação a fazer sobre a condução das comemorações dos 450 anos na cidade?
Rita Lee - Espero apenas que depois que passar a festa, a cidade se mantenha arrumadinha, que as "águas dançantes" do Ibirapuera, um presente superbacana do Pão de Açúcar, continue nos trinques, enfim, espero mesmo que Sampa se torne cada vez mais uma cidade mais educada, mais limpa, mais justa e todas as reivindicações que fazemos há 450 anos.
UOL - A música "As Minas de Sampa", presente em seu novo disco, traduz uma mágoa em relação às mulheres de São Paulo? Por quê?
Rita Lee - Cruzes!!!! Mágoa!!!! Mas...mas...mas... então sou uma péssima letrista, porque fiz uma declaração de amor as "mina de Sampa", das quais aliás pertenço há 56 anos! Será que ninguém escutou nem mesmo o refrão? "Eu gosto as pampa das mina de Sampa". O que faz alguém interpretar tão erradamente uma letra à la Adoniran Barbosa como esta? Será que hoje em dia se escutassem "Tiro ao Árvaro" eles iriam entender o que? E por que "catso" haveria eu de ter "mágoa" das mulheres paulistanas, por acaso mataram minha mãe?
UOL - Em suas apresentações antes das últimas eleições municipais, você não poupou elogios públicos para a então candidata Marta Suplicy. Você se arrepende daquela atitude?
Rita Lee - Absolutamente, continuo achando Marta uma mulher porreta. As TFPs (Tradição, Família e Propriedade) talvez tivessem ficado revoltados porque Marta teve coragem de se casar novamente, ainda mais com um gringo. Para conseguir desfazer e consertar as cagadas de seus antecessores, Martinha precisa de pelo menos mais 450 anos na prefeitura. É a tal história, homem forte é polêmico, mulher forte é histérica.
UOL - Qual sua avaliação do episódio e o que você gostaria de dizer para os que se surpreenderam com as notícias sobre suas declarações?
Rita Lee - Lamento muito que algumas pessoas tenham acreditado nos "reaças" da imprensa e não em mim. Os "reaças" ladram e os palhaços riem. Salve Sampatia!
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