Joy Division: ex de Curtis diz que não ouve mais suas canções
Fonte: Rockwave
Postado em 13 de abril de 2005
Faz 25 anos que Ian Curtis, vocalista do Joy Division, morreu. Nesta semana, a ex-mulher do vocalista do Joy Division deu uma entrevista para o jornal inglês, The Guardian, em que falou a respeito deste quarto de século em que teve que superar a perda, lidar com fãs obsessivos e explicou por que não ouve mais as músicas de Ian.
Rock’N’Roll Suicide
"Se alguém se mata, esse alguém têm uma última palavra. E o que ele está dizendo é ´não há nada que você possa dizer, nada que você possa fazer’. E não há nada mais frustrante que isso", disse ela. Quando Curis se matou, no apartamento dela, ele tinha apenas 23 anos e deixava para trás a mulher, uma filha de um ano de idade e uma carreira promissora com o Joy Division que, mais tarde, se confirmaria no New Order e através da longevidade de sua própria música que, ainda hoje, é influência para bandas na Inglaterra e através do mundo.
A história de Ian e Deborah
Os dois, Deborah e Ian, eram amigos desde crianças. Cresceram juntos em Macclesfiend, principal produtora de seda na região de Cheshire, no noroeste da Inglaterra. Aquela era uma época – não na história da história, mas na história de Ian e Deborah - em que todo mundo estava tentando arrumar um modo de mostrar que não fazia parte de uma massa, que era um indivíduo uno com visões pessoais que gritavam para ser levadas em conta. Quando eles se conheceram, Ian já era uma figura cult na área – um esquálido fã do Lou Reed que costumava ir para a escola usando blazer cor-de-rosa. Deborah era uma fã de Creedence Clearwater Revival meio hippie que fazia as próprias roupas e tinha um pouco de medo da figura de Ian, da coleção de discos dele e do fato dele escrever poesia.. Por outro lado, ele via nela algo parecido com um projeto. "Acho que o fato de eu não contestar as coisas que ele dizia era um atrativo para ele. Acho que ele pensava que eu seria fácil de se moldar, de controlar. Ele gostava de ter uma influência no que eu estava lendo e nas músicas que eu estava ouvindo. Eu não me lembro dele pedir pra ver nada do que eu estava escrevendo. Isso é parcialmente culpa minha. Fui eu quem parou de escrever depois que nos casamos. Mas eu acho que ele era tão poderoso que nossas vidas eram meio que centradas na sua arte e no que ele ia fazer", diz ela.
A história de Deborah e Ian
Em sua devoção a Ian, Deborah nem ligava para o seu severo código de comportamento, por mais estranho que parecesse. Como exemplo, ela cita a insistência que Ian tinha em que ela almoçasse na casa dos pais dele. "Era ridículo!Eu tinha só uma hora de almoço e eram 15 minutos a pé do meu trabalho pra casa dos pais dele e, depois, 15 minutos de caminhada na volta, e isso meio que encurtava meu horário de almoço", conta ela, rindo timidamente. "E eu desisti dos estudos de um modo ridículo e imediato. Você sabe... Ele dizia ‘larga a escola porque você não vai precisar das suas notas altas, você não vai precisar de um emprego, você não vai precisar trabalhar, apenas larga a escola e aí, a gente vai se casar e, então, a gente vai começar – começar nossa vida – de verdade’. Olhando para trás agora, eu penso ‘o que você estava fazendo? O que é que você estava pensando?’. Eu não sei. Eu estava completamente estupefata", diz.
Foi quando seus amigos começaram a desaparecer. Sua família, também, não dizia nada a respeito do comportamento dela ou do relacionamento. Mas isso, foi só naquela época. Agora, eles falam sim. "Nós damos risadas falando disso agora. Quero dizer, você precisa fazer isso. Faz muito tempo, você não pode ficar chateado com isso, você tem que rir... Mas se fosse com a minha filha, eu ia ficar doida.".
Com o casamento, os problemas
Os dois se casaram em 1975. Ele com 19 e ela com 18. Natalie nasceu quatro anos depois, exatamente quando o Joy Division começava a se tornar O Joy Division. Era o começo, portanto ainda não era o fim dos problemas de grana do casal. Além disso, grana não era nem de longe o maior problema. Pelo menos não se você pensar na dificuldade que Ian estava começando a ter em conciliar a vida no rock’n’roll com um casamento estável. Também havia a epilepsia de Ian e suas constantes oscilações de humor que faziam com que Deborah tivesse que lidar um dia com Dr. Jekkyl e, no outro, com Mister Hyde. Foi na segunda metade daquele ano de 1979 que Ian começou um caso com Annik Honoré, uma belga que imitava Siouxsie Sioux. Pra muita gente, foi o sentimento de culpa que acabou levando Ian Curtis embora. "Eu não sei porque ele não partiu. Eu não sei. Talvez ele estivesse preocupado em fazer as coisas do jeito certo. Talvez ele estivesse dividido entre o que ele achava que devia fazer e aquilo que ele queria fazer. Talvez Annik não fosse a única, mas ele achou que precisava ir. Eu não sei. passei muito tempo me perguntando isso porque havia tantas outras coisas que ele poderia ter feito exceto cometer suicídio", diz ela.
Para sempre na memória
A repórter pergunta se ela ficou brava por ele ter feito isso, Deborah faz uma pausa e responde: "muito". "Mas agora eu não estou zangada não. Passou muito tempo. Você deve imaginar o quanto ele devia estar infeliz e não deveria estar vendo, honestamente, uma saída ou, então, ele não faria o que fez". A repórter pergunta se ela ainda o ama: "Ahn... sim", Deborah faz uma longa pausa, "mas não do mesmo modo. Eu tenho um novo parceiro agora. Ter encontrado ele foi um ponto de virada porque ele não sabia o que tinha sido o Joy Division, ele não sabia quem Ian Curtis tinha sido", diz ela sobre o atual namorado. Mas não é o namorado que faz com que ela não escute mais as músicas de Ian. Ella mesma faz isso. "É porque Ian me ensinou que, se você coloca uma peça musical para ouvir, você se senta e ouve. Você não vai lavar roupa nem nada. Você senta e ouve. Então é isso que eu faço e eu não consigo colocar Joy Division pra tocar e não ouvir tuido do começo ao fim e você acaba se transportando para o passado quando você teria que estar resolvendo suas coisas aqui e agora", diz ela.
Os anos trouxeram para ela uma espécie de postura desafiadora diante do fantasma de Ian. "Ele costumava ficar chateado comigo se eu estivesse lendo livros que ele não gostava. Então, eu sempre penso nele quando estou lendo um livro. E, as vezes, quando alguém me entrevista, as vezes eu penso ‘eu aposto que você não ia gostar nada disso, ia?’. E eu uso um monte de maquiagem hoje em dia, por causa das fotos. E ele não gostava que eu usasse maquiagem. E, as vezes, quando eu ponho maquiagem, eu penso, ah, ta... você sabe... tudo bem ele ter dito aquilo naquela época, mas agora é agora", diz ela.
Agora, sai uma nova edição do livro "Touching From a Distance: Ian Curtis and Joy Division" que Deborah escreveu como uma forma de desabafo. Parte foi pra saciar a fome de fofoca dos fãs que falavam dos "problemas conjugais’ do casal sem conhecimento de causa e como uma resposta para as pessoas que achavam que conheciam Ian por tudo que ele representou na música. "Eu vi uma crítica uma vez e alguém escreveu ‘ela não entende do assunto’. E eu pensei ‘bem, é esse MESMO o ponto?’", disse.
Por último, a repórter do Guardian pergunta a ela se ele a conhecia. "Eu acho que ele pensava que sim". Mas ele conhecia? "Não", ela sorri um sorriso imóvel, "eu não acho que ele me conheceu".
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