Guitarrista Sérgio Dias leva Mutantes para Londres
Fonte: Terra Música
Postado em 01 de setembro de 2005
Rodrigo Durão Coelho
Quase 30 anos depois do fim oficial dos Mutantes, o guitarrista Sérgio Dias se diz lisonjeado com o reconhecimento tardio que sua antiga banda vem recebendo, especialmente no exterior.
"É como se fosse um filho. Você o cria, passa por vários problemas e muitos anos depois você vê ele se dando bem, é um grande orgulho", diz o guitarrista, que se apresenta pela primeira vez em Londres, acompanhado pela banda Jets, na casa noturna Guanabara, nesta quarta-feira.
"É fantástico receber um e-mail do Sean Lennon, por exemplo, e ele perguntar quem me influnciou e dizer que é fantástico que eu possa tocar guitarra desta maneira."
"Eu respondi que, entre outros, quem me influenciou foi o pai dele", diz Sérgio, se referindo a John Lennon.
Diferente
Entre os fãs confessos da banda estão o líder dos Talking Head, David Byrne, e Beck. O ex-Nirvana Kurt Cobain era outro que se dizia inspirado pela iconoclastia sonora que permeou o som da banda paulistana. "Os Mutantes foram um marco na música internacional. Infelizmente, no Brasil, nossos discos estão fora de catálogo", diz ele.
"Temos que recorrer ao camelô amigo. Outro dia parei na Rua Teodoro Sampaio (São Paulo) e vi numa banquinha todos os discos dos Mutantes. Disse para o vendedor, brincando, que tinha ido recolher os direitos autorais."
"Ele demorou uns 30 segundos para entender o que estava acontecendo. Depois autografei os discos para ele."
Embora a maioria das músicas que ele pretenda tocar em Londres sejam do seu ex-grupo, Sérgio reforça que esta é uma apresentação solo.
"É super legal poder tocar essas músicas, mas não é Mutantes."
Mutantes e Karma
Rita Lee foi a primeira integrante da formação original a deixar os Mutantes, no início dos anos 1970. Seu marido - e irmão de Sérgio, Arnaldo Baptista - deixou a banda pouco depois.
Sobre uma possível volta da banda, o guitarrista diz que para ele "bastaria um telefonema". "Mas não depende de mim."
"Não sei qual a posição da Rita. Não estamos mais em contato, ela parou de responder meus e-mails."
"Ela já falou várias vezes tão mal de Mutantes, eu acho isso tão chato..." "Quase não consigo falar com o Arnaldo também. Toda vez que ligo ou escrevo um e-mail acabo falando apenas com a esposa dele. Assim, fica difícil."
"Já disse para a Rita para sentarmos e conversarmos sobre o que aconteceu. Seria mais fácil do que esperarmos outra encarnação para resolvermos esse karma", diz ele.
"O problema é que Arnaldo e Rita têm um caso de amor muito sério, mais sério talvez do que eles possam enxergar."
"Já brinquei dizendo que um dia os dois vão acabar em um asilo, velhinhos de mãos dadas. Dai acaba o problema, porque não tem mais o intelecto na frente para atrapalhar", diz ele.
Orkut
Sérgio vem, há um ano e meio, se dedicando à produção de novas bandas - com um estilo bem pouco ortodoxo de produção, diga-se de passagem. Em vez de apenas assessorar os músicos no estúdio, ele convida as bandas a se hospedarem em um anexo de sua residência, na Granja Viana, já fora da cidade de São Paulo, onde detecta os pontos fracos dos jovens artistas e mostra a eles possíveis caminhos para se aperfeiçoarem. O processo pode durar meses.
Uma diversão do músico é navegar pelas comunidades dedicadas a ele no Orkut - a rede de discussões on-line.
Acessível aos fãs, o eterno rebelde Sérgio não se contém e adora pregar peças neles. De vez em quando, chega a dar dicas estapafúrdias de como encontrar supostas mensagens secretas em antigos discos dos Mutantes.
Aos 54 anos de idade, Sérgio continua totalmente rock´n roll.
BBC Brasil
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