Grand Funk: Para Don Brewer, "Rap não é música"

Segue abaixo a tradução adaptada de alguns trechos de uma entrevista com Don Brewer, baterista do GRAND FUNK RAILROAD, realizada pelo Rock And Roll Universe em fevereiro de 2007.

Rock And Roll Universe: Voltemos ao início da carreira do GRAND FUNK: a banda tocou de graça para 140.000 pessoas no Atlanta International Pop Festival de 1969, em um evento que contava com artistas como JANIS JOPLIN, SPIRIT, JOHNNY WINTER, CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL e CHICAGO, dentre outros, no que resultou um contrato com a gravadora Capital Records. Como foi a experiência de tocar defronte uma multidão pela primeira vez?

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Don Brewer: "Foi realmente um golpe de sorte estarmos na programação, e conseguimos graças ao intermédio de um amigo. Tivemos de alugar um trailer e arrumar um caminhão para nos levar ao festival, onde fomos os primeiros a tocar. Não tínhamos grandes espectativas, mas de repente a multidão começou a nos ovacionar, daí nasceu o GRAND FUNK. Até então não éramos levados a sério em Michigan, nos apresentávamos antes sob o nome The Pack, [GRAND FUNK] ainda não era um nome conhecido. De repente, em outro estado, tocando para um platéia que nunca ouvira falar da gente e que nos aclama, foi um choque. Foi o que realmente despertou atenção da gravadora Capital. Na realidade tocaríamos apenas no primeiro dia, mas tivemos uma recepção tão calorosa que nos escalaram para tocar nos outros dois dias".

Rock And Roll Universe: Chegaram a assistir alguma outra banda?

Don Brewer: "Permanecemos um bom tempo circulando, boa parte do dia, e vimos um monte de bandas que vieram depois da gente. Me lembro de JOHNNY WINTER, que era um dos destaques. Foi um verdadeiro deleite assistir seu show. Edgar não estava presente, era apenas Johnny e sua banda de três integrantes (Nota: Tommy Shannon no baixo e Uncle John Turner na bateria). Nunca tínhamos visto um albino tocando Blues, foi inacreditável".

Rock And Roll Universe: O GRAND FUNK sempre recebeu as piores críticas (por parte da imprensa especializada). A única outra grande banda que passou por isto foi o URIAH HEEP, sempre malhada pelos críticos. Mas a despeito disto, vocês venderam 25 milhões de cópias, e seus primeiros onze álbuns ganharam disco de ouro ou platina. Por qual motivo você acha que as resenhas eram tão impiedosas, e como se sentia perante isto?

Don Brewer: "Em parte era fruto de sermos agenciados pelo nosso empresário, Terry Knight, que nos vendia como um produto fabricado, e a (revista) Rolling Stone não gostava deste tipo de coisa. Não era bem verdade, mas era o que Terry queria que pensassem. Então eles pegaram bronca da banda por causa de Terry, que achava todas as críticas importantes, não acreditava em publicidade negativa. Para ele, se alguém falasse mal era ótimo, não se importava com isto. Só quando lançamos o 'We´re An American Band' é que os críticos vieram para nosso lado. Não era agradável, mas lidávamos com isto e seguíamos adiante. O público sabia identificar o que era bom".

Rock And Roll Universe: Sentiam uma espécie de "alívio" quando vendiam milhões de discos apesar de serem malhados pelos jornalistas?

Don Brewer: "Aquilo machucava. Fazíamos um grande show, ao menos o que pensávamos ter sido um grande show, e então eles (os jornalistas) nos detonavam, sequer parecia que estavam presentes. Não se importavam com o fato do público gostar da banda. Não me parece justo".

Rock And Roll Universe: Acha que devido às críticas negativas, os integrantes nunca obtiveram o respeito merecido como músicos?

Don Brewer: "De certa forma sim. Como éramos malhados pelos críticos, muitas pessoas achavam que não éramos grandes músicos, mas me parece que nossa música resistiu à passagem do tempo. Hey, vou completar sessenta anos de idade, e estou tocando numa turnê com BOB SEGER, deve haver um motivo para isto".

Rock And Roll Universe: A história do GRAND FUNK não está completa se não mencionarmos o nome de Terry Knight, com quem romperiam de forma brusca algum tempo mais tarde. Você acha que teriam obtido o êxito que conseguiram sem seu envolvimento?

Don Brewer: "Não, Terry foi responsável por conseguir um contrato com a (gravadora) Capitol Records, e abriu muitas portas para nós. Ele levava a banda a sério e nos ensinou como devíamos nos portar no palco, dentre outras coisas. Tenho que lhe dar todos os devidos créditos".

Rock And Roll Universe: Qual seu álbum favorito (do GFR)?

Don Brewer: "Vários. 'Closer To Home' é um deles, 'E. Pluribus Funk' é outro, 'We´re An American Band' também, assim como 'Good Singin´, Good Playin'', que fizemos com FRANK ZAPPA".

Rock And Roll Universe: Falando sobre este último, como foi trabalhar com ele?

Don Brewer: "Era um sonho estar em estúdio com Zappa, compartilhar o mesmo espaço, visitar sua casa, conhecer seus filhos, foi maravilhoso. As pessoas imaginam que ele era um sujeito totalmente bizarro, mas longe disto, se tratava apenas da imagem artística que cultivava, pois ele era um cara muito legal".

Rock And Roll Universe: Há alguns anos vêm sendo comentada a possibilidade de se lançar um novo álbum de estúdio, procede? Há planos de algo inédito para um futuro não tão distante?

Don Brewer: "Não há nada neste sentido no momento. Apresentamos algumas canções novas ao vivo e continuaremos trabalhando nelas quando surgirem, mas ninguém está pensando em gravar um álbum".

Rock And Roll Universe: Algum motivo? Seria a possível recusa das rádios em divulgar este novo material?

Don Brewer: "Há muitas razões, mas como eu disse, não temos planos de gravar um álbum no momento".

Rock And Roll Universe: Alguns fãs ocasionais talvez não saibam que Mark Farner não está mais na banda. Quais as circunstâncias que ocasionaram sua saída, e como você se sente sabendo que ele continua excursionando e tocando canções do GFR?

Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | Alex Juarez Muller | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Efrem Maranhao Filho | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacker | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jesse Alves da Silva | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Jorge Alexandre Nogueira Santos | José Patrick de Souza | Juvenal G. Junior | Leonardo Felipe Amorim | Luan Lima | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcus Vieira | Maurício Gioachini | Mauricio Nuno Santos | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Richard Malheiros | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |

Don Brewer: "Ben, Mark é livre para tocar o que quiser. Foi decisão dele sair em 1998. Ele queria retomar sua carreira solo, e foi o que fez. Realmente não tenho mais nada a dizer sobre isto".

Rock And Roll Universe: Quais as chances dele retornar ao GFR?

Don Brewer "Não faço a mínima".

Rock And Roll Universe: Como você compara com o trio original a formação atual da banda, que conta contigo e Mel Schacher (baixo), dois membros fundadores, além de Bruce Kulick (ex-KISS) na guitarra, Max Carl (ex-38 SPECIAL) no vocal e Timmy Cassion no teclado?

Don Brewer: "É uma banda diferente. Os shows são um bocado diferentes, mas baseados no repertório do GFR. Esta formação é provavelmente a melhor que tivemos, mas não se trata da mesma banda, assim como não era a mesma quando tínhamos (os tecladistas) Howard Eddy ou Craig Frost. Foram vários encarnações, e esta atual é apenas mais uma delas, que têm os seus méritos".

Rock And Roll Universe: Como vê o mundo da música hoje em dia, e o que pensa que mudou comparado à época quando começou a tocar?

Don Brewer: "Hoje não há mais conexão entre as rádios e a música. Atualmente estas coisas não estão mais na mão dos músicos, porém de profissionais mais preocupados com dinheiro. Não gosto do que ouvimos hoje, pois tocam as mesmas coisas há trinta anos ou algo novo que não me diz respeito, como Rap e coisas similares, que não considero 'música'. Não sei se isto mudará um dia, pois depende das pessoas se cansarem disto, e obviamente elas não dão sinais que vão se cansar".

Rock And Roll Universe: E sobre a Internet? Você acha que ela pode ajudar os artistas?

Don Brewer: "Acho que está nivelando as coisas de outra forma, e atrapalhando a vida das gravadoras, o que é ruim para todos, já que eles estão segurando seus investimentos. Hoje em dia tudo é fragmentado, segmentado, não ouço mais grandes canções sendo criadas, e eu acredito que este seja um dos motivos. E não há mais lugares para os artistas se exporem como no passado, se eles quiserem mostrar seu trabalho terão de usar seu próprio site, mas não vão atingir uma grande platéia. Realmente não sei onde as coisas vão parar, e acho que ninguém sabe (risos). É necessário que o público queira ouvir coisas novas, daí elas serão criadas, mas enquanto estiverem satisfeitos com as mesmas coisas que vêm sendo oferecidas nos últimos quarenta anos, ou satisfeitos com Rap e música Pop, é isto que eles terão".

Rock And Roll Universe: O que diria para alguém que está iniciando a carreira?

Don Brewer: "Faça isto por diversão, faça com coração e não leve tão a sério. É necessário se dedicar, mas não deixe que isto acabe com sua vida".