Simple Minds (Espaço das Américas, São Paulo, 08/10/13)
Por Durr Campos
Postado em 14 de outubro de 2013
Quando o guitarrista Charlie Burchill e o vocalista Jim Kerr resolveram formar uma banda punk em 1977, ano de ouro para o estilo, não poderiam imaginar o quão influentes seriam em pouco tempo. Naquele ponto Lou Reed e David Bowie eram provavelmente as maiores referências musicais e estéticas, mas em se tratando de SIMPLE MINDS mudanças seriam inevitáveis e até necessárias, incluindo aí uma forte postura política mais adiante. Em sua quarta passagem pelo Brasil, o grupo escocês veio com uma formação nova, porém repleta de vigor e competência cênica – um dos pontos fortes deles, diga-se. O Whiplash.Net esteve no Espaço das Américas no último dia 08 de outubro para acompanhar de perto esta verdadeira jornada supersônica. Acompanhe nas próximas linhas.
Fotos: Fernando Yokota
Contabilizando quase 20 álbuns de estúdio, o Simple Minds veio promover "Celebrate — The Greatest Hits", lançado este ano e que como o nome já entrega, faz um apanhado de toda sua carreira. No entanto, a banda deu um foco especial aos discos "New Gold Dream (81-82-83-84)" (1982) e "Once Upon a Time" (1985), representados com quatro canções cada. Mas foi "Broken Glass Park", uma das duas inéditas na compilação, responsável por abrir os trabalhos com maestria. Jim Kerr esbanjava simpatia e boa forma vocal. "Por favor, me deixa ver as mãos de vocês!", pedia ele. A junção com "Waterfront", do ótimo "Sparkle in the Rain" (1984), foi muito bem aceita e, literalmente, preparou o público para outro clássico, "Once Upon a Time", com destaque para a cantora Sarah Brown, um show de talento. Quem acompanha seu trabalho junto a nomes como Take That, Annie Lennox, George Michael, Simply Red, Phil Collins, Chaka Khan, Duran Duran, Roxy Music, dentre muitos outros, sabe que Mrs. Brown é um desses raros talentos que podem colocar sua voz em praticamente todos os estilos musicais e aqui não foi diferente, pois seu timbre une-se perfeitamente ao de Kerr.
"Mandela Day" foi a grande surpresa da noite, pois a banda já não a tocava há mais de dois anos e também não a incluiu no concerto da noite anterior, em Porto Alegre. Sorte a nossa podermos cantar com eles uma de suas mais belas obras. Esta foi inclusive a primeira a realmente "despertar" o público, até ali se mostrando não tanto participativo. A belíssima "Let the Day" manteve o set em alta, inclusive neste momento Jim provocou os fãs dizendo que a banda estava apenas aquecendo. "Hunter and the Hunted", do já citado álbum "New Gold Dream (81-82-83-84)" inaugurou no repertório aquela pegada New Romantic deliciosa do Simple Minds. Vale lembra que este registro representou uma mudança significantiva para a banda, quando passou a compor um som mais sofisticado, característica daquele movimento da primeira metade dos anos 80. A bolacha produziu à época uma série de singles nas paradas de sucesso, entre eles as também tocadas "Promised You a Miracle" e "Glittering Prize" (que linha de baixo soberba!), além da própria "Hunter...". "All the Things She Said" destacou novamente a atuação de Sarah e não deixou a energia baixar.
Outra de minhas favoritas, "This Fear of Gods", caracteriza-se pela repetição de palavras em um espécie de transe melódico único. Quando Jim canta "Fear is fast/ I'm turning white now/ Faster faster faster/ Faster faster faster/ Fear is fast/ I'm turning white now/ Gods/ Gods/ This fear of Gods..." ou "Some boys are calling/ Boys are crying/ Some boys are calling/ Boys are crying/ Calling calling calling…" percebemos que jogar com os verbetes é algo que os apetece. Nem deu tempo de respirar e "Don't You (Forget About Me)" deu início a um dos momentos mais emocionantes no Espaço das Américas. De fato a casa praticamente veio abaixo quando as primeiras notas ecoaram nos PAs e Jim afirmou que todos a conheciam. Mesmo sendo uma canção meio, digamos, batida, ouvi-la ao vivo é sempre um prazer. Ficou linda a versão! "New Gold Dream", a música, encerrou a parte normal do show e novamente presenciamos as "brincadeiras" com as palavras. Lógico que todos tinham na ponta da língua o trecho "She is your only friend until the bitter end/ She is your only friend until the ocean breaks/ And when you dream, dream in the dream with me/ And when you dream, dream in the dream with me… 81 -- 82 -- 83 – 84/ 81 -- 82 -- 83 – 84." Maravilhosa composição!
O encore veio alguns minutos após com a ótima instrumental "Theme for Great Cities", a qual destaca não só o trabalho nas seis cordas de Charlie Burchill, como as atuações do tecladista Andy Gillespie e do exímio e veterano baterista Mel Gaynor. Em tempo, o baixista Ged Grimes completa o line-up 2013 do Simple Minds. Sarah vem então sem Jim e canta lindamente "Neon Lights" (ou "Neonlicht", como é conhecida na língua nativa dos seus criadores), cover dos alemães do Kraftwerk retirada do álbum "The Man-Machine" (lançado em 1978 na Alemanha sob o título original Die Mensch-Maschine). Inicialmente programada para ser um b-side de outro clássico do enigmático quarteto de Düsseldorf, "Das Model", "Neon Lights" foi tão bem recebida que tomou vida própria e foi posteriormente lançada como um single de 12 polegadas em uma versão em vinil luminoso, item bastante raro hoje em dia. Mas a versão do Simple Minds transformou completamente a ideia original e adequou-se perfeitamente aos tons que os escoceses costumam "pintar" seus trabalhos, se me permitem a metáfora.
Já com Kerr de volta em cena, "Someone Somewhere in Summertime " arranca lágrimas e sorrisos. Esta sempre funciona, pois é ótima para cantar junto devido seu refrão cativante, assim como "Sanctify Yourself", mais uma de "Once Upon a Time" lembrada no repertório. "Querem mais alguma?", pergunta Jim, recebendo de volta um ensurdecedor "sim" da plateia. Então tomem "Alive and Kicking", daquelas obrigatórias desde sempre! Pensei que seria a derradeira, mas lá veio ele de novo perguntar se podiam tocar mais. Sem nem esperar o retorno dos fãs, mandou uma poderosa versão de "Ghostdancing", outro coringa dentre tantos deles. Desta vez tinha certeza de que seria mesmo a última, mas a banda não queria sair do palco. "Conhecem uma chamada Gloria?" Ora bolas, claro que conhecemos Jim, ou é possível nunca termos ouvido no rádio aquele refrão sensacional berrado por Van Morrison "(...) and her name is... G L O R I.../ G L O R I A – Gloria/ G L O R I A – Gloria... I'm gonna shout it all night – Gloria/ I'm gonna shout it everyday – Gloria/ Yeah-yeah-yeah-yeah-yeah-yeah…"? Eu voltei a minha infância, em especial por lembrar das versões de Patti Smith, Santa Esmeralda e, lógico, U2. Final apoteótico perfeito para resumir o que, literalmente, significa uma banda feliz por estar diante de seus fiéis escudeiros.
Set-list
Broken Glass Park
Waterfront
Once Upon a Time
Mandela Day (First time since August 13, 2011)
Let the Day
Hunter and the Hunted
All the Things She Said
Promised You A Miracle
Glittering Prize
This Fear of Gods
Don't You (Forget About Me)
New Gold Dream
Encore:
Theme for Great Cities
Neon Lights (Kraftwerk cover)
Someone Somewhere in Summertime
Sanctify Yourself
Alive and Kicking
Ghostdancing
Gloria (Van Morrison/Them cover)
Sites relacionados
http://www.simpleminds.com/
https://www.facebook.com/official.simpleminds
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