Roger Waters: Caetano Veloso está sendo ingênuo, diz em carta
Por Bruce William
Postado em 01 de julho de 2015
Mais um capítulo da polêmica sobre a apresentação que Caetano Veloso e Gilberto Gil pretendem fazer em Israel no final deste mês; semana passada Caetano Veloso explicou em carta a Roger Waters o motivo pelo qual decidiu fazer o show, conforme pode ser visto abaixo.
Mas Roger Waters enviou outra carta de volta, desta vez dizendo que acha que o brasileiro está "sendo ingênuo" e implorando para que ele mude de ideia, confira abaixo a tradução na íntegra:
Querido Caetano,
Obrigado por gastar seu tempo para responder minha carta. Diálogo é realmente algo importante. Vou responder aos pontos que você levantou. Receio que você possa estar vendo a política israelense sob um prisma cor-de-rosa, pois por muitas décadas, desde a Nakba (catástrofe, a expropriação do povo palestino) em 1948, as políticas coloniais e racistas de Israel têm devastado a vida de milhões de palestinos.
O movimento BDS, ao qual eu estou pedindo que se junte, é um movimento global que demanda a liberdade, justiça e igualdade para todos os palestinos. Ele está aumentando rapidamente por causa da crescente consciência internacional sobre a opressão que os palestinos têm sofrido nesses últimos 67 anos. O atual regime de extrema direita de Netanyahu é simplesmente o último governo que vêm perpetrando atos cruéis de injustiça e colonização. Mas isso não é um problema apenas da direita. Na verdade, foi o partido de esquerda trabalhista quem fundou o programa de assentamentos ilegais e que também falhou em encerrar com a ocupação das terras palestinas e trazer a paz.
Em sua carta, você afirma que Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir acreditavam em Israel antes de morrer. Pode ser verdade, mas isso foi naquele tempo, talvez naquela época eles não soubessem ou não compreendessem a brutalidade da ocupação das terras palestinas e a subjugação do povo. No entanto, eu sei que os assoalhos respingados de vinho e café do Café Flores e do Les Deux Maggots hoje reverberariam com os gritos de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir revirando-se em seus túmulos ao ouvirem seus nomes usados em vão e anexados ao mastro da ocupação e opressão do povo palestino.
Você menciona o Arcebispo Emérito Desmond Tutu, bem, ele está entre os que apoiam o BDS, já que ele observou as ações de Israel e tem profunda simpatia com o povo palestino. Existe, como ele disse a você, um Apartheid nos territórios ocupados que é tão definitivo e desumano como o que havia na África do Sul do Apartheid, quando leis de infames e racistas estavam em prática. Assim como na África do Sul, palestinos e seus direitos legais são definidos pela origem racial ou religiosa. Você consegue imaginar algo assim no Brasil, na Inglaterra, nos EUA, Holanda ou Chile? Não. Por que não? Porque é inaceitável, é por isso que não.
Caetano, se permite fazer uma pergunta, por que você não rejeitaria a cumplicidade com tamanha injustiça agora, assim como você certamente teria rejeitado o racismo branco contra os negros da África do Sul nos anos oitenta?
Sua carta dá a sugerir que você acredita que seu futuro show em Tel Aviv possa vir a ajudar a mudar a política israelense. Eu diria que essa é uma posição ingênua. Infelizmente não é apenas o governo israelense que precisa de uma mudança de mentalidade. Pesquisas apontam que impressionantes 95% do público judeu israelense apoiou os bombardeios a Gaza em 2014 (561 crianças foram mortas), 75% não apoiam um Estado palestino baseado nas fronteiras longamente negociadas em 1967, e 47% acreditam que os cidadãos palestinos de Israel deveriam ser destituídos de sua cidadania.
Não, Caetano, tocar em Tel Aviv não vai mover o governo ou a maioria dos israelenses nem um centímetro, mas vai ser visto como se fosse a sua aprovação tácita ao status quo. Sua presença lá será usada como propaganda pela direita e dará cobertura e apoio moral às políticas ultrajantes, racistas e ilegais do governo de Israel.
É um dilema, eu entendo, mas se você quer realmente influenciar o governo israelense, se una a nós na linha de frente do BDS. Estamos tendo um efeito poderoso como você pode constatar pela reação deles, os agressores vindo com toda a força para tentar esmagar nossas vozes e nos silenciar.
Não seremos silenciados, somos fortes, e juntos nós poderemos ajudar a libertar não apenas o povo palestino da opressão de Israel, mas também o povo de Israel da opressão de seus próprios dogmas, que é fatal a ambos os povos.
Eu imploro que você não prossiga com sua participação em Tel Aviv, e em vez disso tenha a oportunidade de visitar Gaza e a Cisjordânia e ver por si mesmo o que Sartre e de Beauvoir não viveram para ver. Acredito que sua resolução de tocar em Tel Aviv se dissolverá em um mar de lágrimas e arrependimento.
Caetano, eu não conheço você pessoalmente, mas acredito que você tem boas intenções e não carrego nenhum ressentimento. Se você for a Tel Aviv apesar de nossos apelos sinceros, e se você decidir visitar Gaza ou os territórios ocupados, você deverá ter uma epifania. Se você o fizer, por favor procure a gente, procure a todos nós, não só nas comunidades palestinas e judaicas, mas todos nós em solidariedade no Brasil e em outros lugares, todos nós no BDS que estamos em todo o mundo trabalhando por justiça e direitos iguais na Terra Santa. Nós iremos abraçá-lo.
Eu lhe agradeço de novo por se juntar a essa conversa. Por favor, vá e veja as coisas por si mesmo, mas sem se apresentar lá, sem cruzar a linha de piquete do boicote palestino. Talvez a UNWRA possa te ajudar, eles certamente me ajudaram quando eu estava procurando a realidade. Vá e veja as coisas por si mesmo, você não terá que usar sua imaginação. A realidade é muito mais devastadora que qualquer coisa que você possa imaginar.
Obrigado,
Seu colega,
Roger Waters
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