Rodrigo Suricato: "Foi uma surpresa me pegar emocionado por uma canção do Raça Negra"
Por Nelson de Souza Lima
Postado em 29 de agosto de 2020
Rodrigo Suricato, vocalista do Barão Vermelho, é um músico de formação rock/bluseira. No entanto, o compositor, instrumentista e arranjador, tem muitos outros gêneros correndo nas veias. São tão variados a ponto do carioca declarar sua admiração pelo samba e pagode.
"Foi uma surpresa até para mim, artista com origem no blues e rock, me pegar no flagra emocionado por uma canção do Raça Negra", diz. A música em questão é "Cigana", clássico do grupo paulistano, que nos anos 90 tocou em doses cavalares nas rádios brasileiras sendo uma das sete que integram o novo álbum de Suricato.
Cumprindo quarentena em casa o vocalista do Barão mergulhou em seu passado rumo à infância na qual memórias afetivas e musicais afloraram resultando em "Suricateando", disponível somente nas plataformas digitais.
O ecletismo emocional trouxe à tona, além da já citada "Cigana", canções díspares como "Volta Pra Mim", do Roupa Nova, "Deslizes", de Raimundo Fagner e "Faltando um Pedaço", de Djavan, que se transformou num tremendo blues, fazendo sorrir até o banguer mais renitente.
Gravadas em fitas de rolo num estúdio improvisado, apenas com voz e violão, essas pérolas da música popular brasileira revelam um Suricato muito além do blues/rock.
Segundo ele, é legal perceber o quanto a memória das pessoas não é dividida em sub gêneros.
"Tudo que nos emociona faz parte do mesmo compartimento.Todas emolduraram nosso cotidiano e tenho boas lembranças, ainda mais nesse momento onde nossa mente foi revirada do avesso", afirma.
Falando na Covid-19 "Suricateando" serve de afago a quem está quarentenado.
"Foi intencional. Tecnicamente queria as pessoas sentissem que estava cantando dentro da casa delas. Não é fácil chegar nesse som. É uma forma de estarmos próximos. Sinto falta de tudo. A intenção foi realmente dar um presente pras famílias, principalmente os mais velhos. É o momento mais difícil da nossa geração e minha profissão será a última a voltar. Então sigo fazendo projetos e engordando", conclui.
Confira abaixo a entrevista na íntegra com o carioca feita por e-mail
As canções escolhidas para "Suricateando" são patrimônio da música brasileira remetendo à sua infância e que você deve ter tomado conhecimento pelo gosto dos seus pais. Como foi mergulhar nestas lembranças? Voltar ao passado e se rever ouvindo as canções em família.
Rodrigo Suricato - É muito legal perceber que nossa memória afetiva não é dividida em sub-gêneros. Tudo que nos emociona faz parte do mesmo compartimento. Foi uma surpresa até para mim, artista com origem no blues e rock, me pegar no flagra emocionado por uma canção do Raça Negra. Todas elas emolduraram nosso cotidiano e tenho boas lembranças, ainda mais nesse momento onde nossa mente foi revirada do avesso.
O repertório vai da MPB do Fagner e Djavan, passando pelo pop do Roupa Nova, sertanejo e samba. Você as gravou só no violão e voz. Como foi dar a sua personalidade pras canções? "Cigana" tem um assobio que convida a assobiar junto e "Faltando um Pedaço" é instrumental e virou um lamento blues.
RC- Muito do meu exercício de composição vem da apropriação do repertório alheio. Tocar canções de outros artistas diversos me ajuda como compositor. Baixo os tons, mudo tudo até perceber que poderia ser uma canção minha.
"Suricateando" é um afago no ouvinte nestes tempos sombrios com a pandemia aquartelando as pessoas em casa. É como se você falasse diretamente pra quem tá em casa. É um set list que de certa forma serve como antiestresse. O que tá achando dessa situação terrível que atravessamos?
RC - Que bom que você percebeu isso, obrigado. Foi intencional Tecnicamente queria que as pessoas sentissem que estava cantando dentro da casa delas, não é fácil chegar nesse som. É uma forma de estarmos próximos, sinto falta de tudo. A intenção foi realmente dar um presente para as famílias, principalmente os mais velhos. É o momento mais difícil da nossa geração e minha profissão será a última a voltar. Então sigo fazendo projetos e engordando.
"Deslizes" e "Talismã" são composições de Michael Sullivan e Paulo Massadas (que escreveram pra todo mundo nos anos 80). Eles gostaram das suas versões. Pode ser um alento pra uma futura parceria?
RC- O Sullivan se emocionou e me escreveu. É uma honra. Esse cara, por exemplo, conseguiu um canal direto de comunicação com a emoção das pessoas de uma geração inteira. Temo muita admiração pelo que ele realizou.
A pandemia teve inúmeras consequências para o setor cultural. Paralisou shows, exposições, peças teatrais. Enfim, jogou um cenário tenebroso na classe artística. O que espera pra cultura pós-pandemia?
RC- Estou tanto tempo fora dos palcos que nem parece mais uma parte imensa da minha profissão. Parece que me aposentei. Por outro lado, os artistas se viram forçados à pensar em outras soluções digitais. Enquanto os youtubers cresceram e aprenderam as ferramentas, muitos de nós estávamos na estrada. Estamos atrasados. Infelizmente não tenho uma boa esperança à curto prazo para o ambiente offline, nos shows.
Além do trabalho solo você é vocalista do Barão Vermelho. Como o Barão ta fazendo na pandemia pra se manter ativo?
RC- Barão fez uma live e estudamos maneiras de ter uma presença maior online. Eu acabei de fazer uma mega live que virará disco ao vivo, no formato One Man Band que desenvolvo há anos. Será lançado pela minha gravadora, Universal Music. É um formato bem inovador de performance.
"Suricateando" será lançado em formato físico ou somente nas plataformas digitais? Pensa em futuramente tornar este repertório maior e quem sabe fazer shows?
RC- Adoraria que virasse vinil. Por enquanto está em todas as plataformas digitais e sim, certamente esse repertório irá se expandir. Quem sabe um show só dele? Estou aberto pra tudo.
Um recadinho pros seus fãs e do Barão Vermelho.
RC- Queridos incentivadores e amigos, muito obrigado pelo carinho, cuidem-se e em breve estaremos juntos. A vida é urgente!
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