Andreas Kisser e a importante bandeira que ele decidiu levantar após perder a esposa
Por Bruce William
Postado em 15 de setembro de 2022
Andreas Kisser esteve, no começo de setembro de 2022, em uma edição do Panelaço, programa apresentado por João Gordo.
Exatamente na metade do vídeo, depois de falar sobre amenidades musicais e extramusicais, João toca num assunto delicado mas necessário: "Andreas, de repente você ficou viúvo!", e o guitarrista comenta: "Foi uma coisa que começou em 2021, em janeiro, com o diagnóstico de câncer da Patrícia, já sabia era um câncer bem agressivo e sou agradecido de ter ficado em casa com ela durante a pandemia. Agora em 2022 ficou um pouco mais difícil porque voltaram as turnês, voltei a trabalhar, e foi um período mais difícil pra ela também, pra todo mundo da família".
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Andreas conta que ele foi fazer a turnê norte-americana e Patrícia ficou aqui no Brasil fazendo tratamento, até que enquanto ele estava já em turnê pela Europa infelizmente a situação dela piorou demais. "Eu voltei e fiquei os últimos momentos com ela, passando todo aquele processo, ela tava consciente até o último momento só que o corpo realmente já não tava mais funcionando, a consequência do tumor e da própria quimioterapia é realmente tudo muito pesado".
Depois de comentar o apoio e agradecer os músicos que auxiliaram o Sepultura, Andreas explica como a atitude dela foi fundamental para que houvesse uma compreensão maior da condição que infelizmente se abateu sobre ela e a família: "A Patrícia sempre foi uma pessoa muito forte, que agregava muita gente, e pra ela não tinha diferença, tratava todo mundo da mesma maneira. E ela ficou assim até o fim, independente da situação física dela, a cabeça estava muito sóbria. Ela me inspirou muito na vida, obviamente, mas a morte dela também foi uma inspiração absurda de ver a coragem dela, de ela não ter se agarrado a nenhuma superstição".
João comenta que esteve lá e viu o sofrimento dela e surgiu um grande questionamento, que é sobre se a pessoa tem que sofrer até a morte natural", e Andreas emenda: "Cara, é uma bandeira na verdade que comecei a pesquisar porque a nossa família não teve essa opção. E no caso da Patrícia seria uma situação clássica de uma eutanásia. Ela está consciente de saber o que quer, de o corpo estar numa situação irreversível, a família está na mesma página".
Depois Andreas ainda diz: "A Patrícia sempre falou da morte, eu acho que esse é o ponto crucial da sociedade como um todo, não só brasileira mas mundial. Obviamente aqui no Brasil sendo brasileiro tudo é muito mais difícil, muito conservadorismo, muita coisa que atrapalha um diálogo direto e objetivo. Mas é falar sobre a morte. A Patrícia sempre brincou com isso, 'lá no meu caixão eu quero meu travesseiro, eu quero meu cobertor, meia no meu pé, não quero passar frio, eu quero ficar confortável'. E sempre brincou com isso, e não foi no período da doença. Os filhos sabiam, os amigos sabiam, a família sabia, todos sabiam".
Ela dizia que depois de morrer queria ser cremada e suas cinzas colocadas na garrafinha da Jeannie é um Gênio: "Para ficar de olho em vocês lá". E ela sempre zoava com isso, e a gente fez o que ela quis, entendeu? Todo mundo na mesma página, não teve discussão entre a família achar que ela iria querer isso ou aquilo, estava tudo muito tranquilo. E eu acho que é isso que falta, sabe, durante a vida se falar sobre a morte, sem ter preconceito de falar palavras como 'caixão' ou como a pessoa quer isso, quer aquilo, ser quer ser cremada, onde vai jogar as cinzas, a própria cerimônia que é importante".
Em seguida, Andreas fala sobre a questão da eutanásia: "Já tem muita gente falando sobre isso, mas tá muito espaçado". Andreas comenta sobre a situação em países vizinhos como a Argentina e Peru que já estão começando a se abrir para o assunto, fala sobre pessoas que vão para países europeus que permitem a prática, e João Gordo diz "aqui é homicídio!". Andreas se indigna pelo fato do médico ser considerado responsável por um homicídio aqui no Brasil. "A decisão não é dele. O médico é uma ferramenta! Quem decide é o paciente e a família, não é o médico, é uma coisa completamente deturpada, muita preconceituosa de não se falar da morte, de se ter medo. A morte é uma coisa inevitável".
Andreas finaliza este trecho reiterando que a atitude de sua esposa Patrícia preparou a família e até ela mesma para o que viria. "É muito difícil alguém se preparar para um momento daquele, mas é possível, se a gente lidar no dia a dia de uma forma mais leve e mais verdadeira".
Veja no player a seguir a íntegra da conversa de Andreas Kisser com João Gordo no Panelaço, onde eles falam de muitos mais coisas envolvendo a morte e a questão da eutanásia.
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