Professora aponta curiosos erros de português em hits de Raul Seixas, Cazuza, Titãs e outros

Em um vídeo do canal "Tomar Uma", a professora de português Grace Agra comentou alguns curiosos erros de gramática em hits de grandes bandas do rock nacional. Confira abaixo.

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Admirável Chip Novo - Pity

"Quando falamos de poesias, o autor tem uma pequena autoridade para transgredir o idioma, desconsiderando regras gramaticais. Isso acontece em outros gêneros musicais, inclusive no rock. O autor se resguarda na licença poética. O primeiro exemplo é o da Pity, no ‘Admirável Chip Novo’. Adoro essa música, mas tem uma licencinha quando ela fala ‘Aonde estão meus olhos de robô’. Muitos se confundem com o ‘Onde’ e ‘Aonde’. O ‘Aonde’ empregamos quando o verbo é sobre movimento, por exemplo: ‘Aonde vou com você?’. Tem o verbo ir. Dá ideia de deslocamento. O ‘Onde’ é ao contrário. Ideia de coisa parada. ‘Onde está meu robô?’. No caso, ela botou ‘Aonde’, mas precisa ser ‘Onde’".

Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás – Raul Seixas

"Eu adoro o Raul Seixas, mas se falo ‘Há dez mil’ e depois ‘atrás’, existe uma redundância aí. Ou eu falo ‘Eu nasci há dez mil anos’ ou ‘Eu nasci 10 mil anos atrás’. Não seria redundante, mas ele se valeu da licença poética para dar aquela sonoridade. Ele é um gênio, né? Não vamos criticar também! Tinha que rimar com ‘demais’ depois, por isso veio essa construção aí. Ele pensou em tudo, não fiquem revoltados".

Não Olhe Pra Trás – Capital Inicial

"Tem um trecho que a música diz ‘Pode ser fácil se você ver o mundo de outro jeito’. A gente canta e tudo mais, mas tem um pequeno problema com o verbo ‘ver’. Quando começo uma oração com a ideia de dúvida, é uma hipótese. Esse modo é o subjuntivo. Então, o verbo tem que ser ‘vir’. Pode ser fácil se você ‘vir’ o mundo de outro jeito. Esse verbo pega muita gente, as pessoas esquecem que ele flexiona de forma irregular. As pessoas usam muito o ‘ver’, confunde muito".

Domingo - Titãs

"Você encontra essa questão do ‘Aonde’ em muitas músicas. No caso dos Titãs, em ‘Domingo’, eles falam ‘Aonde estou com a cabeça’. O certo seria ‘Onde’, porque ‘Aonde’ remete a um deslocamento. No caso, seria ‘onde estou com a cabeça".

Metamorfose Ambulante – Raul Seixas

"No caso de ‘Metamorfose Ambulante’, o Raul Seixas se confundiu com a regência do verbo ‘preferir’. Isso é comum, muita gente se confunde. Ele fala ‘Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’. Essa frase é linda, mas a regência do verbo ‘preferir’ não é ‘do que’. Não tem preposição + artigo. É apenas a preposição ‘a’. Por exemplo: ‘eu prefiro suco a refrigerante’. Então, o Raul poderia ter feito: ‘Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião formada sobre tudo’".

Geração Coca-Cola – Legião Urbana

"No caso de ‘Geração Coca-Cola’, a música é maravilhosa, mas tem uma parte que ele fala: ‘Suas crianças derrubando reis / Fazer comédia no cinema com as suas leis’. O paralelismo ali está errado, porque no começo ele vem com um gerúndio ‘derrubando’. Então, deveria ser ‘fazendo comédia’ depois. Ele colocou no infinitivo e misturou. Nessa parte, não posso defender não! Não iria atrapalhar em nada! [risos]. Talvez tenha sido uma licença poética".

Malandragem – Cássia Eller

"Quando ouvimos ‘Malandragem’, da Cássia Eller, a letra é do Cazuza. Ele foi um poeta maravilhoso. Temos uma licença poética clara. Não adianta julgar! Ele fala: ‘Quem sabe ainda sou uma garotinha’. Ou seja, é uma dúvida, está no subjuntivo. Então, o certo seria: ‘Quem sabe eu ainda seja uma garotinha’. Como não é certeza, não é infinitivo. Tem que ser no presente do subjuntivo. Nesse caso, se ela cantasse com ‘seja’ seria meio esquisito. Seria uma sílaba a mais".