João Gordo contou como é ser punk velho e lidar com as críticas dos jovens
Por Bruce William
Postado em 04 de junho de 2023
O vocalista João Gordo, do Ratos de Porão, muitas vezes é acusado por parte do público de ser um "traidor do movimento punk". No entanto, em uma entrevista ao Flow Podcast em 2021, que foi reeditada e republicada no ano seguinte, ele respondeu a essas acusações, afirmando que eles não são traidores, mas sim músicos que estavam progredindo dentro da sonoridade do punk.
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"Fomos os primeiros de muita coisa, né? Por isso tem essa fama de traidor do movimento. Na época que todo mundo estava punk rock, a gente como tinha mais informação do que o resto do pessoal estava no hardcore. Na hora que todo mundo começou a ir para o hardcore, nós estávamos no metal, seguindo a onda do povo lá de fora", disse.
Depois o vocalista ainda cita um caso que comprova o que ele afirma: "Os punks viam a gente sempre diferente deles, aí dizem que somos traidores do movimento. Já vem essa coisa, por sermos pioneiros de muita coisa. Se você pegar a capa do nosso primeiro disco, que é o 'Crucificados Pelo Sistema', tem um símbolo do pé de galinha, que é da paz. Não tem nada a ver com os hippies. O pessoal usava nas manifestações anti nuclear nos anos 1950. São aquelas letras de código de avião. Aí falaram que nós somos hippies. O Brasil, por essa falta de informação, sempre foi muito complicado", explicou.

João Gordo ressaltou ainda na conversa que a falta de informação no Brasil sempre foi um desafio, resultando em mal-entendidos e julgamentos equivocados, e que o Ratos de Porão sempre procurou evoluir e explorar novos caminhos musicais, mesmo que isso tenha gerado incompreensões dentro do movimento punk. A ideia do Ratos de Porão era inovar e trazer elementos diferentes para sua música, o que acabou levando a interpretações equivocadas e acusações de traição ao movimento.
Mas como é de se esperar, nem sempre ele tem essa paciência de explicar e comentar o tema, até porque muitas vezes está lidando com pessoas que não estão ali para dialogar e sim para confrontar. Em 2014, durante a coletiva de lançamento do disco "Século Sinistro", ele bateu um papo com os presentes, incluindo três colaboradores do Whiplash.Net: Pedro Zambarda de Araújo, Durr Campos e Diego Camara.

No meio da conversa, perguntaram para ele: "João Gordo, o que é ser punk hoje em dia? Você é punk? Não enche o saco quando aparecem moleques dizendo que você traiu o movimento?", e o vocalista respondeu: "Cara, eu sou punk, mas eu tenho 50 anos hoje. Punk tem a ver com o 'faça-você-mesmo', mas hoje eu tenho contas pra pagar. Não dá pra eu ser jovem o tempo inteiro. Vou ser, tipo, o Sid Vicious? Ou não sou o Sid Vicious. E essa galera novinha, que nem viveu a época, fala isso porque vive na internet. Como eles ficam na rede, aquela é a realidade deles. Então esses comentários ruins que fazem de mim eu nem ligo. Tô cagando mesmo".

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