Como o Deftones ajudou Max Cavalera a se reerguer e recomeçar
Por Mateus Ribeiro
Postado em 12 de maio de 2024
O músico brasileiro Max Cavalera iniciou sua carreira nos anos 1980, quando fundou o Sepultura junto de seu irmão, o baterista Iggor Cavalera. Capitaneado pelo obstinado Max Cavalera, o Sepultura se tornou um titã da música pesada e lançou discos emblemáticos, com destaque para os sensacionais "Beneath The Remains", "Arise", "Chaos A.D." e "Roots".
O último álbum citado no parágrafo anterior foi lançado em fevereiro de 1996 e é a obra mais popular do Sepultura. Pesado, agressivo e inovador, "Roots" balançou o mundo com sua interessante mistura de Metal e música brasileira, que pode ser ouvida em pedradas do calibre de "Roots Bloody Roots", "Attitude" e "Ratamahatta".
Com "Roots", o Sepultura atingiu o auge. Porém, poucos meses após o lançamento do disco, a vida de Max mudou. Dana Wells, seu enteado de 21 anos, morreu em agosto de 1996. A situação mexeu muito com o frontman e com sua esposa Gloria, que além de mãe de Dana, era empresária do Sepultura.
Alguns meses se passaram, o relacionamento de Max Cavalera com os demais integrantes do Sepultura piorou e a bomba estourou em dezembro de 1996, quando ele anunciou que estava fora do grupo.
Apesar de todos os traumas, a vida de Max tinha que continuar. E ele contou com o apoio de um nome popular do Nu Metal para se reerguer: o Deftones. O icônico frontman brasileiro contou como o Deftones foi fundamental para sua recuperação durante entrevista concedida à Metal Hammer, que foi publicada na edição 315 da revista em questão.
"A primeira coisa que fiz depois disso [sair do Sepultura] foi trabalhar com [os caras do] Deftones, que eram amigos de Dana. Eles estavam lá em seu funeral - Chino [Moreno, vocalista] foi, na verdade, um dos carregadores de caixão.
Eles me convidaram para cantar a música ‘Headup’ em ‘Around The Fur’, e foi aí que criei a palavra ‘Soulfly’", relatou Max, que na época, passava por um período complicado.
"Eu estava com raiva por causa de Dana, com raiva do Sepultura. Eu vivia em um quarto escuro, bebia e usava drogas, e não tinha mais música. Meu coração estava partido demais para pensar nisso - eu simplesmente disse a todos que se fodessem e que eu só queria ficar bêbado. Se não fosse pelo Deftones, não sei o que eu teria feito. Foi duro e difícil de fazer, mas foi uma grande catarse e uma grande terapia para mim."
Felizmente, Max conseguiu se reestabelecer e fundou o Soulfly, grupo que lançou seu debut autointitulado em 1998.
"Montei o primeiro álbum do Soulfly rapidamente; eu tinha demos como ‘Eye For An Eye’ e ‘No Hope = No Fear’, mas enquanto estávamos no estúdio, senti que precisava prestar mais respeito a Dana. Então, pensei em ‘Bleed’, porque era assim que todos nós estávamos nos sentindo. Todos nós ainda estávamos sofrendo, ainda estávamos sangrando, por causa de sua morte.
A música foi construída com um groove muito legal, mas foi a letra que a tornou realmente pesada. Letras como 'Ver uma mãe chorar, ver um irmão chorar'... esse era o tipo de coisa que acontecia na minha casa. Eu andava por aí e via a Gloria [Cavalera, esposa de Max] chorando e via as crianças chorando. Foi uma época muito difícil, cara. Eu tinha que colocar isso na música", contou o mais velho dos Cavalera, que relembrou como Fred Durst (vocal do Limp Bizkit) e o DJ Lethal colaboraram com ele na faixa "Bleed".
"Ross [Robinson, produtor] tinha acabado de trabalhar com o Limp Bizkit e disse que achava que eles seriam perfeitos para acrescentar algo à parte do breakdown no final. O DJ Lethal adicionou todos esses sons de scratch muito legais por cima, mas Fred simplesmente escreveu a letra na hora. Foi elétrico. Acho que foi uma das melhores coisas que ele já fez. Estávamos todos muito empolgados, especialmente porque as coisas que ele estava dizendo eram muito irritantes. Ele não conhecia Dana, mas realmente entendeu a mensagem da música. Era uma música triste, mas também muito irritada, o que foi emocionante. Acho que foi por isso que ela fez tanto sucesso; aquela raiva sincera realmente tocou as pessoas."
No fim das contas, o Soulfly se tornou o principal projeto de Max Cavalera. O grupo continua na ativa e seu álbum mais recente é o ótimo "Totem", lançado em agosto de 2022.
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