Como o Brasil ajudou Peter Frampton a criar um hino roqueiro de rebeldia
Por Bruce William
Postado em 10 de junho de 2024
"A música é um hino de rebeldia e autoafirmação. A letra fala em nome de uma coletividade, 'nós somos o povo, um e todos', sugerindo uma união entre as pessoas que enfrentam desafios, desde a 'entrega até a queda', uma metáfora para as diversas fases da vida e as lutas enfrentadas"(...)A repetição da frase 'e estamos quebrando todas as regras' ressalta a disposição para desafiar as normas estabelecidas e recusar-se a ser 'tolos' que seguem cegamente sem questionar".
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É assim que o letras.mus.br analisa "Breaking All The Rules", uma da músicas mais famosas de Peter Frampton aqui no Brasil, graças em boa parte inclusive ao seu uso em comerciais de cigarro nos anos oitenta, no que é descrito como uma "brilhante estratégia de empresários brasileiros", já que as canções - sempre temas poderosos com fortes refrões e guitarras ou teclados marcantes - supostamente eram oferecidas de graça para a empresa que produzia os comerciais, e a massiva exibição televisiva alavancava o sucesso destas canções, que com isto se tornavam grandes hits.
A letra de "Breaking All The Rules" foi feita por Keith Reid, que foi letrista de todas as músicas do Procol Harum, banda que ele ajudou a fundar e ao qual ele sempre esteve associado, embora nunca tenha tocado nenhum instrumento ou sequer gravado algo com a banda. É dele a autoria da letra da música mais famosa da banda, "A Whiter Shade Of Pale".
Mas vamos voltar um pouco no tempo para entender o contexto em que Peter Frampton gravou "Breaking All The Rules": em 1971, o guitarrista decidiu deixar o Humble Pie para seguir carreira solo. Apesar de elogios que recebia dos pares, e de bons álbuns lançados no começo de sua trajetória, somente em 1976 com o "Frampton Comes Alive!" é que Peter atingiu de fato o estrelato, já que o disco duplo se tornou o álbum ao vivo mais vendido da história, trazendo hits como "Baby, I Love Your Way", "Show Me The Way" e "Do You Feel Like We Do".
Tentando se manter na crista da onda, Peter lança em seguida o álbum "I'm in You" cuja faixa título emplaca nas paradas e continua excursionando intensamente, até que um acidente de carro quase fatal nas Bahamas em 1978 faz com que ele se veja obrigado a tirar o pé do acelerador. No ano seguinte, mais um álbum, "Where I Should Be", com duas músicas que até vão bem: "I Can't Stand It No More" e "It's A Sad Affair", mas bem longe do mega sucesso de dois anos antes.
E neste meio tempo surgiu a oportunidade dele se apresentar na América do Sul, o que lhe serviria de inspiração para outro grande hit de sua carreira, "Breaking All The Rules". E tudo começou com um EP gravado e lançado exclusivamente para esta turnê, que ganhou o nome "Rise Up" e saiu somente em alguns países da América Latina.
Informações sobre a primeira vinda de Peter Frampton ao Brasil são um bocado confusas, com fontes afirmando que ele esteve aqui entre 1978 e 1982. Mas muito provavelmente a data correta seja 1980, já que foi, sem dúvidas, neste ano saiu o EP. "Este álbum foi lançado no Brasil para promover a nossa turnê de 1980, e ele acabou se transformando no 'Breaking All the Rules', lançado no ano seguinte", contou Peter Frampton (via Wikipedia).
E "Breaking All The Rules" é uma das músicas do EP, e foi registrada por Frampton nas guitarras e vocal, John Regan no baixo, Elliot Randall na segunda guitarra e Jamie Oldaker na bateria. Mas a versão que ficou famosa e saiu no disco de mesmo nome é ligeiramente diferente, pois somente Frampton e Regan estão em ambas: nesta nova gravação quem tocou a segunda guitarra foi Steve Lukather, enquanto a bateria ficou por conta de Jeff Porcaro.
Como surgiu a música "Breaking All The Rules" do Peter Frampton?
Peter Frampton contou a história de algumas de suas músicas mais famosas para a Guitar Player. Vamos ver o que ele falou sobre "Breaking All The Rules".
"Eu estava conferindo fitas antigas de jams porque queria fazer uma faixa realmente rock and roll. Encontrei essa jam minha e de John Siomos e achei que soava ótima. Era como se estivéssemos fazendo algo no estilo dos Stones. À medida que ouvia, pensei: 'Não, é mais do que isso.' John estava arrasando. O riff era bastante poderoso, então terminei a música, e lá estava ela".
John Siomos foi o baterista que gravou "Frampton Comes Alive". "Eu estava trabalhando com David Kershenbaum como meu co-produtor, e conversamos sobre fazer um disco de rock com um som bem ao vivo. Gravamos em um palco de som no lote da A&M. Foi uma diversão fazer as faixas. Eu tinha John Regan no baixo, Arthur Stead nos teclados, e metade do Toto: Steve Lukather na guitarra e Jeff Porcaro no baixo. Tocamos como uma banda ao vivo de verdade, e cada vez que tocávamos a música, ela ficava cada vez melhor. Tocar com Luke era assustador. Ele é um cara adorável e louco", conta Frampton, entre risos.
"É uma música bastante agressiva, e sentimos que precisávamos de letras fortes, então enviei uma fita cassete para Keith Reid. Ele era um letrista brilhante. Conversamos por telefone e eu disse a ele o que estava procurando, e ele me enviou mais do que o suficiente de letras para uma música - parecia um livro. David Kershenbaum e eu passamos por tudo e escolhemos todas as linhas que se encaixavam melhor. Foi ótimo. Pensar que Keith e eu fizemos tudo pelo correio. Não tínhamos Zoom naquela época!".
Em outra entrevista, desta vez com a Classic Rock, ao falar sobre algum arrependimento que teve ao longo de sua vida, Frampton revelou: "Apenas duas coisas: teria esperado para fazer um álbum depois do 'Comes Alive!', e jamais teria lançado o 'I'm In You'. 'Breaking All The Rules' teria sido um sucessor muito mais à altura".
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