O disco que salvou a carreira do Thin Lizzy e ajudou a definir o heavy metal
Por Yuri Apolônio
Postado em 31 de março de 2025
A importância do Thin Lizzy para o surgimento e a popularização do rock pesado é algo que não pode ser ignorado, ainda que a maioria das pessoas, incluindo muitos amantes do rock, não faça a mínima ideia disso. O que não é de todo estranho, dado que as canções mais populares da banda são um tanto diferentes daquelas que inspirariam bandas como o Iron Maiden, Metallica e tantas outras no futuro.
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Mas não se engane, os irlandeses liderados pelo lendário Phil Lynnott são muito mais do que uma banda underground que chamou atenção somente de um pequeno grupo de roqueiros adolescentes em início de carreira durante a segunda metade dos anos 70.
A obra mais marcante do período varia de fã para fã, mas há uma que é especial: o sexto álbum do grupo, o "Jailbreak", de 1976, primeiro de uma série de lançamentos que marcam a era de ouro do banda.
É com o "Jailbreak", afinal, que o Thin Lizzy finalmente encontra seu som característico e passa a ganhar algum dinheiro com a música, o que não somente os motiva a seguirem em frente, mas que lhes daria segurança para que explorassem ainda mais o estilo o qual haviam ajudado a criar.

Quando no lançamento do "Jailbreak", no início de 1976, o Thin Lizzy já possuia alguma experiência na área, com cinco discos no mercado. Desses período, é possível dividir a história da banda em duas fases: A primeira, como um trio, envolve os primeiros três álbuns, onde a banda apresenta um som mais leve, eventualmente com pegadas hard rock, outras mais folk e bastante singular. E a segunda, com dois guitarristas, responsável por criar a sonoridade característica da banda, que inclui uma cozinha poderosa e guitarras em harmonias, mas sem perder de vista as baladas e as canções mais leves.
Após o "Fighting", segundo lançamento da banda com duas guitarras, o Thin Lizzy começa a trabalhar em novas composições, resultando nas gravações para o "Jailbreak" seguinte se iniciando menos de três meses após do lançamento a obra anterior. Os registros da obra ocorrem no The Kitchen, em Londres, local onde recentemente haviam sido gravados, ainda que parcialmente, discaços como o "Quadrophenia", do The Who, em 1973, e o "Crime of the Century", do Supertramp, no ano seguinte.

Para produzir a obra, a banda opta por John Alcock, devido a sua reputação em conhecer bem o local. Phil Lynnot não participa da produção, como havia feito nas produções mais recentes. Talvez por isso, ambos guitarristas ficam insatisfeitos com as escolhas do produtor, em especial por não lhes dar liberdade suficiente para improvisarem mais suas partes. Scott Gorham comenta que John Alcock parecia não se importar muito o tom das guitarras do álbum.
De qualquer forma, quando lançado, o sexto álbum do Thin Lizzy, em março de 1976, torna-se a primeira e única obra da banda a alcançar a certificação ouro, tanto nos Estados Unidos (o que significa 500 mil cópias vendidas) quanto na Inglaterra (que representa 100 mil cópias).

Muito do sucesso do Jailbreak ocorre devido ao single "The Boys Are Back in Town", lançado no mês seguinte ao álbum. "The Boys Are Back in Town" é a canção de maior sucesso do Thin Lizzy, até os dias de hoje. No Spotify, por exemplo, é a faixa mais tocada da banda, com bastante folga até.

Na época, o que evidenciaria o sucesso do compacto é o fato dele alcançar o topo das paradas na Irlanda, o 8º lugar no Reino Unido e o 12º na Billboard, nos Estados Unidos.

Em 1976, ainda, a canção vence o prêmio de melhor single do ano pela revista New Musical Express. Outro reconhecimento à canção é a sua inclusão na lista revisada das 500 Melhores Canções de Todos os Tempos, da Rolling Stone, na posição de número 242.
De acordo com Scott Gorham, "The Boys Are Back in Town" não somente foi um sucesso, como também salvou o Thin Lizzy. Segundo ele, o Jailbreak estava vendendo muito lentamente, e que caso os resultados permanecessem no patamar dos álbuns anteriores, a banda certamente acabaria. Para Gorham, o sucesso do single, entretanto, acabou sendo uma enorme surpresa para o grupo, uma vez que a faixa nem sequer estava entre as dez canções escolhidas inicialmente para integrar Jailbreak.

O segundo single do Jailbreak é a mistura entre punk e hard rock da canção título. Ela não obtém a mesmo sucesso do single anterior, mas, ainda assim, alcança a boa 31ª posição nas paradas britânicas. O terceiro e último single do álbum é a balada "Cowboy Song", que, no período, não ganhou tanta atenção da banda, embora tenha se tornado um clássico do Thin Lizzy pouco tempo depois.
No que diz respeito às demais canções do Jailbreak, além dos citados singles, há algumas faixas que merecem ser citadas. Warriors é uma delas, por ser um exemplo perfeito de "proto heavy metal". Afinal, temos aqui um baixo galopante e guitarras gêmeas fazendo riffs simples e marotos. A parte final, logo após o solo, em especial, vale a pena prestar atenção.

A respeito da letra, Phil Lynott descreve que quando escreveu Warriors, ele percebeu que a única maneira de descrever usuários de drogas pesadas era como "guerreiros", pois eles simplesmente vão lá e fazem. Como exemplo, Lynnot cita Jimmy Hendrix e Duane Allman, os quais, segundo ele, estavam perfeitamente conscientes de que estavam levando a coisa o mais longe possível.
Algo que Phil Lynnot aprendeu com a razoável experiência adquirida ao longo de cinco álbuns lançados até então era a importância de um single para alavancar as vendas de um disco. Isso porque, antes do lançamento do "The Boys Are Back in Town", a canção que a banda acreditava que deveria ser lançada como single para o "Jailbreak" era a balada "Running Back". Para isso, Lynnot e o produtor removeram as guitarras de Robertson e contrataram um tecladista para adicionar algumas partes. O que, a meu ver, deixou a canção muito "açucarada". Existe uma versão demo dela, lançada oficialmente pela banda, que mais parece Bruce Springsteen mas que é mais interessante que a original.

"Angel from the Coast", a segunda canção do álbum, é outra pérola. As guitarras variam em um estilo meio funk, meio jazz, mas sempre com peso a mais e cheia de pequenos detalhes criativos que a engrandecem.
Por fim, não tem como falar do "Jailbreak" e não citar a última canção: Emerald. Meu amigo, que pedrada! Isso aqui é mais Iron Maiden que o próprio Maiden em alguns períodos! O que acontece aqui do início até o meio já seria o suficiente pra fechar o álbum, mas aí ainda tem um trecho que destaca as guitarras em harmonia, até crescer para Gorham e Robertson se revezarem, cada um tocando uma passagem do solo, como em um duelo.
Algo curioso sobre Emerald, é que além de ser um "proto heavy metal", ela usa algumas características da música irlandesa, com o ritmo 6/8 e uso de tercinas. Trata-se sem dúvida, é um dos pontos mais altos não somente do álbum, mas também de toda a carreira do Thin Lizzy.

Este texto é um trecho do roteiro para o vídeo "Jailbreak (1976): a história do disco que ajudou a definir o heavy metal", publicado no canal "No Rastro do Som", no YouTube. Nele, conta a história da criação da banda até finalmente obterem algum sucesso comercial, com seu sexto álbum. Se quiser conhecer o conteúdo completo, é só clicar no vídeo abaixo.

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