Epic Doom Metal: Nem só de Candlemass vive o lado épico do Doom
Por Bruno Rocha
Fonte: Encyclopaedia Metallum
Postado em 20 de outubro de 2016
O Heavy Metal é um gênero que se metamorfoseia perfeitamente de acordo com a visão e a criatividade de quem compõe, tal qual um líquido que se adapta à forma do espaço que ocupa. Dentre as várias facetas nas quais o Metal se apresentou desde sua fundação até hoje, o Doom Metal é a que melhor herdou a característica de se metamorfosear.
O gênero surgiu surgiu com o BLACK SABBATH e com o SIR LORD BALTIMORE no começo dos anos 70 (BLACK SABBATH é Doom? É sim, senhor!) e tomou proporções maiores nos anos 80 com o pioneirismo de PENTAGRAM, SAINT VITUS e TROUBLE.
Agora, um parênteses: Para o bem da verdade, o PENTAGRAM é contemporâneo do BLACK SABBATH e já fazia Doom Metal nos Estados Unidos no começo dos anos 70. Mas enquanto a banda britânica de Ozzy Osbourne alcançou a fama, a americana de Bobby Liebling se manteve no underground durante toda aquela década. Por isso sempre é lembrada como sendo dos anos 80. Fecha parênteses.
Pois bem. O que faziam basicamente os pioneiros do Doom nos anos 80? Pegavam a sonoridade moldada pelo BLACK SABBATH e retiravam tudo que fosse influência do Blues, de modo que o que sobrava eram os ritmos lentos e riffs mórbidos, ou seja, foi descoberta a essência do Doom Metal. Longe da Inglaterra ou dos EUA, mas na verdade em Estocolmo, Suécia, um visionário denominado Leif Edling fundou uma banda chamada NEMESIS, que dois anos depois mudaria o nome para CANDLEMASS. A proposta da banda de Leif era fazer um som fortemente inspirado em BLACK SABBATH, mas sem se prender a fórmula dos ingleses. Leif pegou a essência do Doom e misturou doses de outras fórmulas do Heavy Metal, como um pouquinho do peso do Thrash e outro pouquinho das características do Progressivo. Também se preocupava em recrutar vocalistas que passassem drama e emoção em suas vozes, propagando as histórias contidas em suas letras. Eis que em 1986 sai o primeiro álbum do CANDLEMASS, e seu título batiza um novo jeito de fazer Heavy Metal: Epicus Doomicus Metallicus! Nasce então o Epic Doom Metal. E, seguindo os ensinamentos de Tony Iommi e, agora, de Leif Edling, outras bandas surgiram fazendo Doom como estes ensinaram. Falar de Epic Doom e CANDLEMASS é como tocar fogo em cinzas, então, conheçamos outras bandas do gênero.
A primeira delas não poderia ser outra senão SOLITUDE AETURNUS. Fundada no ano de 1987 em Dallas, Texas, é o maior nome do Epic Doom depois da banda do sueco que foi citado no páragrafo acima. Com muita identidade em seus sons, agregava em seus primeiros discos doses cavalares de Thrash e Prog, além do exotismo de escalas orientais. Com o passar do tempo, diminuíram um pouco a dose de Thrash, mas não deixaram de serem agressivos à sua maneira. Sem contar que Robert Lowe é dono de uma das maiores e mais assombrosas vozes do Heavy Metal. Confira abaixo "It Came Upon One Night", de 1992, do clássico seminal "Beyond The Crimson Horizon"
Mais um nome considerado do Epic Doom é o do SOLSTICE. Fundada em 1990 em Bradford, Reino Unido, a banda tem em sua discografia dois álbuns de estúdio, um EP e diversos outros tipos de lançamentos entre demos, splits e coletâneas. A razão da falta de mais frequência em lançar sons inéditos é a grande rotatividade de integrantes; o único membro constante é o guitarrista fundador Richard M. Walker. Ouça a seguir "Only The Strong", do álbum "Lamentations" (1994).
Vamos agora para a Suécia, mas não é para ver o CANDLEMASS, mas sim o SORCERER. A banda foi fundada em 1988 e encerrada em 1992, depois que o baixista Johnny Hagel saiu para integrar o grande TIAMAT. Em 2010, Johnny e o vocalista original Anders Engberg reativaram o SORCERER com novos integrantes nos demais postos. Em 2015 finalmente sai o primeiro álbum, o excelente e pesado "In The Shadow Of The Inverted Cross". Confira a faixa nº 6 deste álbum, "Prayers For A King".
Desçamos à Alemanha e conheçamos o DOOMSHINE. Esta banda é uma verdadeira homenagem e adoração ao Doom Metal. Desde o nome da banda, passando pelos nomes dos álbuns; o debut de 2005 se chama "Thy Kingdoom Come" (Não está errado não. É Kindoom mesmo! É Doom!); o segundo, de 2010, é o "The Piper At The Gates Of Doom". O terceiro, de 2015, tem nome mais comum: "The End Is Worth Waiting For". A sonoridade também nos remete logo a SOLITUDE AETURNUS e CANDLEMASS. Apesar das influências aparecerem bem latentes, é uma banda que sabe pôr identidade em suas canções. Refrões marcantes e músicas progressivas são onipresentes nos álbuns do DOOMSHINE. E o nome da música do vídeo abaixo não poderia ser mais sugestivo: faixa nº 1 do álbum de estreia, "Where Nothing Hurts But Solitude"!
Vamos agora para a Polônia. Imagine Robert Smith, vocalista do THE CURE, tentando imitar Bruce Dickinson ou Messiah Marcolin. Você terá então noção de como canta Michał Strzelecki, o formidável vocalista do MONASTERIUM. A banda foi fundada recentemente, e agora em 2016 saiu o debut auto-intitulado. Ouça a música "Christening In Blood" e conheça mais um filho do CANDLEMASS e mais uma poderosa voz de Heavy Metal:
Ainda na Polônia (oh terra para brotar banda boa!), temos o EVANGELIST. Imagine o GHOST B.C. soando mais pesado. O Epic Doom desta banda soa marcial e majestoso. Os vocais são soturnos, e lança-se mão frequentemente de harmonias vocais que remetem aos cantos gregorianos. Assim como o GHOST B.C., os membros não revelam(avam) suas identidades, mas uns dois deles já são conhecidos e sabe-se por exemplo que integram o MONASTERIUM, protagonista do parágrafo anterior. Outra curiosidade é que eles regravaram e lançaram em 2014 uma versão em marcha lenta de um clássico-mor do Black Metal: "Freezing Moon", do MAYHEM. Surpreenda-se e curve-se ante à música do EVANGELIST, com a música "Militis Fidelis Deus".
Vamos agora para o Chile conhecer uma surpreendente banda de Epic Doom que toma injeções fortíssimas de Progressivo, o CAPILLA ARDIENTE. Essa banda fundada em 2006 lançou em 2014 seu debut, "Bravery, Truth And The Endless Darkness". Um Doomzão com bases pesadas, vocais poderosos, bateria socando a cara do ouvinte e solos, muitos solos de guitarra espalhados pelas músicas. Tudo muito técnico e, mais importante, no seu devido lugar, sem exageros ou masturbações desnecessárias. Confira uma amostra no vídeo abaixo, a faixa nº 3 do álbum citado, "Towards The Midnight Ocean".
[an error occurred while processing this directive]Para encerrar, já que estamos na América do Sul, voltemos ao Brasil e enalteçamos o maior nome do Doom Metal nacional, o MYTHOLOGICAL COLD TOWERS. Fazer Rock no Brasil não é fácil; fazer Heavy Metal é mais difícil ainda. Agora, fazer Doom Metal, um som introspectivo, em meio a um povo tão quente quanto o clima e que gosta de extravasar e colocar seus demônios para fora, é um trabalho de guerreiro hercúleo! Esta instituição já presta serviços ao Doom há 22 anos. Embora seja frequentemente enquadrado no Death/Doom, a sonoridade do MCT tem muito do épico, vide as paredes sonoras climatizadas por teclados misteriosos e atmosféricos que criam todo um cenário épico para os vocais guturais de Samej contarem histórias da América pré-colombiana. Confira "Vetustus", música 2 do mais recente álbum, "Monvmenta Antiqva".
Existem várias outras bandas fazendo o Doom Metal que Leif Edling ensinou. Muitas delas tão-somente copiam a mesma fórmula, é verdade. Mas outras conseguem impor suas visões e interpretações musicais em meio a fórmula do Epic Doom, de modo que nem só de CANDLEMASS vive este tão grandioso subgênero do estilo lento do Heavy Metal. A exceção de SOLITUDE AETURNUS, todas as demais não tem o devido reconhecimento, e os motivos para tal quase sempre são alheios à música, como frequente troca de integrantes, por exemplo. Mas estas e outras bandas estão aí, guerreando no difícil terreno do Doom Metal, vencendo batalhas e escrevendo seus épicos para a posteridade.
[an error occurred while processing this directive]Comente: Quais as suas bandas preferidas de Epic Doom Metal?
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