Magellan: entrevista com Trent Gardner
Por Daniel Vasconcelos Gomes
Postado em 30 de julho de 2014
Apesar da triste notícia do falecimento do guitarrista Wayne Gardner no começo deste ano, seu irmão Trent, tecladista e vocalista principal, continua atuante conduzindo bravamente com legado de uma das bandas de rock progressivo americanas mais importantes. Formado em 1985 pelos dois irmãos, o Magellan sempre se caracterizou por sua música desafiadora embora bastante melódica e recheada de linhas de guitarra pesadas temperadas por arranjos vocais complexos, na verdade cantados por duas pessoas apenas. De um lado Trent apontava os rumos harmônicos e rítmicos e do outro Wayne cortava o ar com sua guitarra segura e riffs matadores de guitarra.
Trent Gardner é o que podemos chamar de compositor prolífico e esteve envolvido em super grupos (Explorer's Club), projetos pessoais (Leonardo) e participando de projetos de outros grandes músicos e artistas como Steve Walsh e Chicago. Isso sem contar os projetos musicais que ele se dedica no dia dia profissionalmente. No entanto, cá entre nós, o Magellan sempre será seu projeto mais vanguardista, onde o músico se propõe a fazer experimentações ao mesmo tempo em que pode criar uma canção direta repleta de swing ou melodias vocais. E é claro um belo solo de trombone!
Antes de tudo eu gostaria de oferecer minhas condolências a você e sua família pelo falecimento do grande músico Wayne Gardner. Existe algo que sempre me intrigou, apesar de Wayne sempre trocar linhas de guitarra progressivas complexas, também sempre me pareceu que ele tinha uma paixão pelo heavy metal. Eu acho que essa mistura única fez o Magellan uma banda singular. Wayne era um músico meticuloso não era ? Por exemplo, eu não consigo ver o primeiro álbum do "Explorer's Club"sem ele, por que parece os músicos todos estão seguindo suas direções...
Trent Gardner:Obrigado pelas palavras compreensivas sobre Wayne. Ele era definitivamente um músico de orquestra. Ele possuía um instinto em relação ao que eu estava pensando composicionalmente e quase instantaneamente tinha uma ideia do que tocar. As próximas músicas que eu vou lançar, incluindo "ICONS" que está quase completa, terão pares gravadas por ele. Os outros músicos no Explorer's Club tinham uma excelente fundação para começar a trabalhar e por isso tanto Bozzio (Terry Bozzio, bateria) quanto Petrucci (John Petrucci, guitarra solo) tiveram facilidade para adicionar as partes deles. Eles entenderam o que eu estava tentando fazer e até certo ponto acho que nós fomos bem sucedidos.
Trent, você trabalhou em vários projetos e com artistas diferentes durante esses anos todos. Eu me atrevo a dizer que você trabalhou com alguns dos melhores. Qual você considera seu maior trabalho ? Para mim isso varia, mas hoje em dia é o álbum "Hundred Years Flood".
Trent Gardner: Em termos de outros músicos, trabalhar com Steve Walsh on "Glossalia" foi uma oportunidade fantástica. Sem fazer uma lista completa, acho que ter feito arranjo de sopros para a banda Chicago foi surpreendente. A parte mais importante para mim é extrair elementos de cada músico e adicioná-los ao meu "arsenal" pessoal musical. Eu acredito que o meu pico criativo acontecerá em um cinco anos assim talvez eu consiga achar "aquele" engenheiro perspicaz capaz de entender o que queria fazer e me ajudar a obter os resultados sonoros que estou procurando para mixagem e etc. Se eu pudesse trabalhar com Jeff Lynne e fazer o Magellan soar como o antigo ELO encontrando Genesis mas com guitarras pesadas... Agora isso seria um pico para mim! É normal sonhar!
Eu me lembro quando ouvi o Magellan pela primeira vez tocando "Don't Kill The Whale" do Yes. Apesar da versão original ser uma boa canção como um todo, eu sempre achei que vocês a melhoram, essa versão possui alguns dos grandes elementos que eu vejo em sua música como balanço entre os "grooves" e as partes mais pesadas temperadas por uma estética progressiva. Foi uma surpresa saber mais tarde que o Magellan consistia de duas pessoas: você e o Wayne. Como é colocar esse tecido complexo junto para criar a música do Magellan ?
Trent Gardner: Cada música do Magellan começa comigo brincando com as partes. É baseado em uma abordagem composicional. Eu tenho uma ideia do quê eu gostaria que cada músico da banda fizesse. O desafio é claro é encontrar um modo de executar as ideias em um ambiente de gravação. Talvez porque exista muita experimentação, o processo se transforma em uma maratona de persistência e comunicação, tentando explicar aos músicos o que gostaria de fazer. A outra parte é que eu "despedi" todos os meus estúdios e engenheiros de som, e então sou obrigado como um artista caseiro a fazer representações do que a canção pode ser tornar. Na maioria das vezes isso resulta em uma versão "finalizada" que é lançada ao público. Na minha mente ainda é apenas um trabalho em andamento. Em dado momento é saudável deixar a música nesse estado já que várias barreiras, obstáculos e a realidade fazem com que levar a canção a um outro nível seja mais um desafio técnico do que um desafio de performance. Ironicamente, tocar as músicas é a parte mais fácil. Gravar ? Eu odeio! Eu preferia ficar o dia todo tratando os canais dos dentes. Eu realmente detesto os sistemas DAW e todos os plugins e a droga que é gerenciá-los. Eu finalmente estou satisfeito com o STUDIO ONE após tentar todos os outros por anos.
Quando eu comprei o cd "Impending Ascension" não era fácil encontrar cds da Magna Carta aqui no Brasil, mas a loja que eu estava tinha uma cópia. Eu pedi para que eles tocasse o cd ali mesmo e dono olhou espantado para mim me perguntando de onde vocês vinham. Eu fico imaginando por quê o rock progressivo nunca foi uma coisa grande nos EUA a despeito de ter grandes artistas no gênero porque fora no nicho especifico dos fãs ninguém realmente veio a conhecer Illuvatar, Glass Hammer, Magellan, Echolyn, Spock's Beard, Leger De Main, Cairo e muitas outras grandes bandas de rock progressivo Americano dos anos 90. Você acredita que houve mesmo uma geração do "novo rock progressivo" nos anos 90 nos EUA ?
Trent Gardner: Definitivamente algumas... Eu me lembro de visitar uma loja da Tower Records em Sacramento e ver tanto Magellan quanto Dream Theater nas prateleiras. Isso me inspirou a continuar, a despeito do fato de que vivíamos em um nicho de mercado. Era incrível ser "pré-internet" e receber cartas escritas a mão por fãs de todo o mundo. As pessoas estavam conhecendo as músicas. Aquele período me ajudou a forjar uma vida na música. Cada projeto e colaboração levou ao próximo. Antes que eu me desse conta, eu estava trabalhando o tempo todo. Por anos eu tenho trabalhado em vários projetos privadamente e devido aos meus contratos com esses artistas eu não discuto os projetos deles. Mas nenhum deles é de rock progressivo.
Você não é somente um músico qualificado e produtor você também trabalha no mercado de venda e propaganda de música digital, assim o que você acha do novo formato ? Não especificamente os downloads ilegais, mas mídia digital como um novo modo de vender música ? O que você acha das restrições geográficas? Por exemplo eu comprei vários álbuns digitais do Magellan no site 7Digital mas semana passada verifiquei e agora os cds da Magna Carta estão restritos aos EUA e Europa. Como lidar com isso? Eu sei que várias novas canções do Magellan estão sendo vendidas através do seu web site e também alguns dos últimos discos, o que indica um bom caminho a seguir, certo ?
Trent Gardner: Eu certamente gosto da facilidade de vender online. Minha principal reclamação é a noção de música, como um produto, ser tão desvalorizada. É claro que isso se aplica ao contexto atual. Cada artista deve procurar seu nicho e criar um processo que funcione para eles. Meus métodos de conectar-se apenas com pessoas suficientes para suportar minha criatividade não vão funcionar para a próxima banda. Eles tem que desenvolver seus próprios métodos. Eu posso dizer que grandes serviços como Itunes ou Amazon são apenas parte do retrato. Se qualquer banda quiser conselhos em como fazer dinheiro de fato com música, a resposta é simples: fechem o browser e comecem a falar pelo telefone e a vender diretamente. É incrível o que você consegue realizar com um pouco de esforço todos os dias. Ter várias músicas disponíveis nos serviços online também é uma boa ideia. Cada venda traz para casa alguns dólares por mês e se somam ao total. Parem de reclamar sobre seu disco não chegar 'a lugar algum...encontrem seu próprio nicho de mercado e trabalhem com ele. Alinhem suas expectativas com a realidade. Eu gostaria de não ser restringido geograficamente quando estiver comprando um álbum é claro, mas como um vendedor o resultado das vendas pode ser ruim, então existe pouca escolha.
Que tipo de música mais o influenciou? Eu sempre me perguntei sobre os seus 5 discos preferidos:
Trent Gardner: Meus 5 albums favoritos são:
1. Out Of The Blue (ELO)
2. Songs From The Wood (Jethro Tull)
3. 90125 (YES)
4. Chicago II (Chicago)
5. Left Overture (Kansas)
No que fiz respeito às influências Rush, Genesis, Tower of Power, Chicago, ELO, Kansas, Tull.
Eu comprei várias de suas últimas canções, mas elas não estão ligadas a um disco específico ainda. Você planeja lançar a coisa toda em um novo álbum ou alguma coisa parecida ?
Trent Gardner: Eu continuarei escrevendo e lançando pequenos singles, até mesmo faixas longas. Quando eu achar que possa selecionar o melhor desse material e adicionar outro grupo de canções que eu vá manter e se existir quaisquer razões econômicas para lançar um novo cd, a resposta é sim. Em um futuro próximo parece improvável, mas eu posso fazê-lo repentinamente e surpreender as pessoas. Eu estou explorando um conjunto de novas canções que possam se qualificar em algum ponto e eu também estou atrelado ao meu trabalho com música. É bom estar ocupado! Eu gostaria que os fãs do Magellan soubessem que coisas novas legais vão acontecer em 2014. Eu vou introduzir um novo guitarrista solo que vai realmente assustar as pessoas...assustador. Estou feliz em dizer que o Wayne, antes de falecer gravou muitas linhas rítmicas de guitarra, assim é bastante inspirador ouvi-lo através dos monitores...Isso ainda é Magellan. É uma coisa boa de se sentir.
Site oficial:
http://www.magellansongs.com/
Daniel é um antigo fã de heavy metal, aliás desde o Rock in Rio 1, quando ficou estigmatizado como "metaleiro rock in rio", mas ele continua nas trincheiras até hoje. Seus gêneros favoritos são prog metal, prog rock, death metal e thrash metal e gosta de pensar que aprecia muitas outras coisas. Ele é casado, programador nas horas não vagas, fã de ficção científica e quadrinhos e tem uma boa missão pela frente: fazer os dois filhos de 8 e 11 anos gostarem do velho e bom heavy metal.
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