Nile: "eles diziam que eu não podia tocar sobre o Egito"
Por Diego Camara
Postado em 24 de dezembro de 2013
Não é todos os dias que uma banda do gabarito do NILE desembarca no Brasil. E muito menos quando se tem a oportunidade de entrevistar o cara que é o principal responsável pela ascensão da banda a uma das principais potências do Death Metal mundial na atualidade. O Whiplash teve a oportunidade de conduzir uma entrevista curta e direta com o guitarrista e vocalista Karl Sanders, o faraó e comandante da banda. Muito solícito, extremamente polido, educado e mostrando uma simplicidade imensa – acima do normal para um músico – Karl falou um pouco sobre sua carreira na banda, em sua inspiração para compor tantos sucessos e especialmente no desafio que foi falar sobre o Egito em um gênero como o Death Metal, além de elogiar uma das principais bandas da cena nacional. Confiram abaixo a entrevista:
Fotos por: Marcos César Bullino - A Ilha do Metal e Rock Onstage
Tradução por: Monica Prado
Credenciamento: The Ultimate Music e Showmaster
Em primeiro lugar, é um grande prazer fazer esta entrevista com o NILE, há muitos fãs da banda no Brasil e eles agradecem muito a oportunidade de poder saber um pouco mais sobre o trabalho de vocês. Primeiramente eu gostaria de falar sobre a nova turnê de vocês, divulgando o álbum "At The Gates of Sethu", além do retorno as origens da banda com os seus grandes sucessos dos primeiros álbuns, como o "In the Darkest Shrines", "Black Seeds of Vengeance", e por aí vai. Por que vocês decidiram fazer esta turnê retornando às raízes do NILE com os grandes e antigos hits da banda ao invés de se focar apenas no álbum novo, como a maioria das bandas faz?
Karl: Bem, nós já fizemos algumas turnês do novo álbum, há muitas músicas que as pessoas têm pedidos para tocarmos já há algum tempo e nós não conseguíamos, então decidimos "nós vamos tocar novas músicas" porque isso nos deixa feliz, faz os fãs felizes, então, que se danem, nós vamos tocá-las.
Realmente, vi o setlist da nova turnê e há ótimas músicas que não estão lá como "Those Whom the Gods Detest" e "Cast Down the Heretics". O quão difícil é para vocês terem um monte de fãs pedindo as músicas, dizendo "toquem isto", "toquem aquilo". O quão difícil é para vocês preparar um setlist?
Karl: Esta é uma tarefa difícil para nós porque é sempre doloroso. Que músicas vamos tocar agora? Não importa o que você decida, alguém ficará feliz e alguém não ficará. Então, eu não sei, nós fazemos o melhor que podemos.
Como foi, para a banda, fazer aquela apresentação de 2010 no Santana Hall? Quais foram suas lembranças do show?
Karl: O público era muito metal, havia muita paixão. Eu lembro da paixão do público. Foi uma coisa boa.
E o que vocês estão esperando agora?
Karl: Bem, eu tento não criar expectativas. Nós aparecemos, tocamos nossa música para quem queira aproveitar. E se eles gostarem, isso é ótimo.
Vamos falar sobre o novo álbum, os críticos aqui no Brasil dizem que é mais um grande trabalho da banda. Eu, particularmente, vejo que o NILE está evoluindo, cada dia se superando. O que você acha que o NILE atingiu no último álbum "At The Gate of Sethu"? Qual a maior conquista neste álbum?
Karl: Eu não sei… Nós queríamos manter nossa identidade e tentar coisas novas. Nós também queríamos captar a musicalidade, realmente dar isso para as pessoas: muito claro, muito honesto, muito real. Não há produção falsa nele. É muito despojado, muito limpo, é como soaria se você estivesse de verdade no estúdio (e você ia gostar disso, né?).
Muitas vezes nós colocamos algo no álbum e parece enorme e monstruoso, mas isso acontece por causa da tecnologia dos estúdios modernos, você pode fazer qualquer coisa parecer enorme. Nós queríamos fazer algo mais...
Eu tentarei explicar desta maneira: nós fizemos turnês muitas vezes com nossos amigos do KRISIUN, ok? E, todo dia, na turnê, nós dividíamos nosso backstage com eles e eles sentavam conosco, nas mesas, cadeiras, caras doidos com guitarras. E isso era tudo que nós tínhamos. E eles eram brutais com apenas guitarras e, você sabe, a base! Eles dominavam completamente! Era honesto, real, e eles eram "motherfucking" brutais. Não há nada de falso no KRISIUN, eles apenas tocam o som deles. E eu queria dar às pessoas algo real, como aquilo. Então você pode ouvir cada maldita nota. Eu vi um critico que disse que era um som muito limpo, que nós deveríamos fazê-lo sujo novamente. Então neste álbum tem um monte de coisa que a gente queria ouvir, então nós o fizemos.
Como nasce a música no NILE? Como você pensa nela, na melodia, na letra, o processo de composição?
Karl: Com o NILE nós sempre começamos com as letras. Eu tenho um dom especial para escrever as letras, então eu as escrevo em algum papiro, nós as colocamos na música, enquanto eu toco minha guitarra em casa, eu já tenho as letras lá, eu toco, eu olho para as palavras e eu digo: "o que estas palavras querem dizer para mim, que partes de guitarra devo tocar para trazer vida a estas palavras?" É assim que as músicas são feitas.
Eu tenho uma pergunta simples, você provavelmente já a ouviu várias vezes: Por que você escolheu o death metal, a cultura egípcia? Por que unir estes dois, já que não fazem parte do repertório comum do gênero?
Karl: Eu digo: "Por que não?" Você pergunta por que e eu digo, por que não? Não há leis que digam: você tem que escrever sobre isso, você tem que cantar sobre aquilo. Não há lei que diga que não podemos fazer isso, então é assim que nasce o espírito de rebelião, quando nós começamos a banda eles disseram: "Vocês não podem fazer isso, vocês não cantam sobre doenças, ou sangue ‘coagulado’, ou o fim do mundo, ou sobre vikings, sobre batalhas, isso não é metal" e nós dissemos: "Fodam-se vocês, isso é o que nós somos, nós achamos divertido, nós gostamos disso, então fodam-se!".
Para finalizarmos, vamos falar um pouco sobre as letras das músicas. Eu li diversas letras do NILE, como "Unas Slayer of Gods", "Hittite Dung Incantation", e também li que você pesquisa sobre a história do Egito, Mesopotâmia e região. Como você acha estas histórias? Deve ser muita leitura...
Karl: Eu tenho muitos livros sobre isso, também vejo muito o History Channel e a Internet. Quando eu comecei o NILE eu era um estudante e tinha acesso à biblioteca da universidade próxima e eu passava muito tempo lá, foi um ótimo começo, eu deveria estar assistindo aula, mas estava fazendo música.
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