WASP: Lawless comenta expectativa para os shows no Brasil
Postado em 08 de maio de 2005
Por Rafael Carnovale
Esse foi um dos casos de ver... quer dizer ouvir para crer. Eu não acreditava que o cara que cantava "Fuck Like a Beast" tinha se tornado tão sério e compenetrado. Mas ao bater esse papo telefônico com o vocalista e guitarrista Blackie Lawless, membro fundador e alma do WASP, pude perceber o quão sério o mesmo se tornou. Cuidadoso em suas respostas, e principalmente evitando entrar em polêmicas, Blackie falou sobre os dois CD’s que compõem a obra "Neon God" (lançada no Brasil pela Century Media) e sobre a turnê nacional, que conta com a participação do Vader e terá shows em São Paulo e Curitiba no mês de junho. Abaixo segue a transcrição completa do papo com o simpático, porém sério Blackie Lawless.
WHIPLASH - Você disse que "Neon God" levou mais de 10 anos de intenso trabalho para ser concretizado. Ouvindo o CD, e lendo as letras no encarte, vemos que é uma obra complexa e intensa, com vários detalhes. Como você fez para musicar toda essa obra?
BLACKIE LAWLESS / Quando finalizei "The Crimson Idol" notei que tinha desenvolvido paralelamente uma história bem mais ampla do que a que usei. Pensei que poderia ir trabalhando nela aos poucos, até que considerasse que tudo estava pronto. Era bem mais difícil e bem maior do que eu pensava. As coisas foram surgindo de maneira aleatória, e ficava difícil gravar e registrar tudo o que eu tinha em mente. Algumas músicas acabaram sendo usadas em outros discos, enquanto que "Wishing Well" por exemplo, foi escrita em 1997 para ser gravada imediatamente, mas acabou não sendo feito. Recentemente me vi pronto a juntar todas as idéias e finalmente trazer "Neon God" à tona. Mas não foi fácil, defintivamente.
WHIPLASH - Jesse Slane é uma criança que sofre com uma infância difícil e com momentos terríveis em um orfanato, até se descobrir uma espécie de messias. Você acha que ele poderia ser um de nós, ou o messia que a Igreja Católica prega que retornará a Terra um dia?
BLACKIE LAWLESS / O que torna Jesse interessante é que ele não precisa necessariamente ser uma entidade religiosa. Pessoas como Hitler, Mandella, ou Stalin poderiam ser Jesse. Pois foram pessoas normais que agregaram para perto de si um grupo muito grande de seguidores. Eles se fizeram de messias, mas não eram. É um conceito complicado, confuso e interessante ao mesmo tempo. Gostei da pergunta! (risos)
WHIPLASH - Todos consideram Jesse como uma criança problemática, e a Irmã Sadie o faz sofrer de maneira bem cruel. Quem seriam para você as reais Irmãs Sadie?
BLACKIE LAWLESS / Olha.... o mais legal é que os personagens podem ser comparados a pessoas normais. Acho que todos aqueles que nos fazem sofrer, seja nos campos político, social, ou na escola e trabalho podem ser enquadrados. Na verdade apenas usei nomes de fantasia para que as pessoas possam entender e fazer suas observações. Essa é a parte que mais gosto em "Neon God"
WHIPLASH - Jesse realmente queria alguém que o amasse, alguém que se preocupasse com ele, mas ele acabou sendo o cara a amar, a se preocupar com o destino de muitos. Foi este o começo de sua queda?
BLACKIE LAWLESS / Sim. Ele tinha tudo. Fama, era amado por muitos, mas não era amado por quem ele realmente queria. Não tinha o amor de sua mãe, de seu pai. Logo, ele descobre que sem isso, toda a idolatria que é feita a seu redor é superficial, e acaba por cair em si.
WHIPLASH - O garoto que começou a história dizendo "Oh Meu Deus porque estou aqui" termina a mesma dizendo "Tudo o que eu queria era alguém para amar". Há uma contradição de sentimentos em sua mente. Você acha que pode haver conexão com as religiões que exploram a fé de seus seguidores, criando regras e fazendo as pessoas seguí-las quase que apaixonadamente?
BLACKIE LAWLESS / Sim... pode haver essa conexão. Um simples sentimento de amizade pode gerar tais acontecimentos. Quando Jesse pergunta por que está aqui, ele está tentando se descobrir, o que é, porque está vivo, e sente a presença de algo especial, como se a vinda dele a este planeta fosse uma profecia, logo existe sim a conexão que você falou.
WHIPLASH - Como um músico com fortes convicções políticas e religiosas, o que você pode falar sobre a morte do Papa João Paulo II e todos os procedimentos para sua sucessão?
BLACKIE LAWLESS / Não fiquei feliz com isso. Mas prefiro não dar opinião, pois não estou lá dentro para ver como as coisas funcionam. Tudo o que vi foi o que a TV mostrou mais o que li nos jornais. Não sou um cara ligado a religiões, logo nada sei sobre isso. Então não falo sobre o que não entendo. Vi, sim muitas pessoas se fazendo de autoridades sobre o assunto, falando merdas sem o menor conhecimento. Isso foi algo que me irritou.
WHIPLASH - Na música "Goodbye America" do álbum "Still Not Black Enough" você se diz um cara politicamente incorreto. Partindo desse princípio, como você vê a atual administração americana, os conflitos no Iraque e tudo o que vem acontecendo. Será que o presidente americano seria uma espécie de Jesse Slane?
BLACKIE LAWLESS / Vou lhe dar uma resposta similar à que dei sobre o papa. Não devemos falar sobre o que não conhecemos. Os fatos estão aí, na TV e nos jornais, e cabe a cada pessoa tirar suas próprias conclusões. Nós americanos pensamos diferente dos brasileiros, que pensam diferente dos franceses, que pensam diferente dos ingleses. Logo é mais lógico que todos olhemos para dentro de nós mesmos e nos avaliemos ao invés de avaliarmos os outros. Isso nos fará bem melhores, com certeza.
WHIPLASH - Voltando no tempo, o que aconteceu com o guitarrista Chris Holmes? Ele saiu da banda antes de "The Crimson Idol" e voltou para "Kill, Fuck, Die", um álbum bem experimental. Você acha que ele foi parte decisiva para que este fosse um álbum bem diferente do que o WASP vinha fazendo?
BLACKIE LAWLESS / Olha, sinceramente não sei o que aconteceu com Chris. Só sei que ele estava infeliz e saiu. Não nos falamos há muito tempo. "KFD" foi um desejo comum de ambos. Queríamos trabalhar com essa sonoridade e assim o fizemos. Há alguns dias comecei a ouví-lo após um hiato de anos, e ele me tocou de maneira fantástica. Digo sem medo que este é o melhor CD que fizemos, e estou muito orgulhoso de tê-lo feito
WHIPLASH - WASP era uma banda diferente, com uma postura mais agressiva e menos séria do que o grupo tem atualmente. O que motivou tal mudança e como os fãs têm reagido a estes novos CD’s?
BLACKIE LAWLESS / Como toda banda, precisamos crescer, mudar. Não cagamos para o passado, mas procuramos levar a banda a novos horizontes, procurar aprender com tudo o que fizemos. Mas posso dizer que faremos um show a lá 1983 para os fãs brasileiros, já que eles nunca nos viram ao vivo antes, com sangue, garotas e tudo mais. Isto é muito importante para nós, embora os fãs estejam curtindo nossa "nova" fase. Mas o show será uma amostra do que o WASP foi para todos. Isso eu prometo.
(Neste momento somos informados que só restavam dois minutos para o fim da entrevista, e fomos direto para a última pergunta, deixando algumas questões sem resposta, infelizmente....)
WHIPLASH - Blackie, obrigado pela entrevista e este espaço é seu para deixar uma mensagem aos fãs que acessam o site WHIPLASH!, e que esperam ansiosamente para ver o WASP ao vivo.
BLACKIE LAWLESS / Demorou muito para virmos... mas acreditem, cada minuto valerá a pena... será inesquecível para nós e para os fãs. Obrigado.
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