Nightwish: Human II Nature é um retorno às origens
Resenha - Human II Nature - Nightwish
Por Matheus Pena Rodrigues
Postado em 15 de abril de 2020
Nota: 8
O novo álbum de estúdio da banda Nightwish, "Human. :II: Nature", está entre nós. Cinco anos após o último registro da banda, em estúdio, o disco "Endless Forms Most Beautiful".
Muito se esperava de um novo registro da banda com a holandesa Floor Jansen, no posto de vocalista. Mesmo porque a base de fãs tem, como noção majoritária a tradição dos "segundos discos" de cada fase da banda ser tidos como marcos em sua história. "Oceanborn" e "Imaginaerum" (1998; 2011), os segundos registros em estúdio com as vocalistas Tarja Turunen e Annete Olzon, respectivamente, são tratados como clássicos pelos fãs.
Diz-se que, "no segundo disco, geralmente, Tuomas Holopainen (tecladista e fundador da banda) aprende a utilizar o verdadeiro potencial das vocalistas", compondo melodias apropriadas para a tessitura vocal da cantora em questão.
Tanto que, mesmo Olzon, sendo criticada por suas performances ao vivo (ainda que também tenha cativado bastantes fãs, como este que vos escreve), tem seu trabalho em "Imaginaerum" reconhecido.
Portanto, esperavam que Floor não soasse tão "contida" ou "suave", como soara em "Endless Forms Most Beautiful", ainda que a cantora alegue que o estilo adotado foi decidido por ela própria, que quis se desafiar a fazer algo diferente em sua carreira.
Bem, Human :II: Nature entrega o esperado da vocalista, em passagem excelentes e diversificadas, em termos de técnica, como o lírico utilizado em uma parte da música "Pan", ou no final, absolutamente fantástico, de "Shoemaker". Ainda nos lembra os tempos áureos da carreira de Floor, no After Forever, como a última estrofe de "Tribal", ou a seção orquestrada do single "Noise". Além da faixa de abertura, "Music", que é apoteótica e demonstra muito bem a versatilidade da vocalista.
Então, sim, o Nightwish clássico está presente no disco, mas se engana, e muito, quem espera um disco voltado para solos melódicos de guitarra e notas superagudas, como em um disco com a participação de Tarja Turunen.
Primeiro, interessa destacar que, hoje, a banda conta com três vocalistas: Floor Jansen, Marco Hietala e Troy Donockley; Cada um deles, óbvio, tem suas características vocais, o que aumenta o escopo criativo da banda, por consequência, as possibilidades de experimentação musical.
Assim, o disco não tem, realmente, alguém que assuma o posto de "voz principal", gerando momentos interessantes, e diferentes de muitos dos elementos que são tidos como "canônicos" para o catálogo do Nightwish. Troy, por exemplo, tem seu momento de maior destaque na faixa "Harvest", que mistura influências de Ayreon e Eluveitie, pois, além de cantar a melodia principal, muito do instrumental orbita em torno de seus violões e gaitas, resgatando a ideia folky presente no primeiro registro da banda, "Angels Fall First" (1997), até a segunda parte da música, onde Emppu Vuorinen se encarrega das guitarras elétricas, criando uma mistura de elementos que lembra a banda suíça, previamente citada.
Marco, por sua vez, ao contrário do que se ouvia até aqui, nos registros da banda, neste álbum, fica, na maior parte do tempo, encarregado dos vocais de apoio em refrões ou interlúdios, mas não deixa de ter destaque na belíssima Endlessness, que encerra o primeiro disco.
Entretanto, mesmo contrariando as expectativas dos fãs mais conservadores da banda, o registro conta com belíssimas melodias, e, uma vez que a formação atual conta com três vocalistas "principais", a depender das circunstâncias, o disco apresenta uma banda extremamente intrincada, sendo carregado de instrumentais e vocais extremamente desafiadores e inovadores, ainda que, em certa medida, simples – vez que muito gravita em torno do trabalho dos teclados de Tuomas, que, neste disco, fogem do som artificial de cordas e apresentam seu som natural, o que nos dá, ao longo das músicas, um sentimento mais acústico.
Mesmo com a nova direção tomada, o novo disco se comunica diretamente com os discos anteriores, seja através de letras ou instrumentais. "How’s the Heart", além de ter o instrumental calcado em músicas como "Amaranth" e "My Walden" (dos discos "Dark Passion Play" e "Endless Forms Most Beautiful", em um trecho da letra, também se comunica com Élan (do disco antecessor), assim como "Endlessness" faz referência a "Shudder Before the Beautiful", e o trecho da literatura de Richard Dawkings, que antecede a música em questão, ou "The Blue", um dos capítulos do instrumental presente no segundo disco, pode ser encarada como uma segunda parte do instrumental "The Eyes of Sharbat Gula", entre diversos outros trechos, que demonstram, sutilmente, que o Nightwish, embora não anuncie o disco como conceitual, tem uma ideia central, da qual germinam as demais, que unem os trabalhos com a formação atual da banda.
Vale lembrar que Tarja Turunen, ao participar do quadro "Wikipedia: Fact or Fiction" revelou que, quando foi chamada por Tuomas para integrar a banda, gravando a primeira demo, o tecladista tinha, justamente, a ideia de fazer músicas em uma roupagem acústica, tendo mudado de ideia quando soube que a vocalista havia feito aulas de canto lírico.
Assim, por mais diferente que o novo disco possa parecer, na verdade, é um resgate às verdadeiras origens da banda, ainda que a ideia original não tivesse sido lapidada – pela inexperiência da banda em seu primeiro registro de estúdio. Agora, o Nightwish pode, finalmente, ser o que Tuomas sempre almejou.
Tanto é o que o tecladista sempre quis compor, que temos o segundo disco, que comporta somente uma faixa, o instrumental "All The Works Wich Adorn the Nature", que é dividido em subcapítulos.
Este instrumental lembra, na verdade, o trabalho solo de Tuomas, tendo sido, aparentemente, composto por intenções poéticas, e não para ser apresentado ao vivo.
Ainda assim, são 31 minutos de um instrumental inspirador, mesmo sendo diferente das gravações anteriores do Nightwish.
Parece claro que, finalmente, Tuomas deixou suas chagas cicatrizarem e decidiu se inspirar pela natureza e pelos grandes feitos da humanidade. Assim, encontrou uma nova fonte de ideias para o Nightwish, e, finalmente, conseguiu aplicar a roupagem que queria, desde o início, em sua criação.
Tracklist:
Disco 1:
1. Music
2. Noise
3. Shoemaker
4. Harvest
5. Pan
6. How’s The Heart?
7. Procession
8. Tribal
9. Endlessness
Disco 2:
1. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Vista
2. All The Works Of Nature Which Adorn The World – The Blue
3. All The Works Of Nature Which Adorn The World – The Green
4. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Moors
5. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Aurorae
6. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Quiet As The Snow
7. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Anthropocene (incl. Hurrian Hymn To Nikkal)
8. All The Works Of Nature Which Adorn The World – Ad Astra
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