Anos 1990: a internacionalização do Metal brasileiro
Por Ivison Poleto dos Santos
Fonte: própria
Postado em 25 de junho de 2017
Costumamos ter os anos 1980 em alta e, geralmente, não ligamos muito para o que aconteceu nos anos 1990 em termos de Metal. E isto é uma posição bastante interessante. Deixei de ser saudosista há um bom tempo, e vejo que nem criativamente, o que é usualmente mais aceito, podemos desdenhar os anos 1990. Mas essa é outra discussão.
Os anos 1980 representaram a época de surgimento de várias bandas e uma efervescência que realmente chama a atenção. Porém, o que foi plantado nos anos 1980, foi colhido nos 1990, principalmente em termos de internacionalização e profissionalização das bandas brasileiras. Isso se deu também por causa de uma nova conformação internacional, a globalização atingia também o meio do Heavy Metal e os mercados se abriam para bandas de outras localidades que não o mundo anglo-saxão e europeu.
Se cantar em inglês nos anos 1980 era exceção, nos 1990 virou regra. E isso se dá porque as bandas perceberam que se desejassem uma carreira profissional dentro do Heavy Metal, ela não se daria no mercado doméstico. A década de 1990 marca também uma profissionalização das bandas brasileiras, fato que parece não ter volta. Infelizmente, seria muito menos difícil uma carreira no exterior devido ao bloqueio que a mídia tradicional brasileira impôs ao gênero, mas que em determinados momentos dos anos 1990 quase pareceu ceder, mas foi quase.
O cenário dos grandes shows internacionais também se modificou. Com o pioneirismo do Rock In Rio em 1985, e da sua segunda versão em 1991, podemos dizer que os anos 1990 foram os anos dos grandes festivais marcando também a chegada de grandes festivais como a versão tupiniquim do Monsters Of Rock e muitos outros como o Skoll Rock e o Hollywood Rock. O Brasil efetivamente passou a fazer parte das turnês mundiais não só das grandes bandas, mas também das médias e pequenas.
Um divisor de águas para a HM nacional foi a chegada em 1991 da MTV, ela que decididamente definiu vários rumos nos anos 1980 catapultando várias bandas para o sucesso e também divulgando bandas novas, indiscutivelmente fez o mesmo aqui. O gênero que antes dividia espaço em outros programas de clipes com os mais variados gêneros musicais, agora ganhava programas só seus como o Fúria Metal. Daí para a definitiva internacionalização foi um pulo. Com uma equipe de profissionais mais jovens, e mais aberta ao rock em geral, se ela não amava o gênero, decididamente ao menos manteve uma postura de respeito, ao contrário de outros veículos que abertamente o atacavam e desdenhavam.
As portas negras de que o Centurias fala em seu clássico "Portas Negras" estavam finalmente caindo!
Vou relacionar aqui algumas bandas brasileiras que estouraram nos anos 1990:
Sepultura
Definitivamente a banda brasileira com maior repercussão internacional conhecida nos mais remotos locais deste globo. O Sepultura é o maior responsável pela abertura de olhos do mercado internacional para as bandas brasileiras devido à sua projeção internacional. Sua trajetória internacional começou no final dos anos 1980 com Max Cavalera, segundo conta a lenda e ele mesmo, entrando em um avião para os Estados Unidos com algumas cópias de seus dois primeiros álbuns debaixo do braço e visitando gravadoras, rádios e quaisquer outros locais que pudessem divulgar sua banda.
O Sepultura já tinha uma repercussão internacional nos anos 1980, isso é inegável, mas foi com o lançamento de "Arise" em 1991 que a coisa realmente pegou fogo com clipes veiculados mundialmente pela MTV e a participação em diversos festivais, inclusive aqui no Brasil no Rock In Rio II. Foi também nos anos 1990 que a banda se muda para s Estados Unidos estabelecendo lá uma base para sua carreira.
Com "Chaos A.D." de 1993 então definitivamente a banda entra para o panteão dos deuses do metal antes vetado aos brasileiros. Comercialmente é o álbum mais bem sucedido da banda tendo vendido mais de 1 milhão de cópias, fato inédito para qualquer artista brasileiro de qualquer gênero. É em "Chaos A.D." que o Sepultura começa a mesclar sons tribais à sua música, fato que traria uma mudança marcante para a música pesada brasileira.
O sucessor "Roots" não alcança o mesmo sucesso comercial do seu anterior, e marca um mergulho aos sons tribais iniciados no álbum anterior.
Viper
Com as portas abertas pelo Sepultura, coube ao Viper escancará-las. Seus dois primeiros álbuns "Soldiers Of Sunrise" e "Theatre Of Fate" já haviam tido uma boa repercussão no exterior, mas foi com o álbum "Evolution" de 1992 que a banda definitivamente estourou alhures. O sucesso de "Evolution" no Japão foi tal que rendeu um álbum ao vivo em 1993, "Maniacs In Japan", que salvo algum engano foi o primeiro de uma banda brasileira gravado no exterior.
Sarcófago
O Sarcófago também foi montado nos anos 1980, mas que teve o seu auge nos anos 1990 com o lançamento do álbum "The Laws Of Scourge" de 1991 quando a banda ganhou dimensões transcontinentais. o Sarcófago é tido como uma das primeiras bandas a utilizar o corpse paint em seus shows. Esse álbum até hoje é reverenciado por bandas de black/death metal de todo o globo e considerado uma obra-prima do gênero.
Angra
O Angra nasceu em 1991, mas pode-se dizer que já nasceu grande, pois logo o seu primeiro álbum "Angel’s Cry" já saiu por uma grande gravadora e contava com a participação especial de medalhões como Kai Hansen, Dirk Schlachter, Thomas Nack (Gamma Ray) e Sascha Paeth (Heavens Gate). O Angra pode não ter sido o pioneiro da mistura intensa de HM e música clássica, mas com certeza foi a banda que a popularizou. Um fato curioso do Angra é que a banda é uma espécie de celeiro de talentos e de bandas, pois dela derivaram bandas como o Shaaman e o Almah e músicos mundialmente conhecidos como Kiko Loureiro, Edu Falaschi e Aquiles Priester. Além de colecionar álbuns de ouro, o Angra foi a primeira e única banda de HM que, salvo engano, cedeu música a uma novela da RGT, fato que desagradou bastante os fãs.
Dr. Sin
Banda formada pelos irmãos já veteranos de HM, Andria e Ivan Busic com o guitarrista Edu Ardanuy, na época mais conhecido como Edu da Chave pela sua marcante participação na banda A Chave do Sol, outra pioneira do HM no Brasil. O Dr. Sin é uma banda que já nasceu com carreira internacional, pois logo nos seus primeiros dias já conseguiu agendar shows nos Estados Unidos, local onde se mudariam e que conseguiriam o seu maior reconhecimento. Em 1992, eles assinaram com o selo Warner Music, mesmo sem ter nenhum material composto, sendo o disco de estreia de 1993.
Krisiun
Como o Sepultura, o Krisiun é a banda brasileira de metal extremo com bastante reconhecimento internacional. Seu primeiro álbum saiu em 1993 e era um mini LP chamado "Unmerciful Order" e com ele a banda ganhou um grande status principalmente pelas suas apresentações ao vivo cheias de peso e velocidade. Mas foi somente em 1996, com o lançamento do primeiro LP "Black Force Domain", que o Krisiun ganhou de vez os palcos internacionais tendo feito em maio de 1997, 20 apresentações na Alemanha. Em 1998, com o seu segundo álbum "Apocalyptic Revelation", a banda entrou de vez no roteiro internacional com direito a turnês pelos Estados Unidos. Desde então, o Krisiun tem sido uma das maiores bandas no exterior.
Silent Cry
Formada em 1993, o Silent Cry é tido como o introdutor do subgênero gótico/doom com vocais femininos no Brasil. É mais uma banda que teve mais reconhecimento fora do Brasil que nele.
Comente: As suas bandas favoritas do metal nacional estouraram em qual década?
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