Face Civil: Punk Rock correndo pelas veias
Por Mateus Rister
Fonte: Insanity Records
Postado em 21 de novembro de 2016
A história da banda Face Civil poderia ser a história de muitas bandas que surgem em todo o mundo. Amigos se reúnem, aprendem alguns acordes, formam uma banda e infernizam os vizinhos enquanto ensaiam na garagem. O lema "Faça você mesmo" encaixa perfeitamente com a postura do grupo, que faz do Punk Rock o estilo de suas composições. Formada em 2002, por Néco (guitarra), Léo Foletto (voz), Jair Soares (baixo) e Doug (bateria), com o passar dos anos, a banda sofreu com mudanças de formação que quase levaram ao fim das atividades. Com o lançamento do EP "Nada Muda" e a reformulação do grupo com Néco assumindo o vocal, a Face Civil começa a dar os primeiros passos em direção ao futuro.
O baixista e membro fundador, Jair Soares, nos concedeu uma entrevista que pode ser conferida abaixo.
Mateus: Há quanto tempo a formação atual está reunida?
Jair Soares: Essa formação atual já é a segunda após o retorno e tem dois meses. Voltamos às atividades no final de 2015 após as gravações do EP "Nada Muda" e logo conseguimos o convite para participar do Festival PampaStock, em São Borja. Quando iniciamos as gravações do que viria a se tornar o EP, não tínhamos intenção de voltar com a banda, então tivemos que procurar alguém que assumisse a segunda guitarra. O Marcelo Hickel, que gravou os solos no EP, não pôde assumir a função devido outros compromissos com seus projetos. Tivemos que ir à procura de um guitarrista para apresentar algo que soasse parecido ao que estava gravado. O Néco conheceu o Lucas de Anhaia, porém um ruído de comunicação fez com que ele achasse que iria assumir o baixo da banda. No primeiro ensaio ele foi acompanhado do Michel Suleiman, que vendo a situação e nosso "desespero" com a urgência de aprontar tudo para o festival, se dispôs a assumir a guitarra. Mas como a empolgação do Lucas e clima bacana que estavam as conversas ,o convidamos para assumir a guitarra base que seria o Néco que faria.
Jair Soares: Essa formação vem desde o início deste ano e em agosto o Fabrício Brock assumiu a bateria após nova saída do Doug. O Fabrício já havia tocado com o Lucas e o Michel há muitos anos atrás, o que facilitou o entrosamento.
Jair Soares: O acréscimo que essa troca nas posições do time nos proporcionou é imensa, o Néco pôde se soltar mais no posto de vocalista. O Lucas e o Michel trouxeram um peso e uma pegada diferente, mas que não destoou do que fazíamos. O Fabrício assumiu a bateria com uma naturalidade surpreendente. É difícil conseguir unir tanto o talento quanto afinidade entre integrantes novos, mas conseguimos isso em pouco tempo.
Mateus: O quanto foi impactante para a banda a saída do Léo Foletto?
Jair Soares: Basicamente foi algo que nos quase fez desistir. Quando uma banda perde o vocalista, gera dúvidas sobre o futuro, pois a voz é algo marcante em qualquer estilo. Porém no nosso caso foram problemas pessoais, onde o contato se perdeu por completo e nisso perdemos o vocalista e o baterista reserva numa tacada só, ficamos somente o Néco e eu. Entre 2008 e 2015 tentamos inúmeras vezes reativar a banda, mas não conseguíamos dar continuidade, até a gravação do EP.
Mateuss: Como funciona o processo de composição do grupo?
Jair Soares: Na primeira fase da banda os principais compositores eram o Doug e o Léo. O Doug é uma máquina de hits e melodias. No início não tínhamos as facilidades da internet e tecnologias como áudio do whatsapp, o Doug ou o Léo chegavam nos ensaios com um esqueleto pronto no violão, uma letra rabiscada numa folha de caderno e em cima disso íamos lapidando e estruturando as canções. Com o Doug rola muito de conversar e falar "cara, tu consegue escrever algo sobre tal assunto?" E lá vinha algo pra se trabalhar em cima. Algumas canções mais simples como "Quem Sou Eu?" chegavam prontas, do início ao fim. Nesse período compusemos muitas músicas ao ponto de ficar difícil montar os sets das apresentações.
Jair Soares: Nesse retorno estamos com duas canções novas, ambas do Doug, que se dispôs a permanecer como compositor e colaborador da banda. Estamos analisando o repertório da primeira fase pra ver o que ainda se encaixa na proposta de som que estamos fazendo atualmente.
Jair Soares: O processo segue o mesmo, porém agora recebemos o áudio pelo whatsapp, damos palpite, o Michel acrescenta uma bateria no computador para trabalhar em cima da música em casa, mas é no ensaio que a coisa desenvolve mesmo. Quando dá, tentamos registrar o ensaio para ouvir depois e ver se as coisas estão realmente funcionando.
Mateus: Quando o EP "Nada Muda" foi gravado?
Jair Soares: Iniciamos a gravação do EP em junho de 2015 e terminamos em abril de 2016. Basicamente o acaso fez o EP, não tínhamos mais muita expectativa de voltar com a banda. O Néco e eu, durante uma conversa regada a bastante cerveja, nos questionamos de apesar de todos esses anos nunca termos gravado nada com uma qualidade apresentável e resolvemos que devíamos fazer algo, nem que fosse só pra mostrar para os amigos.
Mateus: Como foi o processo de gravação e produção?
Jair Soares: Após assumirmos, de fato, que iríamos gravar as músicas, contatamos o Davi Pacote. Já havíamos conversado com a banda antigamente sobre isso, devido ao fato de Punk Rock ser a especialidade do Pacote e já ter trabalhado com ele na gravação de um single da IN VERSO, banda que participei no tempo da Faculdade de Música.
Jair Soares: Gravar com o Pacote é a coisa mais simples que existe. Entramos no Hill Valley Studio sem ter ensaiado nada. As três primeiras músicas do EP foram gravadas apenas por mim, pelo Néco e o Marcelo Hickel (meu ex-colega de GERÔNIMOS), eram canções que tocávamos há anos. Foi tudo muito rápido, "Nada Muda", que dá nome ao EP e "Quem Sou Eu?" são canções com 14 anos de idade, infelizmente o que a letra delas trata continua atual.
Jair Soares: Ao apresentarmos as músicas para o Doug ele se empolgou e pressionou para voltarmos à ativa. Seguimos a gravação de mais 3 músicas, agora com ele participando. Nesta etapa foi onde houve a transformação de algumas músicas, como a "Tia Jura", que teve sua dinâmica trabalhada, backing vocals que não existiam acrescentados. Quisemos homenagear também o ex-integrante da banda, Carlos Rogério "Chup", falamos com ele e ele autorizou o uso da música "Não Quero Mais (Deixa para Depois), composta por ele, novamente houve uma transformação legal. O Pacote ajudou bastante na produção dos Backings com aquele ouvido "de fora" de quem entende da coisa que toda banda precisa em determinado momento.
Jair Soares: Quando mostramos o resultado para os amigos que nos acompanhavam nos anos anteriores, a receptividade foi excelente. Todos questionaram quando voltaríamos a tocar, daí não teve mais como adiar o retorno (risos).
Jair Soares: Acredito que ter esse material gravado que nos ajudou muito a conseguir reformular a banda de forma rápida. Tanto a entrada do Lucas e do Michel, quanto a substituição da vaga de baterista pelo Fabrício acredito que teve influência desse material apresentável.
Mateus: Saiu em formato físico? Onde o público pode encontrar?
Jair Soares: Levamos para são Borja, em junho deste ano uma tiragem bem limitada de CDs produzidos em casa. Vimos que as pessoas ficavam felizes em receber o material da banda, por mais simples que fosse. Quando voltamos começamos a conversar sobre essa possibilidade de ter uma versão física do EP, dessa forma fizemos uma tiragem de 1000 unidades.
Jair Soares: A versão digital pode ser adquirida no perfil da banda no bandcamp, na modalidade "pague o que quiser", inclusive gratuito. Já o formato físico pode ser adquirido diretamente com a banda, com os integrantes ou nos shows.
Mateus: Como está a agenda de shows?
Jair Soares: Com a entrada recente do Fabrício Brock no lugar do Doug, tivemos que segurar a agenda, mantivemos apenas uma apresentação, que ocorreu dia 14/10 no Garage 319, aqui em Porto Alegre, mas já estamos abertos a propostas. Divulgamos sempre os eventos na nossas redes sociais.
Mateus: Quais são os próximos passos da banda?
Jair Soares: Temos muito material para trabalhar, são 14 anos de material para analisar e readaptar. Mesmo no período de recesso, houve composições, como uma das músicas que entraram no set da última apresentação. A ideia inicial é gravar mais umas 4 ou 6 músicas e lançar um álbum completo até o final de 2017. Há algum tempo também cogitamos a possibilidade de algum videoclipe. Manter a banda com apresentações constantes é algo que não precisamos citar (risos).
Mateus: Como a banda enxerga o atual cenário underground gaúcho?
Jair Soares: Vivemos numa fase aquecida de bandas, muitas de qualidade. Porém ainda sofremos com a disponibilidade de espaços para tocar ou que valorizem o trabalho das bandas. Particularmente me atrevo a dizer que o underground gaúcho está mais ativo que o mainstream, claro que em virtude da falta de espaço que o Rock em geral tem recebido na mídia. Noto muitas bandas lançando material, fazendo shows, divulgando seu trabalho nas redes sociais. Muitos retornos também têm acontecido, quem sabe esse fervor reverta numa nova onda de Rock nas mídias daqui alguns anos, espero que não demore muito.
Mateus: Espaço para falar diretamente para o público:
Jair Soares: Quero agradecer o carinho recebido dos amigos nessa volta às atividades da banda. Temos encontrado amigos que nos acompanhavam lá atrás nos primórdios, mas o clima de nostalgia está paralelo com a surpresa dos novos rostos que temos encontrado nas apresentações. Peço também pra galera apoiar a cena local da sua cidade, tem muita coisa de qualidade acontecendo longe dos microfones e das ondas das rádios, muito evento gratuito ou de baixo custo, mas que para as bandas fazem toda a diferença.
Contatos:
https://www.facebook.com/faceciviloficial/
Fotos: Filipe Arreguy e Camila Fernandes
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