A Galeria do Rock: um relato fotográfico entre luzes e sombras
Por Fernando Yokota
Fonte: Fernando Yokota Fotografia
Postado em 20 de agosto de 2015
A Galeria é um lugar em constante mudança, que reflete tendências comportamentais, sociais e econômicas de um tempo ao qual o fotógrafo, de alguma forma, está atrelado; ademais, e não menos importante, como frequentador, sempre fui mais assíduo nos andares mais relacionados ao rock; e, por fim, o olhar fotográfico é algo fundamentalmente subjetivo e particular. Não haveria, portanto, como fazer um registro definitivo de um lugar como a Galeria do Rock.
Se as lojas do primeiro e segundo andares são o lastro para que o local seja chamado de Galeria do Rock, esta não se resume a isso: das oficinas de silk screen no quarto andar às lojas de artigos para grafite ou os cabeleireiros do subsolo, tudo deve ser considerado como tecido formador das Grandes Galerias, como era originalmente chamada. Iletrado quanto ao que se passa nos outros andares, sei que se trata de uma coleção de fotos que não representa a Galeria em sua plenitude. Ainda assim, tentei uma tímida incursão nos "andares desconhecidos" àqueles que, como eu, tendem a passear mais pelos andares mais vinculados ao rock.
No quarto andar, conheci o seu José Castro, que hoje deve ser o mais antigo dos lojistas da casa (excluindo um breve período em outro lugar, seu José tem mais de 50 anos como alfaiate na Galeria). Com fita métrica sobre os ombros e um brilho nos olhos, me contou que era compositor e que escreveu um dos mais conhecidos jingles de campanha eleitoral, do eterno candidato José Maria Eymael ("o democrata cristão").
Vi as lojas que vendem (e compram) cabelo, as de hip-hop e os vários estúdios de tattoo. Entrei nas lojas incríveis que vendem latas de tinta e por um momento lamentei por ter decidido fotografar em preto e branco.
Queria fotografar a Baratos Afins e o Luiz Calanca, o cara que praticamente deu à luz o metal nacional em sua forma prensada (no mês passado, em duas noites com ingressos esgotados, foram comemorados os 30 anos das pioneiras coletâneas SP Metal). Comecei a ouvir as histórias do Luiz (ele poderia compilar aquilo tudo e editar um livro) e quase esqueci do motivo de eu estar lá. Pude conversar um pouco com o Fausto da Die Hard, que tantas nas inhas memórias de adolescente se resumia a uma cabeça que ficava atrás de um balcão muito alto e forrado de CDs (talvez ele não se lembre mais, mas ele quase assinou com uma banda de amigos meus). Queria uma foto da Hellion, mas decidiu a fortuna que eu estivesse lá exatamente na semana seguinte ao fechamento do tradicionalíssimo ponto do metal na Galeria.
Em dois dias, pude olhar o lugar com mais calma e reparar no painel do artista italiano Bramante Buffoni acima do hall dos elevadores no térreo. Aprendi que cada andar tem um desenho diferente para o chão de cada andar (repare nisso em sua próxima ida). Como fotógrafo, fui presa fácil para as curvas desenhadas pelo arquiteto Alfredo Mathias e que tanto caracterizam visualmente a Galeria.
Vendo em retrospectiva, faltou um bocado de coisas e de pessoas e a culpa é toda minha. Para um fotógrafo, a Galeria é como pegar areia com as mãos: um monte de fotos incríveis escapa pelos dedos o tempo todo.
Por fim, agradeço ao Marcone, da assessoria, e ao seu José pela autorização e atenção. Agradeço a todos os lojistas que acolheram este maluco escondido atrás da câmera. Como fotógrafo de shows e de rua, meu desejo de juntar as duas coisas finalmente foi realizado e agradeço por isso.
Espero que vocês curtam!
(Para as fotos de shows, fiquem atentos à coberturas exclusivas pelo Whiplash.net ou visitem facebook.com/fernandoyokotafotografia)
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