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Joe Strummer: o som e a fúria de um combatente do rock

Por Renato Araujo
Fonte: Blog Impaciente e Indeciso
Postado em 19 de fevereiro de 2015

JOE STRUMMER nasceu em 1952, em Ancara, na Turquia. Filho de um diplomata, John Graham Mellor, seu nome verdadeiro, nunca se rendeu à sua boa condição financeira e desde a adolescência se interessava fortemente por socialismo e questões ligadas historicamente à esquerda. Em 1972, fundou o grupo THE VULTURES, onde cantava covers de clássicos do rock e rhythm'n'blues. A banda tinha apenas um único número original, "Country Boy At Heart", que muitos anos depois, serviria de base para "Death Is a Star" , canção que encerra o lado B do álbum "Combat Rock", do THE CLASH.

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Em 1974, aos 22 anos, fundou a banda THE 101 ALL STARS, logo rebatizada como THE 101'ERS. O nome era uma referência ao endereço do cafofo onde os integrantes do grupo moravam. O som dos THE 101'ERS era uma espécie de pub-rock mal tocado, mas que já trazia sinais indeléveis do estilo musical que seria forjado pelo seu futuro conjunto. Nesta época, STRUMMER atendia pelo cognome de "Woody Mellow". Quando os SEX PISTOLS abriram um show de sua banda, JOE, como ele mesmo afirmava, "viu a luz". No momento em que o segundo single dos 101'ers, "5 stars rock and roll petrol" chegava às lojas, Mellor já havia deixado a banda e se tornado oficialmente JOE STRUMMER, que viria a ser, algum tempo depois, um dos fundadores do THE CLASH.

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No final de 76, ainda nos THE 101'ERS, STRUMMER seria convidado a integrar a banda de hard-rock THE LONDON SS, substituindo o guitarrista BRIAN JAMES, que sairia para formar os THE SUBTERRANEANS, embrião do THE DAMNED, outra grande banda surgida no levante punk da Inglaterra em 1977. James afirmaria mais tarde que sua saída da THE LONDON SS se devia ao interesse cada vez maior do baixista PAUL SIMONON por reggae e ska. Completavam a THE LONDON SS, o baterista TOPPER HEADON e o guitarrista MICK JONES. Com a chegada de STRUMMER, estava formada a lenda.

Com o antigo repertório do THE LONDON SS completamente descartado, o grupo achou por bem também trocar de nome. SIMONON sugeriu TWO SEVENS CLASH, título de um recente single do grupo jamaicano de reggae CULTURE. O resto do grupo preferia CLASH 77 e, por razões óbvias, (afinal, o ano de 77 acabaria e o nome ficaria defasado), foi reduzido para simplesmente THE CLASH.

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O THE CLASH foi a primeira banda punk a assinar com uma multinacional e foram muito cobrados por isso. Escolheram como single de estréia a canção "White Riot", inspirada na revolta dos negros em Brixton (que, posteriormente, voltaria a ser tema de outra canção da banda, "Guns Of Brixton", do disco "London Calling"). "White Riot"convocava os garotos brancos a promoverem também a sua própria revolta contra o sistema.

Foram mal interpretados e acusados de racistas por ativistas negros e ameaçados por grupos racistas brancos, que entendiam, cada um a sua maneira, que haviam referências negativas a uma e a outra raça em uma música que apenas pregava o fim da letargia entre os garotos brancos ingleses. A banda também se recusou a posar para a capa do single, sendo que, quando não houve alternativa, decidiram se deixar fotografar de costas, com as mãos na parede, como em uma batida policial. O novo baterista TERY CHIMES grava o single mas não sai na capa do disco por ter se atrasado para a sessão de fotos. Em seguida é "despedido" pelos outros integrantes, que resolvem manter o cargo vago. Para shows e ensaios chamam o companheiro da THE LONDON SS, TOPPER HEADON, que, na verdade, era um baterista com formação jazzística que gostava de tocar com o pessoal do punk-rock.

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Algum tempo depois, HEADON se torna um membro oficial. Daí em diante, CHIMES e HEADON praticamente se revezariam na posição, um entrando quando o outro saia da banda. Os THE CLASH iniciam ali uma carreira marcada pela polêmica, onde, ao mesmo tempo que ganham a fama duvidosa de "maior banda de rock do mundo", chegam a ser motivo de comentários irônicos no meio musical pela suposta "pobreza" dos arranjos das suas músicas e das limitações de seus integrantes.

Em 1980, lançam seu álbum mais importante, a princípio batizado de "novo testamento', depois racionalmente chamado de "London Calling". Obrigam a CBS a negociar o disco nas lojas pelo preço de um lp simples e, em seguida, tentam soltar um álbum quádruplo mas a gravadora só concorda, no máximo, com um álbum triplo, que provocativamente se chamaria "Sandinista". Novamente a banda tenta obrigar a gravadora a negociar o disco como simples, mas consegue apenas que ele seja vendido um pouco acima do preço normal de um Lp. Isso, é claro, apenas no eixo USA/UK. No Brasil, por exemplo, os discos foram vendidos pelo preço normal de um álbum duplo ou triplo.

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Com o sucesso crescente do grupo, a gravadora prepara uma mega-turnê nos EUA, com o THE CLASH tocando pela primeira vez em estádios lotados. O pavor e o despreparo fica evidente em clips como o da música "Should I Stay Or Should I Go", onde todos parecem estar apavorados em enfrentar a platéia numericamente monstruosa. No início de 82 é lançado o single contendo "Rock The Casbah", composição do baterista HEADON, com batida dançante e forte apelo comercial, que viria a se tornar, até então, o único hit do grupo.

Mesmo com material pronto para gravar um novo lp, a banda fica sem tempo disponível devido aos shows da turnê. A gravadora propõe o lançamento de um novo disco com os dois novos singles ("Should I Stay Or Should I Go" e "Rock The Casbah") mais sobras do "Sandinista" e até a inclusão de participações especiais do THE CLASH em discos alheios e trilhas sonoras. Este frankenstein sonoro, por incrível que pareça, dá certo e é lançado em 1982 com o título de "Combat Rock", se tornando um dos lançamentos mais vendidos do grupo. STRUMMER, que é a favor de que a banda pare e grave material inédito, fica profundamente contrariado. Daí em diante, JONES tenta impor uma linha mais dançante e "comercial", enquanto STRUMMER vê o prestígio do THE CLASH descer ladeira abaixo junto à imprensa e aos antigos fãs, que passam a fazer as habituais acusações de "traidores", "vendidos", etc.

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Em 1984, às vésperas de lançar um novo álbum de inéditas, o THE CLASH perde seu segundo "front-man", o guitarrista MICK JONES, expulso da banda por SIMONON e STRUMMER. Boa parte do material de JONES para este disco é lançado no primeiro álbum da sua nova banda, o BIG AUDIO DYNAMITE. Em 85 sai "Cut The Crap", com roadies do THE CLASH assumindo as guitarras e a bateria. À exceção de "This Is England", composta ainda com JONES na banda, o disco é uma tentativa desesperada de retorno às "raízes", que acaba soando extremamente caricatural. Mas ainda assim é um disco interessante. Ainda era STRUMMER. Ainda era THE CLASH.

Durante o final da década de 80 e em quase toda a década seguinte, STRUMMER gravou trilhas sonoras, atuou em filmes e lançou discos solo onde o brilho de seus trabalhos com o THE CLASH era uma lembrança distante e melancólica. No final da década de 90, fundou um novo grupo, os MESCALEROS, onde desenvolvia uma continuação natural da musicalidade de sua antiga banda.

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Em 2002, um ataque cardíaco fulminante aos 50 anos, pôs fim à vida de uma das mentes mais brilhantes e combativas do rock inglês. Rumores afirmavam que STRUMMER havia morrido de overdose de drogas. Um surpreendente exame post-mortem, pedido pela família, eliminou as dúvidas: não havia traços nem mesmo de maconha. JOE STRUMMER morreu "limpo", assim como viveu.

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Sobre Renato Araujo

Renato Araujo, jornalista, músico, nascido em 1966.
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