Poison: discografia da fase áurea comentada
Por Marcelo Brandão
Fonte: Blog The Lixos
Postado em 06 de junho de 2011
Em plenos anos 80, bandas de hard rock como BON JOVI, RATT, WARRANT, MOTLEY CRÜE, EUROPE, CINDERELLA e afins eram chamadas de Heavy Metal, inclusive – ou principalmente – pela MTV que, hoje, não abre mão de fazer chacota com o estilo sempre que pode.
Bom, o tempo passou, o termo Heavy Metal continuou sendo utilizado para bandas que fazem rock pesado, com guitarras roncadoras e gritadoras. O hard rock praticado nos ’80 não era mais moda e perdeu o direito de ter um nome sério e forte como Heavy Metal. E os ’90, como é comum na transição de décadas, pregou uma filosofia inversa. Bandas como Nirvana, Pearl Jam, Faith No More traziam um visual mais "sujo", mais "sarjeta" e letras que cantavam, de várias maneiras, sobre como a vida era uma merda.
Nada mais da filosofia "Let’s Party" da década anterior. Nada de caras com cabelos de poodle, calças de couro coladas, jaquetas abertas sem camisa por baixo e olhar de rapaz sensualmente perigoso. Nada de solos de guitarra muito elaborados, quase nada de sorrisos durante os shows. A onda era uma camisa rota, calça jeans e All Star pra lá de surrados e cabelo ensebado. Ah, e uma blusa de flanela amarrada na cintura.
O termo Heavy ficou para o PANTERA, MEGADETH, METALLICA. Para as bandas que ficaram pra trás, algo mais caricato: Hair Metal, Glam Metal e Pop Metal. No Brasil, Metal Farofa. Hoje, o grunge continua sendo grunge, mas também ficou no passado.
Bom, para celebrar esse meu ótimo gosto por hard rock dos anos 80, resolvi comentar a discografia básica da banda que mais consumiu maquiagem e batom naquela década: POISON
O visual dos caras era pra lá de exagerado, principalmente na época dos dois primeiros discos. Um cara que trabalhou com eles na época chegou a dizer que quando a banda começou a ficar em evidência no circuito de Los Angeles, os caras saíam pela Sunset Strip querendo dar uns pegas nas garotas do Poison. Muito compreensível, a julgar pela foto do primeiro disco.
"Look What The Cat Dragged In" (1986)
Esse foi o debut da banda, formada por Bret Michaels (vocal), CC DeVille (guitarra), Bobby Dall (baixo) e Rikki Rocket (bateria). A foto dos caras dá total razão aos rapazes da Sunset Strip, mencionados acima. O fotógrafo dessa capa contou no documentário Metal: A Headbanger’s Journey que a banda chegou com uma revista Vogue pra ele e disse: "Queremos ficar assim". Bom trabalho.
Musicalmente, esse é um disco muito bom. "Cry Tough" abre o disco com competência. "I Want Action" se tornou clássico e é executada até hoje. O disco também conta com a primeira balada da banda, "I Won’t Forget You", que também virou clipe e trás na letra todo aquele discurso cafajeste, cuidadosamente projetado pra conquistar mulheres em profusão. Isso é hard rock.
"Talk Dirty To Me" também emplacou, e é a cara da banda. Riffs que não saem da sua cabeça e clima de festa e diversão. No mesmo clima, temos "Let Me Go To The Show", uma música de clima deliciosamente animado e letra meio bobinha, mas importante para a construção da identidade Rock & Diversão All Night Long, No Matter What.
Mas a música que dá nome ao álbum merece destaque. "Look What The Cat Dragged In" trás um riff pesado e gostoso de se ouvir, pois mantém o clima animado de todo o disco e flui que é uma beleza ao longo de seus 3:08. A letra... ah, a letra... É a síntese da época. Nenhuma letra define melhor o que era viver nos anos 80 na Sunset Strip.
Abaixo, o clipe de "Cry Tough". Dá pra notar que eles ainda não haviam atingido o ponto certo do glam. Muito biquinho, muita maquiagem e muitas plumas em todo canto, até na ferragem da bateria. Hoje, depois de conferir seus trabalhos posteriores, o vídeo de Cry Tough soa muito exagerado e até mesmo imaturo. Depois, eles foram acertando a mão e aprendendo a usar o estilo melhor. Mas, na época, funcionou muito bem.
"Open Up And Say... Ahh! (1988)
O segundo disco marcou o auge da banda. Na minha opinião, o disco anterior conta com mais músicas de destaque. Mas, nesse, as músicas boas são muito boas e bem trabalhadas.
"Love On The Rocks" abre bem o disco, mas não chega a chamar atenção de tão boa, tanto que foi esquecida pela banda em seus shows. Mas, numa festa, ela desce que é uma beleza. Mas, a segunda sim. Ela é, para muitos, "O" clássico da banda. "Nothing But a Good Time" é um dos hinos do estilo como um todo e reflete muito do espírito da época. O discurso "Ralei a semana inteira aguentando um chefe de merda e agora vou enfiar o pé na jaca mesmo!" é muito atual. Vai por mim, ouvir essa música às 18h de uma sexta-feira é pra lá de libertador. Até hoje, ela é usada na trilha sonora de filmes. Sr. & Sra. Smith, Minhas Adoráveis Ex-Namoradas e Zé Colméia, O Filme, só pra citar alguns dos mais recentes.
O disco também conta com "Look But You Can’t Touch", que segue a linha da primeira. Boa, divertida e animada, mas não emplacou. A ótima "Fallen Angel", o blues quase nas coxas de "Your Mama Don’t Dance" e o clássico seminal "Every Rose Has It’s Thorn".
No mesmo caminho de Nothing But..., "Every Rose Has It’s Thorn" sempre foi e sempre será um dos pontos altos dos shows da banda. É uma balada irrepreensível nos padrões comerciais. Letra covarde, pra conquistar as rádios e as menininhas, melodia que não sai da cabeça e fácil de tocar e de cantar. Também vive figurando em filmes de Hollywood.
"Flesh And Blood" (1990)
O apocalipse se aproximava e dava pra sentir isso no ar. O visual da banda, que já estava ligeiramente mais contido em Open Up..., fica bastante comportado em Flesh And Blood. Nada de plumas e batom, e o laquê já não era tanto. O visual country começa a ser apropriado para o hard rock, agora dos anos 90. A contracapa do disco mostra essa mudança. Nos videoclipes e nos shows, o POISON ainda é glam, mas já não como antes. A sobriedade no visual era clara e necessária. O que antes era muito cool, já soaria ridículo e, para financiar a farra de cada dia, era justo ser razoável com o mercado.
Esse é o disco que fecha a discografia básica da formação clássica da banda em sua era de ouro. Mas, apesar de ter mais músicas que os anteriores, é o disco do qual retiro menos destaques. Dos três, é de longe o disco mais bluesy. Muitas frases de guitarra galgadas no blues e músicas que começam no blues e só depois caem no rock. É o caso de "Ball And Chain" e "Let It Play", com seu coro Delta do Mississipi. Já a Poor Boy Blues é todinha o estilo.
De hard rock, podemos destacar "(Flesh And Blood) Sacrifice", "Come Hell Or High Water", e a semi-balada "Life Goes On".
Agora, os reais destaques, as músicas que a banda continua executando em seus shows, são outras. A irrepreensível balada "Something To Believe In" é, na minha opinião, mais completa e "madura" que Every Rose... A presença do piano dá um toque mais bem acabado à produção da música, e a letra deve ser um dos únicos sucessos que não falam de festa ou mulher. "Ride The Wind" é uma pérola do hard rock. Bom trabalho de guitarras e um solinho de baixo discreto, mas cativante. Ótima música pra se ouvir na estrada.
Pra fechar, temos "Unskinny Bop". Se Bret Michaels e Cia. resolvessem montar um grupo de funk carioca, podiam aproveitar a letra na íntegra, sem tirar nem por nada. É uma sacanagem só, o tempo todo, mostrando um pouco do que era muito mostrado nos discos anteriores. A música é muito legal. O baixo simples caminha linear durante toda a música, fazendo a cama para um bom trabalho de guitarra de CC DeVille. Bobby Dall nunca foi conhecido por sua técnica espantosa no baixo, até porque esta simplesmente não existe. Mas ele reconhece suas limitações e se vira muito bem com a filosofia "menos é mais". Quero aprender a tocar baixo só pra tocar Unskinny Bop. Estimo demorar uns dois dias entre o zero e estar tocando-a.
Além da letra, o videoclipe dessa música é um resgate ao POISON de um par de anos antes. Algum desavisado poderia achar que Bret Michaels é uma menininha bem ajeitadinha, de tanta maquiagem e brilho labial. Além disso, antes e depois da música, tem uma historinha curtinha, mostrando que os anos 90 chegavam, mas o estilo de vida Look What The Cat Dragged In continuava.
É o último suspiro do POISON como fora concebido. A banda ainda lançou um álbum ao vivo, que chegou a ter boa divulgação pela mídia. Logo depois, a chegada da besta-fera chamada grunge enterrou toda e qualquer diversão sem culpa que havia no mundo da música.
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