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X-Wild: músicos do Running Wild longe do jugo de Kasparek

Por André Gustavo Nicoluzzi Vieira
Postado em 27 de outubro de 2009

O quarteto X-Wild foi formado na Alemanha no começo dos anos 90, século passado. Alemanha esta que sempre foi conhecida como um berço de estilos musicais numerosos. Um dos exemplos claros ocorre enquanto o Black Sabbath e Led Zeppelin entravam no estúdio na Inglaterra para gravar seus hard rocks, no centro da Europa, os intelectuais do Kraftwerk começavam a produzir pura música eletrônica. Podemos citar também magníficas bandas de heavy metal e suas diversas variações. Seja Power, Melódico, Death, Trash Metal, ou então o autêntico e cru Heavy Metal. Temos então, na vasta história alemã de bandas de Heavy Metal, além dos mais famosos Scorpions e Accept, também os sensacionais Rage, Kreator, Helloween, Night in Gales, Blind Guardian, Running Wild, entre vários outros.

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A banda a ser tratada em especial é o Running Wild, formado em Hamburgo no começo dos anos 80, com idéias totalmente voltadas para o Black Metal (posteriormente, o conteúdo lírico ocultista seria totalmente abandonado) que nascera da New Wave of British Heavy Metal. Em pouco tempo, o Running Wild tornou-se uma banda sempre presente na nata do Heavy Metal europeu, com grandes turnês internacionais e vendagens consideráveis de suas gravações. Entretanto, o grupo estava sempre sob às ordens de seu mentor, Rolf Kasparek (também conhecido como Rock’n’Rolf), um excelente guitarrista, compositor e frontman da banda. Kasparek sempre apareceu como responsável por toda a criatividade do grupo, criador da esmagadora maioria das letras, vocalista oficial, e também o maior criador de músicas.

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Desta forma, a banda mais parecia propriedade de uma única pessoa, que apenas contava com músicos de apoio. Kasparek sempre foi perfeccionista, e criticava abertamente músicos com performances indesejadas. Por outro lado, o líder da banda sempre cobrou o foco voltado cem por cento no Running Wild e, caso houvesse vestígios de interesses paralelos, Kasparek não pensaria nada além da demissão. Estes fatores foram alguns dos responsáveis pela passagem de cerca de trinta músicos durante toda a trajetória do Running Wild, em pouco mais de vinte e cinco anos de carreira. Excelentes músicos entraram e saíram do grupo durante os anos oitenta e noventa. Muitos deles, ao sair do grupo, por sua alta competência, eram prontamente convidados para participar de outros grupos, como é o caso do fenomenal baterista Jörg Michael (que já gravou com Stratovarius, Grave Digger, Saxon e Rage, entre outros). É bem verdade que alguns músicos, como o guitarrista Gerald Warnecke – conhecido como Preacher – deixou a banda por motivos, no mínimo, curiosos: após gravar um dos discos mais demoníacos de todos os tempos (Gates to Purgatory – 1984), Warnecke deixou o grupo para se dedicar aos estudos de teologia! Atualmente é padre em Colônia, Alemanha. Mas voltemos à formação do X-Wild.

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Alguns dos músicos que deixaram o grupo Running Wild resolveram se encontrar em suas vidas pós-piratas do grupo de Kasparek. Por exemplo, Wolfgang Hagemann (o primeiro baterista profissional do Running Wild) juntou-se ao também ex-membro Matthias Kaufmann para fundar uma banda chamada Grober Unfug. Outro caso, e mais famoso, é o do trio Jens Becker (baixo), Stefan Schwarzmann (bateria) e Axel Morgan (guitarra). Junto do vocalista, escolhido a dedo, Frank Knight, formaram o X-Wild. O nome trás a referência da condição dos músicos, como ex-integrantes do Running Wild. Em inglês, a letra "x" dá a fonética exata para a palavra "ex".

Jens Becker ficou famoso na Alemanha pelos seus estalos produzidos quando tocava o baixo, demonstrou habilidade excepcional e uma grande vocação para improvisos! A sua habilidade pode ser constatada na clássica faixa instrumental (de sua própria autoria), Final Gates, do disco do Running Wild Port Royal – 1988. Logo em seguida, no mesmo disco, mais uma pitada de seus dotes, com a fantástica introdução para a faixa Conquistadores. Becker participou também de Death or Glory (1989) e Blazon Stone (1991), outros discos do Running Wild. Podemos encontrar vários boatos que direcionam para os motivos da saída, forçada ou não, de Becker do grupo de Kasparek: Insatisfação pelo domínio abusivo de Kasparek ou insatisfação do próprio "dono" da banda com a falta de dedicação de Jens Becker, e sua queda de produção ou rendimento.

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O baterista Stefan Schwarzmann absorveu inspirações de dois dos melhores bateristas que já pude ouvir: Clive Burr e Cozy Powell. Schwarzmann participou do disco Port Royal (1988) e de Pile of Skulls (1992), antes de deixar o grupo de Kasparek, por motivos ainda desconhecidos! Sabe-se que Schwarzmann tocava com o U.D.O, paralelamente.

Axel Morgan tocava guitarra junto de Kasparek nos discos Blazon Stone (1991) e Pile of Skulls (1992). A sua saída da banda é também um mistério, até mesmo para o próprio Morgan. Após a turnê do disco Pile of Skulls, em 1993, Morgan já se juntou ao X-Wild.

O X-Wild também se formou em Hamburgo, no ano de 1993. Como nenhum dos três possuíam vocações para assumir os vocais, o trio procurou o vocalista até então desconhecido (ou pelo menos não tão conhecido) Frank Knight, que chamou a atenção pela voz distorcida e intensa, que mais parecia uma mistura de Udo Dirkschneider com Lemy Kilmister. Desta forma nasceu o X-Wild.

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No X-Wild, o trio de músicos provindos do Running Wild fazia exatamente o que fizeram na banda de Kasparek! Portanto, é possível dizer que o som do X-Wild é extremamente parecido com o do Running Wild. Um Power/Speed Metal, às vezes bem melódico, às vezes cru, com a cara do Running Wild. A exceção é que o X-Wild contava com apenas uma guitarra, e, mesmo assim, parecia soar mais pesado que o Running Wild em muitas canções. A voz de Frank Knight era mais pura, com menos efeitos de estúdio do que a de Kasparek, e a banda contava com as linhas de Jens Becker. Por essas maneiras, muitos adoradores e fãs do Running Wild tornaram-se também fãs e adoradores do X Wild. As canções são realmente muito parecidas! E os seus trabalhos, embora sejam apenas três, são de extrema qualidade! Essencial para qualquer fã de qualquer tipo de rock.

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O primeiro trabalho, So What!, foi lançado em 1994, entusiasmado pela cena metal da época. O disco é uma obra-prima, para qualquer apreciador de um heavy metal puro e criativo, sem arranjos exacerbados, apenas com exaltação das habilidades dos músicos: sensacional! O disco contém doze músicas, praticamente todas, admiráveis. A primeira impressão que tive ao ouvir o disco foi muito boa, porém pensei comigo "O Udo agora está cantando no Running Wild". Logo na primeira faixa, é impossível deixar as comparações de lado, porém, ouvindo mais do disco é perceptível uma grande diferença entre os estilos. As comparações com as vozes passam a se tornar apenas breves lembranças. O som da banda, durante as faixas, varia entre um cru heavy metal, com faixas muito rápidas, speeds, outras nem tanto, porém muito mais pesado do que os piratas de Kasparek. O Running Wild, nesta época, lançava Black Hand Inn, extremamente inferior a So What, do X-Wild - o grupo de Kasparek parecia não ter mais nada a oferecer ao heavy metal.

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Este primeiro álbum, ainda que com apenas uma guitarra, soa bem mais pesado, com rifs claros, belíssimos, e com a velha destreza de músicos como Jens Becker e Axel Morgan, além de refrões marcantes, daqueles cantados a exaustão pelo público nos shows. O disco é praticamente uma alternância entre músicas mais rápidas e outras mais lentas. A primeira faixa traz um logo de cara um riff que nos faz lembrar até a NWOBHM, com Frank Knight realmente muito parecido a Udo Dirckenshneider. Logo em seguida, na faixa Dealing With the Devil, com um destes refrões chamados por Frank Knight: "Hey, Hey, dealing with the devil I say...", que já não parece mais tanto o pequeno vocalista que marcou época no Accept. A voz de Frank Knight cria uma simbiose perfeita com o estilo do som. A terceira faixa, Scarred to the bone retorna o speed metal bem executado do X-Wild, freado pela quarta faixa, Wild Frontier, mais lenta. A quinta faixa do disco retoma a velocidade dos músicos, com mais um refrão marcante: Skybolter! A música mais lenta do disco, porém no melhor estilo heavy metal, é a sexta canção, Beastmaster. Em Kid Racer, um speed metal sensacional, o grupo demonstra seu gosto por veículos motorizados e velocidade: "The Colour is red, fast as it feels. 400 Horses and 48 valves"! A oitava faixa é instrumental, uma grande apresentação de Jens Becker, uma introdução para a nona música: Freeway Devil. Esta nona faixa é a música mais parecida com o que de melhor produziu o Running Wild em sua trajetória, com o peso do X-Wild e os excelentes vocais de Frank Knight. O disco segue no mesmo estilo com Mystica Deamonica, o speed metal Thousand Guns e se despede com uma espécie de faixa-título (Different So What!), a décima segunda do disco. Apesar da grande qualidade de seus sucessores, So What é tratado por muitos fãs do estilo como o melhor disco do X-Wild.

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O segundo disco, com o nome de Monster Effect, foi lançado em meio a grandes expectativas, devido à boa aceitação do primeiro álbum, no ano de 1995. A primeira faixa, Wild Knight, se inicia com uma bela introdução de baixo de Jens Becker, seguindo de um puro e cru Heavy Metal, com Frank Knight soando bem menos parecido a Udo Dirkschneider! Em Souls of Sin, a segunda faixa, mais uma vez um riff parecidíssimo com Running Wild mostra o legado para este disco. Theatre of Blood, a terceira música, nos faz relembrar os antigos tempos do Heavy Metal britânico, com o riff de entrada maravilhoso, lembrando inclusive Iron Maiden e Saxon. Heads Held High é a primeira música speed do disco. Dr. Sardonicus é mais lenta, com um solo de teclados e efeitos de sintetizadores, apresentados pela primeira vez no álbum. Em mais uma explosão speed, o ensinamento profano de "Pecadores são vencedores e nunca cairão", Sinners are Winners é um dos pontos altos do disco! A faixa título, Monster Effect, tem mais uma vez o destaque para os vocais de Frank Knight, e um ritmo mais cadenciado. Serpent’s Kiss lembra o heavy metal pré-british wave, mais puxado para o puro rock’n’roll. Sons of Darkness mistura o peso do baixo de Becker com os pedais sujos de Morgan. A canção tem um refrão maravilhoso. Em D.Y.T.W.A.C, mais um rock cadenciado, com a voz distorcida de Frank Knight! A sigla, título da faixa, é cantada no refrão: "Do you think we are crazy?". A última faixa demonstra o grande gosto da banda pelos esportes automobilísticos e velocidade: King of Speed. Trata-se de uma mostra de habilidade de Jens Becker com o baixo, e é claramente declarado nos encartes do disco que a música foi feita para quem eles consideram como o rei da velocidade: o ídolo brasileiro Ayrton Senna (O disco foi gravado um ano depois de sua morte, em um acidente durante uma competição em Ímola, Itália).

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O último disco da banda é Savageland, que foi lançado em 1996. A primeira baixa de um ex-running wild acontece por parte de Schwarzmann, que deixa a banda após as apresentações ao vivo inerentes a Monster Effect. Para o seu lugar, o ex Living Death e Grave Digger, Frank Ullrich, excelente baterista! Este disco apresenta mais do novo heavy metal que começaria a ser produzido em larga escala naquela época (final dos anos 90), e menos do heavy metal que tinha sido produzido nos anos 80. É um heavy metal mais arranjado, porém, longe de ser melódico. Frank Knight já não parece em nada com Udo, as linhas de baixo não estão mais tão evidentes, as guitarras parecem mais limpas, e instrumentos eletrônicos foram mais utilizados.

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Todo o conteúdo lírico conta a história de uma terra fictícia, regada de fantasia e batalhas sangrentas, Savageland; as batalhas entre e o bem e o mal nela contidas, o duelo final entre os dois, e as pessoas afetadas com a situação (claras influências, assim como a grande maioria dos europeus, de J.R.R Tolkien). O disco começa com uma narrativa sobre a história, e depois entra com Braveheart, mais um heavy metal com o padrão anteriormente mostrado. Savageland, faixa título, é mais rápida, com uma bela introdução de Axel Morgan. Born for War acompanha a tendência de Savageland, e também tem um ritmo acelerado e pesado. Murder in thy name, a quinta faixa, continua com o peso, e uma melodia muito bem feita. Em Children of the Underground, a banda deixa o Heavy Metal de lado para contar a história dessas tais crianças. Uma canção muito bem feita, levada de maneira sensacional por Becker (quase inteiramente apenas pelo baixo), e uma voz ultra grave de Frank Knight. A canção é recheada de sintetizadores e até de um coro de crianças durante o refrão. Dragonslair é mais lenta, sem o peso anteriormente apresentado, com uma duração épica. Die Like a Man retoma o Heavy Metal mais pesado do disco, com um "spoken" inicial motivador: "Now ...it is time ... to die, like a man!". Field of Blackbirds é como Dragonslair, mais lenta, e de grande duração. A décima faixa, Clash of the Titans, volta ao estilo conhecido da banda: destaque para Ullrich, que trouxe grandes influências para o disco. Hunting for the Damned tem mais uma vez grande participação de Becker, com um refrão que soa como os velhos hinos do Heavy Metal. Talvez a melhor canção do disco é Chãos Ends, onde é retratada a libertação de Savageland, após o embate entre os Titãs. A música mistura o peso do X-Wild com a emoção transmitida pela melodia e mais uma vez refrão memorável.

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O grupo lançou três discos em três anos, e de maneira irônica, encerrou suas atividades. Irônica pois nesta época o cenário alemão para o heavy metal era totalmente favorável. Grave Digger e Rage chegaram a fazer apresentações até na América do Sul. Blind Guardian, Helloween e Gamma Ray estavam e ascensão (com turnês mundiais) além de futuras bandas e estilos que apareceriam pelos próximos anos. A Alemanha sempre se reinventa, novos estilos aparecem da noite para o dia, e sempre com um grupo alemão despontando no cenário (é possível observar até mesmo a nova sensação emo/teen Tókio Hotel, com shows esgotados por toda a Europa – cria da Alemanha).

Os rumores mais evidentes que possam explicar o término da banda é que um dos promotores do grupo, responsável pelo dinheiro arrecadado, teria desaparecido com todos os ganhos das arrecadações, depois da turnê de Savageland! O fato acarretou a falta de interesse de outros empresários pela banda, e a dissolução da mesma de maneira tão precoce. Ficaram para os admiradores de um bom Heavy Metal três excelentes trabalhos, com destaque para os discos So What e Monster Effect. Os trabalhos do grupo são complicados de encontrar até hoje. Existe a possibilidade de encontrá-los na internet, basta apenas um esforço para achar as fontes! Esforço válido, garantido!

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Axel Morgan não se integrou a nenhuma banda e tornou-se um músico de estúdio, com apoio para outros trabalhos.

Jens Becker gravou em 1998 o sensacional Knights of the Cross, do Grave Digger. Continua com o Grave Digger até dos dias de hoje, participando de todos os discos desta outra banda alemã até os tempos atuais. Participou também de bandas como o Zillion e o Leny Wolf, e hoje toca no Bassinvaders, um projeto no qual apenas participa o baixo acompanhado de alguma percussão.

Stefan Schwarzmann continuou a gravar com o U.D.O e Helloween, além de participar em bandas de menores expressões na Alemanha.

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