Joy Division
Postado em 06 de abril de 2006
Biografia originalmente publicada no site Dying Days
Por Jonas Lopes
O Joy Division foi, e é, uma das mais importantes bandas de rock da história. Fato incontestável. A prova disso é o culto na qual é alvo até hoje. Surgida em meio ao movimento pós-punk da prolífica Manchester, de onde não paravam de surgir bandas, todas influenciadas pela anarquia descabelada dos Sex Pistols. Ian Curtis, o genial vocalista, morto no auge, vai continuar para sempre sendo reverenciado pelo poder, lirismo e angústia de suas grandes canções. O grande mártir dos anos 80, suas lindas canções e sim, uma bela história.
 
No célebre verão de 1976, a Inglaterra foi percorrida por um ônibus lendário, carregando os Sex Pistols e os Heartbreakers de Johnny Thunder para a turnê Anarchy in the UK. Quase todas as prefeituras proibiram a turma de se apresentar. Mas, no Free Trade Hall de Manchester, o show acabou acontecendo. Na platéia, gente que no futuro seriam estrelas, como os futuros membros de Buzzcocks, The Fall, Magazine, Duruti Column, Smiths, e, é claro, Joy Division.
A idéia inicial de montar uma banda partiu de dois amigos inseparáveis, Peter Hook e Bernard Dicken. Ian Curtis era apenas um conhecido, um doido que andava por shows punks vestindo uma jaqueta com a palavra "ódio" pintada. Através de anúncios de jornal recrutaram Curtis , além de conseguirem um baterista, Terry Mason.
 
Diz a lenda que o grupo foi batizado de Stiff Kittens ("gatinhos rijos") por Pete Shelley, o cabeça dos Buzzcocks. Esta versão é contestada pelo livro An Ideal for Living, onde está escrito que tudo começou na casa onde moravam o empresário dos Buzzcocks e Howard Devoto (co-fundador do grupo, que saiu pra montar o Magazine). Uma bela noite, uma garota chamada Lou entrou na sala e disse: "Lá em cima está cheio de gatinhos durinhos", anunciando que a gata deles havia abortado toda a cria. Mas eles não estavam satisfeitos com o nome, soava como uma banda punk qualquer, o que definitivamente não era o caso. Optaram por Warsaw (Varsóvia), a partir de "Warzawa", faixa de Low, de David Bowie, na qual Ian era fanático. Este nome acabaria descartado para evitar confusões com a banda londrina Warsaw Pact.
 
Estrearam abrindo um show dos Buzzcocks, no final de maio de 1977, no Electric Circus - misto de galpão e night club que durou só até outubro daquele ano, mas foi o vértice da cena punk de Manchester. Comentário de um jornalista enviado para cobrir o evento, sobre o Warsaw: "Nem o mais demente metaleiro poderia se excitar com isso".
A banda ainda passaria o ano de 77 como Warsaw. Ao mesmo tempo que o punk tomava o poder e passava a ser a atração mais "quente" do show-biz, o quarteto abria muitos shows por clubes do norte da Inglaterra. O primeiro registro em vinil acabaria sendo "At a Later Date", incluída num EP ao vivo, gravado durante o fim de semana de despedida do Electric Circus, Short Circuit. É ouvir e constatar: o Warsaw era apenas mais uma banda punk, sem identidade além de um elo entre os Stooges e os Buzzcocks. Demorariam cerca de um ano para forjar uma alquimia sonora que deixaria uma marca incicatrizável no rostinho "adolescente" da música pop.
 
O novo batismo viria de um livro sobre sadomasoquismo nos campos de concentração alemães, The House Of Dolls. As chamadas "divisões da alegria" seriam os espaços reservados para as prostitutas e presas mantidas vivas para a diversão dos oficiais.
Começa a rolar constantes trocas de bateristas: sai Terry Mason (que havia sido forçado pela banda a aprender e tocar), entra Tony Tabac, sai Tony Tabac, entra Steve Brotherdale, sai Steve Brotherdale... A banda resolve colocar anúncios em lojas de discos com intuito de arrumar o batera definitivo. O experiente Stephen Morris, faz alguns testes e entra para a banda.
O Joy Division começa a investir na cena musical, e lança de modo independente o EP An Ideal For Living. O disco não foi bem recebido e teve má reputação. Porém, uma grande atuação em um show no Rafters Club chamou a atenção do DJ local, Rob Gretton (que viria a ser seu futuro empresário) e do apresentador de TV e empresário Tony Wilson, dono da gravadora independente Factory. Após uma tentativa frustada de lançar um disco pela RCA, acabam assinando com Wilson. Logo sai uma coletânea da gravadora, o EP duplo A Factory Sample, com duas músicas do Joy Division ("Digital" e "Glass"), junto de outras bandas como as fundamentais Duruti Column e Cabaret Voltaire. A banda estava com o repertório pegando fogo, anos-luz dos rascunhos do Warsaw.
 
Uma pessoa responsável pelo som poderoso do Joy Division é, com certeza, Martin Hannet. Grande produtor, mixava de forma inovadora o LP: colocou a bateria à frente de todos os instrumentos, fora o baixo ultra-melódico de Peter Hook, por trás de tudo a voz de Curtis, abrindo planos como o Saara dentro de uma música essencialmente compacta. A guitarra de Bernard, pouco aparecia. Ao ouvirem pela primeira vez a mixagem final do álbum, reações distintas: Bernard e Peter odiaram (acharam sombrio e pouco barulhento); Ian gostou; Tony Wilson, o chefão, adorou; a imprensa, caiu de quatro.
Unknown Pleasures foi lançado em junho de 1979 e colocou jornalistas dos quatro cantos da Inglaterra atrás da banda para marcar entrevistas e sessões de fotos. Não aceitavam de jeito nenhum. O disco era realmente maravilhoso: "Shadowplay", "Disorder", a linda "She´s Lost Control", clássico atrás de clássico. O que marcava as pessoas era a depressão das letras, que pareciam vindas de um velho a beira da morte. Uma resenha, no semanário inglês Sounds, intitulada Death Disco fez um comentário peculiar: "Quem estiver com depressão quando ouvir este disco, vai se atirar de uma janela". A popularidade da banda aumenta ainda mais com o lançamento do single "Transmission". Ao vivo, Ian Curtis tornava-se um espetáculo à parte, dançando freneticamente e simulando espasmos convulsivos. Na verdade, o estranho balé era uma alusão à epilepsia, doença controlável, à qual Ian travava uma batalha incessável. Muitas vezes mal se podia saber se eram convulsões verdadeiras ou se faziam parte do show.
 
O novo LP era aguardado ansiosamente. Após uma turnê européia, a banda vai para o Brittania Row Studios, de propriedade do Pink Floyd, e onde o Floyd gravou o multiplatinado Animals. A banda gravou rapidinho, no mesmo esquema do anterior, com produção de Martin Hannet novamente, mas o resultado... foi ainda melhor: Closer é uma obra-prima do começo ao fim. Um dos melhores discos dos anos 80, de todos os tempos. Porém, em 18 de Maio, Ian se vai. Havia traído a esposa em uma turnê na Bélgica. Quando confessou o erro, foi prontamente abandonado. Ouviu o ótimo The Idiot, de Iggy Pop, um de seus ídolos e se enforcou. Ninguém da banda chorou no funeral, e foi lançado Closer e o single de "Love Will Tear Us Apart", que ironicamente se tornou o maior sucesso da banda, e entrou pela primeira vez na parada inglesa. Em breve, Closer também conseguiria o feito. O disco é realmente maravilhoso: "Isolation" é genial com seu refrão, "Heart And Soul", "Decades"...
 
Com a morte de Ian, os remanescentes do Joy Division, recrutam a tecladista Gilliam Gilbert e montam o New Order, outra banda genial com seus toques eletrônicos, uma evolução da banda anterior. Mas isso é outra história.
Começam a pipocar as óbvias coletâneas póstumas. Still, coletânea dupla, saiu em 1981, com sobras de estúdio no disco 1 e último concerto da banda no disco 2. Em 1988 saiu a ótima Substance, só com canções que saíram em compactos, entre elas músicas raras como "Komakino" e "Incubation". Permanet, de 1995, só reúne o essencial da banda, é ótima para iniciados, mas não contém novidades. Genial é a caixa básica Heart And Soul, de 1997, com versões diferentes para clássicos e muita coisa ao vivo. Depois, surge o disco ao vivo Preston 28 February 1980, lançado em 1999, um grande show da banda, com versão de oito minutos para "The Eternal" e uma raivosa interpretação de "Colony".
 
Por fim, em 2001, é lançado mais um registro ao vivo da banda, o disco Les Bains Douches.
Uma coisa é certa: a genialidade de Ian Curtis estará sempre acima de oportunismos ou artistas que não honram o microfone que seguram. Um ser eterno, o grande mártir dos anos 80. Suas letras maravilhosas não vai sair da cabeça de seus fâs nunca. "And Love, love will tear us apart again...".
 
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps












 O disco de reggae que Nando Reis tem seis exemplares; "Quase como se fossem sagrados"
O disco de reggae que Nando Reis tem seis exemplares; "Quase como se fossem sagrados" O artista que Roger Waters diz ter mudado o rock, mas alguns torcem o nariz
O artista que Roger Waters diz ter mudado o rock, mas alguns torcem o nariz Os 50 melhores discos da história do thrash, segundo a Metal Hammer
Os 50 melhores discos da história do thrash, segundo a Metal Hammer Tecladista anuncia que o Faith No More não volta mais
Tecladista anuncia que o Faith No More não volta mais Valores dos ingressos para último show do Megadeth no Brasil são divulgados; confira
Valores dos ingressos para último show do Megadeth no Brasil são divulgados; confira Produtor brasileiro que vive nos EUA critica novo tributo a Andre Matos
Produtor brasileiro que vive nos EUA critica novo tributo a Andre Matos Rick Rubin elege o maior guitarrista de todos os tempos; "ele encontrou uma nova linguagem"
Rick Rubin elege o maior guitarrista de todos os tempos; "ele encontrou uma nova linguagem" Dave Mustaine confirma que regravou "Ride the Lightning" em homenagem ao Metallica
Dave Mustaine confirma que regravou "Ride the Lightning" em homenagem ao Metallica Os 16 vocalistas mais icônicos da história do rock, segundo o The Metalverse
Os 16 vocalistas mais icônicos da história do rock, segundo o The Metalverse A canção do Genesis que a banda evitava tocar ao vivo, de acordo com Phil Collins
A canção do Genesis que a banda evitava tocar ao vivo, de acordo com Phil Collins A música que Paul McCartney não toca ao vivo por ter sido "deturpada" em sua ideia original
A música que Paul McCartney não toca ao vivo por ter sido "deturpada" em sua ideia original Festival Sonic Temple anuncia 140 shows em 5 palcos para 2026
Festival Sonic Temple anuncia 140 shows em 5 palcos para 2026 System of a Down está no melhor momento da carreira, diz Serj Tankian
System of a Down está no melhor momento da carreira, diz Serj Tankian A pior música do melhor disco do Iron Maiden, segundo o Heavy Consequence
A pior música do melhor disco do Iron Maiden, segundo o Heavy Consequence






 A música que o Joy Division não levou a sério, mas virou um de seus maiores clássicos
A música que o Joy Division não levou a sério, mas virou um de seus maiores clássicos Pattie Boyd: o infernal triângulo com George Harrison e Eric Clapton
Pattie Boyd: o infernal triângulo com George Harrison e Eric Clapton Black Sabbath: os vocalistas misteriosos da banda
Black Sabbath: os vocalistas misteriosos da banda



)