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Tecladistas: os fatos que ligaram Wakeman, Moraz, Emerson e Fritz

Por Flávio Siqueira
Postado em 15 de março de 2014

No texto abaixo há uma análise de fatos que, diretamente ou indiretamente, fizeram ligações entre quatro grandes tecladistas do rock progressivo: Rick Wakeman, Patrick Moraz, Keith Emerson e Jurgen Fritz.

O mago dos teclados

Richard Christopher Wakeman nasceu em Londres, em 18 de maio de 1949. Aos cinco anos de idade, o pequeno Richard iniciou seus estudos primários de piano. O rapazinho loiro parecia predestinado a ter uma grande história com as teclas. Aos doze anos, comprou um teclado eletrônico, e aos dezenove, entrou para a Royal College of Music. Lá, além de piano, chegou a estudar orquestração. A partir de 1969, Wakeman se tornou músico de estúdio, colaborando com vários artistas pops, entre eles um excêntrico cantor de rosto magro e cabelos vermelhos e arrepiados chamado David Bowie. A participação do tecladista na canção "Space Oddity", em conjunto com o violão de Bowie, resultou numa espécie de "folk psicodélico". Nessa música, Wakeman utilizou o mellotron, um dos instrumentos símbolos do rock progressivo.

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Mellotron

Sete anos antes de Wakeman trabalhar com Bowie, o norte-americano Bill Frazen apresentou aos irmãos Bradley, donos de uma pequena companhia, o protótipo de um teclado semelhante a um órgão. Frazen batizou o instrumento de Chamberlin. Sob as teclas do Chamberlin haviam sons pré-gravados em fitas magnéticas. Essas fitas traziam sonoridades de instrumentos acústicos. Em 1964, baseado no funcionamento mecânico do Chamberlin e após uma série de experimentações, os Bradley apresentam o primeiro mellotron: o "Mark I".

O novo instrumento recebeu o nome de "mellotron" através de uma derivação das palavras "melody" e "electronic". Lançado um ano depois, o Mark II possuía um teclado a mais que o seu antecessor, que tinha apenas um. Os Bradley continuaram aperfeiçoando o instrumento até que, em 1967, construíram um modelo menor e mais leve, o "Model 3000". Mas foi em 1970 que os irmãos finalmente concluíram aquele que seria considerado o modelo definitivo de mellotron: o "Model 4000". Em 1972, o M4000 atingiu o ápice de popularidade quando foram inseridas fitas com o som do coro de oitos vozes, quatro masculinas e quatro femininas, em seu arsenal sonoro.

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Yes

Em 1971, Rick Wakeman — em seu trabalho como músico, "Richard" passou a ser conhecido como "Rick", mantendo o sobrenome "Wakeman" — entrou para o Yes, substituindo o tecladista Tony Kaye. Além de Wakeman, o Yes contava com o guitarrista Steve Howe, que entrou no lugar de Peter Banks para revolucionar o som do grupo já em sua primeira participação no disco The Yes Album, de 1970.

Nos shows, Wakeman se apresentava cercado de teclados e adornado por uma capa que lhe dava uma aparência medieval; parecia uma figura mística ou, em outras palavras, um mago. Em 1973, o Yes gerou um dos projetos mais ambiciosos do rock progressivo: o disco duplo Tales from Topographic Oceans.

Composto por apenas quatro músicas com duração média de vinte minutos cada, o álbum teve uma recepção marcada por opiniões extremadas de fãs e críticos musicais; era o tipo de disco que ou amavam ou odiavam: alguns o achavam exagerado demais e começavam a crer que o Yes estava tomado pelo vírus da megalomania. Somando isso aos constantes conflitos internos com seus colegas de palco, Wakeman deixa a banda em 1974. A essa altura, ele já havia lançando o álbum The Six Waves of Henry VIII, um dos discos mais aclamados de sua carreira solo que, nos anos seguintes, seria marcada por uma extensa discografia. The Six Waves of Henry VIII é um álbum conceitual sobre as seis esposas do Rei Henrique VIII da Inglaterra. As seis faixas do disco, portanto, são: Catherine of Aragon, Anne of Cleves, Catherine Howard, Jane Seymour, Anne Boleyn e Catherine Parr.

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O substituto de Wakeman

A excêntrica figura de Rick Wakeman deu lugar a um tecladista menos espalhafatoso, de longos cabelos revoltos e nariz proeminente, mas não menos genial: o suíço Patrick Moraz. No Yes, Moraz colaborou com o álbum Relayer, mais um projeto ambicioso do grupo cuja primeira faixa, "The Gates of Delirium", ocupava um lado inteiro do disco de vinil — do mesmo modo, em 1971 o Pink Floyd lançara o disco Meddle, no qual o lado B também era tomado por uma única canção: Echoes. Fato é que a entrada de Moraz no Yes causou grande impacto porque o músico, ao contrário de Wakeman, tinha suas raízes fincadas no electric-jazz e era adepto de improvisações. Isso, no entanto, não foi empecilho para que Relayer obtivesse grande sucesso comercial.

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O próximo disco, Going for the One, foi alvo de várias discussões sobre os créditos de Moraz nas músicas. O máximo que Moraz conseguiu foi ser o primeiro mencionado na lista de agradecimentos do encarte, um comedido "Special thanks to: Patrick Moraz", seguido de outros nomes. Em 1977, após ouvir Going for the One e admitir para si mesmo que o Yes ainda atendia às expectativas de uma grande banda, Wakeman decide retornar ao grupo.

Patrick Moraz: talento e personalidade forte

Fora do Yes, Moraz decide vir ao Brasil. Após assistir a um show da banda Vímana, o tecladista, impressionado com a apresentação do grupo, aventou a possibilidade de o quinteto brasileiro atender às suas demandas musicais. Convidou o Vímana para acompanhá-lo. Convite aceito. No entanto, a relação entre Moraz e a banda ganhou mais notoriedade pela relação conflituosa que imperava nos ensaios e fora deles do que pela produção musical propriamente dita. Pairava uma nuvem negra sobre as cabeças de Luiz Paulo Simas (vocal e teclado), Fernando Gama (baixo), Ritchie (flauta e vocal), Lobão (bateria) e Lulu Santos (guitarra e vocal).

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Essa nuvem tinha nome: Patrick Moraz. "Os caras acompanhavam os compassos com o Moraz mostrando igual um professor assim: treze por nove, sete por oito, treze por oito, nove por oito. Era o tipo de música pavorosa; um tipo de música estapafúrdia muito pior do que o Vímana era", disse Lulu Santos anos depois de ter sido expulso da banda pelo "professor Moraz". Naquele momento, o então guitarrista e vocalista do Vímana não estava diante somente das "vilanias" de Moraz, mas também do "ato heroico" de um dos integrantes do grupo . "O negócio foi deteriorando e acaba espetacularmente com o meu herói Lobão roubando a mulher do cara, a casa do cara, a família e o piano de calda", relembra Lulu Santos em tom de troça. Para os apreciadores de rock progressivo, o nome de Patrick Moraz ainda evoca respeito. Para Lulu Santos, o tecladista suíço é uma figura retrógrada e que por isso merece a alcunha de "Marick Patraz".

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E o tiro saiu pela culatra

Em 1974, antes mesmo de entrar para o Yes, Moraz havia formado o Refugee, um trio com o baixista Lee Jackson e o baterista Brian Davison, ambos ex-integrantes do The Nice. Musicalmente, o Refugee havia caído como uma luva nas mãos de Moraz; as músicas do solitário disco do trio, o autointitulado Refugee, demonstra isso claramente. Inclusive as variações rítmicas que Moraz tentava impor no Vímana estão nesse álbum.

Talvez o tecladista quisesse reencontrar no quinteto brasileiro a mesma disposição que Lee Jackson e Brian Davison tinham de encarar a complexa sonoridade que fundamentou as músicas do Refugee, mas ao invés de angariar adeptos de sua ideologia musical, ele acabou entrando em território inimigo e, segundo Lulu Santos, "saindo com o rabo entre as pernas".

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Trios

Uma sucessão de fatos criou pontos em comum entre alguns trios do rock progressivo. Primeiramente, o Refugee era uma sobra do The Nice, banda liderada por Keith Emerson, que saiu do grupo para formar o trio mais famoso do prog rock: Emerson, Lake and Palmer. Outro ponto que deve ser mencionado é que tanto o Refugee quanto o ELP compunham suas músicas sem a presença de guitarra e violão. Exceto em algumas canções como "Tarkus", "Lucky Man", "Take a Pebble" e "From the Beginning", o ELP passou a investir em composições constituídas apenas de bateria, baixo e teclado. As partes instrumentais eram incorporadas ao inigualável vocal de Greg Lake, que saíra do King Crimson depois de colaborar com os dois primeiros álbuns do "Rei Escarlate": In The Court of the Crimson King e In the Wake of Poseidon. Seguindo o mesmo exemplo de Emerson e Lake, o baterista Carl Palmer saíra de uma banda, o Atomic Rooster, antes de se juntar à dupla.

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Lançaram o primeiro álbum em 1970, o autointitulado Emerson, Lake and Palmer. No ano seguinte, fizeram shows fantásticos que receberam o nome de "Pictures at na Exhibition", concertos nos quais reproduziram a suíte de 10 peças para piano criadas pelo russo Modest Mussorgvsky, compositor erudito do século XIX. Ainda no mesmo ano, repetindo o que Yes havia feito em Relayer, o ELP gravou Tarkus, disco que tem um lado inteiro tomado pela faixa-título. O trio, que compunha músicas complexas, era reconhecido pela qualidade individual de cada um, em especial Keith Emerson, que trocara o órgão hammond para fazer verdadeiras maravilhas musicais com o sintetizador moog.

Laurens Hammond e Dr. Robert Moog

No The Nice, Keith Emerson se destacava pela utilização ousada do órgão Hammond. Com o ELP, o sintetizador moog foi altamente explorado pelo tecladista que, magistralmente, extraía "sons espaciais" do instrumento. O órgão Hammond já existia antes mesmo do nascimento de Emerson. Construído pelo engenheiro norte-americano Laurens Hammond por volta de 1934, o instrumento foi criado para substituir o piano e os órgãos de tubo — os tradicionais órgãos de igreja, que Rick Wakeman utilizou para gravar a quarta faixa de The Six Waves of Henry VIII. Inicialmente, o órgão Hammond foi destinado às famílias de classe média e estações de rádio. No entanto, a partir de 1950, o instrumento deixou de ser uma peça "caseira" para ganhar notoriedade nas mãos de músicos de jazz. A partir de 1970, passou a ter larga utilização em bandas de rock como Uriah Heep, Deep Purple e The Doors — Ray Manzarek abria ao mundo as portas da percepção musical enquanto despejava sonoridade "jazz-rock" de seu Hammond.

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Basicamente, o funcionamento desse órgão é baseado em princípios de eletromecânica. Discos dentados — conhecidos como "tone wheels" ou rodas fônicas — começam a girar em alta velocidade produzindo uma variação de campo magnético que é captado por sensores eletromagnéticos. Esse processo acaba gerando sinais que são convertidos em sons. Uma das grandes referências da sonoridade Hammond para o rock está impresso no álbum de estreia do The Nice. O instrumento também foi bastante utilizado por bandas de rock psicodélico na fase proto-prog do rock progressivo. Além do órgão Hammond e do já mencionado mellotron, outro tipo de teclado que fez a cabeça de tecladistas de prog rock foi o sintetizador moog, criado pelo também engenheiro norte-americano Robert Arthur Moog.

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A trajetória da criatura e do criador começa com Robert vendendo kits de theremins transistorizados — era o seu ganha-pão.

Moog conhece Herbert Deustch, músico que utilizava theremins e que sugeriu ao então vendedor que poderiam realizar experimentos em busca de novos instrumentos eletrônicos. Moog então apresenta o primeiro protótipo do instrumento que leva seu sobrenome em 1964. Ele então funda a Moog Music para fabricar o sintetizador que ganhou notoriedade após ser utilizado em 1967 no emblemático Monterey Pop Festival, que inclusive contou a participação do ELP e, claro, com Keith Emerson usando e abusando das possibilidades musicais do moog.

Em outras palavras, Keith Emerson tinha à sua disposição a possibilidade de criar sons acústicos e eletrônicos oferecidos pelo moog. O sintetizador também permitia o controle de tons e ritmos durante as apresentações dos tecladistas que o utilizavam. Quando se ouve Keith Emerson manuseando um moog, a impressão que se tem é de que o sintetizador extrai "sons espaciais e futuristas". Não é à toa que vários bandas de rock passaram a utilizar o moog para gravar canções. The Beatles, Tangerine Dream, Kraftwerk, Yes, entre tantos outros músicos, aderiram à sonoridade do instrumento, mas o que fica marcado na mente dos apreciadores do moog é a lépida figura de Keith Emerson balançando o sintetizador pra lá e pra cá, pulando em cima dele: uma apresentação musical e quase teatral do lendário tecladista que praticamente foi um dos fundadores do rock progressivo.

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O "ELP alemão"

Formado em 1969, a banda alemã Triumvirat seguiu os mesmos passos do ELP: um trio que compunha músicas basicamente com baixo, bateria e teclados. No meio musical, o Triumvirat passou a ser chamando de "ELP alemão", inclusive pelo fato de possuir um tecladista virtuoso como Keith Emerson. Jurgen Fritz utilizava teclados e sintetizadores magistralmente, mas sem as "peripécias" do músico do ELP. Ao lado de Fritz, o baterista Hans Barthelt e o baixista Werner Frangenberg comporam álbuns calcados no chamado "rock sinfônico", o que realmente lhes valeram a alcunha de "clones de Emerson, Lake and Palmer".

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Sobre Flávio Siqueira

Nascido e criado em Brasília, aos 14 anos pegou emprestado um "The Best of" do Pink Floyd. O choque foi tão grande que resolveu aprender guitarra somente para executar o solo de "Time". De lá pra cá vem estudando guitarra e apreciando bandas de stoner, grunge e rock progressivo, além de muito blues e algumas coisas de jazz e música erudita. Atualmente toca guitarra numa banda que mescla influências de stoner, grunge e uma pitada de rock psicodélico.
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