Rita Lee: Ela participou de suruba com o Yes e furtou a cobra de Alice Cooper
Por João Paulo Andrade
Postado em 18 de novembro de 2016
Matéria do UOL sobre o lançamento de "Rita Lee - Uma Autobiografia" liberou alguns trechos deliciosos, outros tristes, da história da Rainha do Rock Brasileiro.
Tietando (ou tentando tietar) os Beatles em Londres
"Chuva, frio, terremoto, asteroide, nada abalaria a militância beatlemaníaca amontoada atrás de cordões de isolamento a poucos metros da porta do predinho da Apple, um tanto mixuruca pela fama que tinha. De repente, a onda humana se desloca para o estacionamento, de boca em boca a notícia de um Beatles saindo pela porta dos fundos. Os policias seguem junto segurando o comboio e, nessas, a porta da frente da Apple fica desimpedida, mais que depressa voo até lá e, gulosa, lambo a maçaneta (...) Pois bem, estava eu quase chegando à estação do metrô quando passa por mim um Rolls-Royce branco e vislumbro a cabeça de John Lennon no banco traseiro. Congelo no ato. Nem para correr atrás ou gritar fui capaz. Só consegui me consolar a possibilidade de aquele cabeça ser apenas da Yoko Ono."
Expulsa dos Mutantes por não ter "calibre"
"(...) minha saída dos grupo aconteceu bem nos moldes de 'o noivo é o último a saber', no caso, a noiva. Depois de passar o dia fora, chego ao ensaio e me deparo com um clima tendo/denso. Era um tal de um desviar a cara pra lá, o outro olhar para o teto, firular instrumento e coisa e tal. Até que Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica, não nessas palavras, mas o sentido era o mesmo, que naquele velório o defunto era eu. 'A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista.' Uma escarrada na cara seria menos humilhante. Em vez de me atirar de joelhos chorando e pedindo perdão por ter nascido mulher, fiz a silencisosa elegante. Me retirei da sala em clima dramático, fiz a mala, peguei Danny (a cachorra) e adiós."
Na cama com o Yes
"Impressionante como em cada esquina de Londres a gente encontrava um brazuca órgão do tropicalismo. Na rua dou de cara com Toninho Peticov, sempre animado e sabendo tudo o que rolava na cidade. A pedida para o dia seguinte era Elton John no Crystal Palace abrindo para o Yes. Hãã? Seria aquele o prato frio da vingança por ter sido expulsa da banda? Enquanto 'os the brazilian Sim' copiavam o som deles no Brasil, eu os assistia ao vivo em Londres. Na metade da apresentação de Elton, tomei uma pedrinha que foi bater nos primeiros acordes do Yes. Com LSD impossível não existe, não me pergunte como fui parar no palco sentadinho no maior flerte. Também não me pergunte como fui parar no camarim deles e muito menos acordar descabelada, plissada, godê numa cama rodeada de um monte de outros achados e perdidos humanos. Rita, quem diria, você groupie do Yes!"
Furtando a cobra de Alice Cooper
"Tudo porque uma hora lá ele entra no palco cachoalhando violentamente uma cobra e depois de fazer seu número de fodão, atira a bichinha no chão e pisoteia. Um contrarregra entrava na moita e a recolhia (...). Passei a lábia no segurança do backstage e entrei (...) De cara fui com a cara do roadie, um inglês chamado Andy Mills. Digamos que fomos com a cara um do outro e cinco minutos depois fugimos de lá levando a gaiola com a jiboia e de quebra outra jiboinha bebê que seria treinada também para atuar nas micagens grotescas do canalha. A cobra que foi maltratada no palco chamava-se Mouchie, aquela mesma que está na caba do disco 'Killer'. A cobrinha bebê era Angel e adorava se enrolar de pulseira no braço dos humanos."
Aborto
"Já em casa, continuamos [Rita e Roberto de Carvalho] 'fazendo amor no-chão-no-mar-na-lua-na-melodia-por-telepatia' várias vezes ao dia e, claro, em pouquíssimo tempo embarriguei novamente. Gravidez extrauterina, disse o médico, a se pensar numa curetagem levando em conta a recente cesariana complicada ainda em fase de cicatrização. O que me fez decidir mesmo por interromper foi a hemorragia que aconteceu dias depois e pirei de vez. Mesmo já tendo abandonado a religião, entre no 'mea-culpa' catolicista e me autocondenei ao mármore do inferno. Até hoje me chicoteio pensando que talvez aquele baby poderia ter vingado, que foi um ato precipitado, que daquele momento em diante eu estaria condenada a lamentar a decisão para o resto da vida (...) Nenhuma mulher faz aborte sorrindo. Cabe a elas, e somente a elas, a decisão de interromper uma gravidez, assim como de segurar sozinhas as consequências moral, espiritual e oskimbau."
Grávida na cadeia, salva por Elis Regina
"Só pode ter sido manobra do meu Anjo da Guarda ter acontecido justamente no dia em que eu estava tendo um sangramento com cólicas insuportáveis (...) O perigo de aborto era real. Nada foi feito. Naquele exato momento, chega uma carcereira dizendo: 'Rita Lee, chegou um artista famosa aqui na portaria e tá junto com o filhinho rodando a baiana querendo te levar de qualquer jeito' (...) Céus quem seria essa santa porreta que me aparece exatamente na hora que eu mais preciso, Nossa Senhora das Roqueiras? Chego corcunda de dor na sala do delegado e quem vem me dar um abraço dos mais fofos que já recebi na vida? Elis, aquela que fazia cara feia para os roqueiros! Elis, a musa mor da MPB! (...) O delegadinho da vez, sem saber se pedia autógrafo ou enfiava a cara no apontador de lápis, fazia papel do falsinho atencioso, ora oferecendo cafezinho, ora perguntando sobre música. Elis ignorou o cara e disse em alto e bom som: 'Se um médico não chegar em cinco minutos, você é que vai precisar de um cafezinho, porque eu vou convocar uma coletiva e denunciar o que está acontecendo aqui com minha amiga Rita Lee.'"
Leia a matéria do UOL no link abaixo.
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