Shaman: um dossiê do "depois" da primeira formação
Por Hugo Alves
Postado em 04 de junho de 2018
Shaman foi uma banda formada na virada dos anos 1990 para os 2000 em decorrência de uma dramática separação da primeira formação do Angra, provavelmente o maior nome do chamado Power Metal no Brasil. Naquela época, o Angra já havia lançado três discos: "Angels Cry" (1993), "Holy Land" (1996) e "Fireworks" (1998), além de vários singles, EPs e edições especiais. Além disso, já tinham seu nome mais que difundido em países como França, Itália e, principalmente, Japão, além de terem dividido o palco ou aberto shows de artistas do calibre de Bruce Dickinson, Slayer, Black Sabbath, Kiss e AC/DC, só pra se ter uma ideia. O grande problema, porém, foi burocrático, já que os membros que saíram da banda não concordavam com os rumos que algumas negociações com o empresário Antônio Pirani tomaram, ao passo que os membros que permaneceram concordavam.
Sendo assim, enquanto os guitarristas Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro permaneceram ostentando o nome e a marca Angra, o baterista Ricardo Confessori, o baixista Luis Mariutti e o vocalista Andre Matos deixavam a banda assumidamente descontentes com o andar da carruagem, levando ainda consigo o tecladista Fabio Ribeiro como músico convidado (este já vinha colaborando com o Angra em turnês havia algum tempo).
Idealizada por Confessori e Mariutti, nascia a banda Shaman, cujo nome provinha de uma canção do Angra chamada "The Shaman", lançada em 1996 no disco "Holy Land". A escolha natural para o posto de vocalista era justamente Andre Matos que, após finalizar seu disco "Virgo" (em parceria com o produtor, compositor e multi-instrumentista alemão Sascha Paeth), tomou o projeto para si. Hugo Mariutti, irmão do baixista, foi convocado para auxiliar como guitarrista convidado e, dada a sinergia e os resultados das sessões, acabou sendo efetivado como membro oficial da banda. Estas sessões resultaram no álbum "Ritual", lançado em 2002, dono de recordes principalmente no território nacional, tendo colocado o hit máximo da banda – "Fairy Tale" – na trilha sonora de uma novela da Rede Globo, "O Beijo do Vampiro", e levado o Heavy Metal para públicos que não necessarimante fossem especializados nesse tipo de som. A turnê resultou ainda no melhor DVD do nicho produzido no Brasil, "RituAlive" que, se já não fosse perfeito pelo esmero em sua produção, ainda contou com participações mais que especiais de Marcus Viana, George Mouzayek, Sascha Paeth, Tobias Sammet, Andi Deris e Michael Weikath.
A banda ainda lançou um segundo disco, "Reason", em 2005 e que, se não repetiu o sucesso de seu antecessor (muito pelo novo direcionamento musical da banda, menos Power Metal e mais soturno e pesado), detém até hoje muitos adoradores (que até mesmo preferem o som e a produção deste) e teve também uma ótima turnê de promoção que, infelizmente, terminou com a separação da banda, após discussões entre o baterista Ricardo Confessori (que manteve para si os direitos sobre o nome da banda e a reformulou, mantendo-a na estrada com uma segunda formação entre 2007 e 2012) e os demais integrantes. A seguir, um resumo do que cada membro fez após a dissolução de um marco do Metal nacional.
Andre Matos saiu em carreira solo, levando consigo todos os membros remanescentes da primeira formação do Shaman e adicionando outros músicos de alto calibre ao time. Lançou três discos solo: "Time to be Free" (2008) – diz a lenda que este disco contém algumas das canções que viriam a integrar um terceiro disco da primeira formação do Shaman; imaginem que disco este teria sido, meus amigos! –, "Mentalize" (2010) e "The Turn of the Lights" (2012). Ele também saiu em uma longa turnê de reunião com sua primeira banda, o Viper, tocando na íntegra os dois discos que nela gravou, atuando como banda de abertura do Kiss e gravando um CD/ DVD ao vivo para celebrar a reunião. Atuou em inúmeras participações especiais, sendo uma das mais significativas com o músico Corciolli.
Hugo Mariutti integra a banda que dá suporte à carreira solo de Andre Matos desde sua saída do Shaman, sendo carinhosamente conhecido como o fiel escudeiro do vocalista. Além disso, integrou o Viper como músico convidado na turnê de reunião que contou com Andre Matos – o guitarrista original, Yves Passarel, não pode integrar a reunião para mais do que algumas participações esporádicas por conta da agenda cheia com a qual é comprometido com a banda que hoje integra, o Capital Inicial – e, pelo visto, deve ter sido integrado à banda, ainda que não oficialmente, já que hoje a banda conta com outro vocalista e Hugo continua a cumprir compromissos com a banda. Ainda lançou um segundo disco com o Henceforth, banda que já integrava junto com seu irmão Luis Mariutti antes mesmo de o Shaman existir, chamado "The Gray Album" (2011), no mesmo ano em que trabalhou com o Remove Silence no disco "Fade". Finalmente, lançou dois discos solo, "A Blank Sheet of Paper" (2014) e "For a Simple Rainy Day" (2017).
Luis Mariutti integrou a banda solo de Andre Matos até o ano de 2011. Na época, acumulara à sua função de baixista na banda que tinha agenda bastante cheia os trabalhos como produtor da turnê da banda e produtor de shows de um modo geral, tendo trabalhado em shows de porte nacional e internacional em casas como o Carioca Club (SP), por exemplo. Entrou em depressão e decidiu sair da banda de Andre Matos e do mundo da música por algum tempo para cuidar de sua saúde e dedicar-se a uma outra paixão, o Muay Thai. Porém, foi voltando para o mundo da música aos poucos, através dos projetos Motorguts e About2Crash (neste, trabalha inclusive com o baterista Aquiles Priester, também ex-membro do Angra, mas posterior à sua fase). Nesse ínterim, fez as pazes com seus ex-companheiros de bandas Ricardo Confessori, Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro e fez participações em diversos shows do Angra (incluindo vários da turnê comemorativa aos 20 anos do disco "Holy Land") e dos projetos paralelos do baterista Ricardo Confessori.
Ricardo Confessori, por sua vez, manteve o Shaman reformulado em atividade entre os anos de 2007 e 2011, lançando dois discos de estúdio ("Immortal" em 2007 e "Origins" em 2010) e dois discos ao vivo ("Anime Alive", de 2008, e "Live at Masters of Rock" em 2010 – este último foi lançado como parte do pacote extendido do disco "Origins" no Brasil). Voltou para o Angra em 2009 – o que acabou gerando desconforto entre ele e os músicos que integravam a segunda formação do Shaman que, por sua vez, encerrou suas atividades e gerou outra banda, a Noturnall – e gravou com a banda o disco "Aqua" (2010) e o DVD "Angels Cry 20th Anniversary Tour" (2013), até deixar a banda novamente, desta vez em um clima amistoso. Continua ministrando diversos workshops pelo Brasil e atua também com sua banda Confessori, tocando diversos clássicos do Angra e do Shaman.
Houve grande movimentação nas redes sociais liderada por um grupo chamado World Shaman e a banda decidiu atender os pedidos e, após 12 anos de sua separação, voltar aos palcos, inicialmente para um show em São Paulo, que acontecerá no Audio Club no dia 22 de Setembro de 2018, um Sábado. Ainda que este show acabe sendo direcionado a um público de uma região específica (e alguns poucos afortunados que tenham dinheiro e tempo para realizar um longo deslocamento e ver o show), este retorno é uma vitória para o Metal nacional, pois o Shaman é uma banda que faz falta para a cena, inspirou muitos artistas que já existiam na época ou que surgiram naquele tempo e depois, e movimentou o mercado de forma ímpar e jamais repetida. Não há informações sobre uma subsequente turnê – segundo consta num dos vídeos no canal de Luis Mariutti no YouTube, nem mesmo o show está inteiramente definido.
Há de se comemorar a vitória já estabelecida e esperar pelo que virá pela frente. As portas para novas possibilidades, muito melhores que tudo o que já aconteceu no Metal nacional nos últimos dez anos, estão abertas – membros de bandas como o Angra e o Shaman fazendo as pazes nos dão esperança de dias melhores para o gênero que amamos tanto, uma vez que todos que acompanham estas (e outras) bandas de perto sabem o drama oriundo de suas histórias. Torçamos para que esta reunião motive uma turnê, talvez até novas músicas e novos discos, e inspire outras bandas a focar, de uma vez por todas, naquilo que realmente importa: a música.
[an error occurred while processing this directive]Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps