Dorsal Atlântica: Carlos Lopes comenta discografia de banda pioneira do metal no brasil
Por Tchelo Emerson
Postado em 01 de junho de 2022
O canal Metal Musikast publicou um vídeo com comentários sobre toda a discografia da banda Dorsal Atlântica, com a participação especial do próprio Carlos Lopes, fundador, compositor e principal integrante desta verdadeira instituição do metal brasileiro.
Em Dorsal Atlântica - Discografia Comentada, o líder da banda contou diversos detalhes e curiosidades sobre toda a carreira da banda que foi uma das pioneiras do metal brasileiro, tendo como fio condutor a análise de todos os álbuns da banda.neiro de 2021.
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A banda Dorsal Atlântica foi formada em 1981, tendo lançado até agora 9 álbuns de estúdio, além de um split-album "Ultimatum 1984" com a banda Metalmorphose, uma compilação ("Pelagodiscus Atlanticus The Old, The Rare, The New" 2002) e um disco ao vivo ("Terrorism Alive" - 1999).
Dando início aos comentários, o entrevistador ressalta que Carlos Lopes é um artista singular, representando na música pesada aquela singularidade encontrada em artistas de outros gêneros musicais como Ney Matogrosso, Elza Soares e Jards Macalé: "primeiro vamos falar do 'Ultimatum [...] , disco que já era muito único naquele momento [do lançamento, em 1985], não parecia com as outras bandas, nem com as gringas, embora a gente pudesse perceber influências. Isso foi de caso pensado ou saiu naturalmente?"
Carlos Lopes (que na primeira fase da banda atendia pelo apelido de Carlos Vândalo) respondeu: "Tudo é muito natural. [...] Hoje a gente vive um tempo de assessoria de imprensa, de 'coaches', esse tipo de coisa, num mundo em que até pra você ser 'headbanger' o cara vem com o formato: 'olha só, se você não tiver cabelo comprido, não tiver a tatuagem, não tocar com esse timbre, não fizer dessa forma, o mercado não te aceita'. E o que é o mercado? É um monte de gente cooptada. No final das contas é isso. E você pode muito bem dar as costas para o mercado, seja artista ou seja público. E nesse período quando a gente começou, o primeiro show em que eu toquei na vida foi em 1981 no colégio. [...] A gente era muito imaturo, não existia cena de rock pesado no Rio [de Janeiro], não tinha público, não tinha nada. E todo mundo me falava naquela época: 'você é maluco. Por que você tá fazendo esse negócio? É parada de alienado'. E eu cismei e fiz. [...] Hoje muita gente costuma dizer que o 'Ultimatum' é o começo da história da música extrema no Brasil, mas a gente não tinha essa concepção. Foi uma coisa totalmente espontânea".
Sobre o álbum seguinte, o clássico "Antes do Fim" (1986): "Curiosamente, ano passado, o SESC chamou um monte de pensadores musicais, pessoas que escrevem na imprensa sobre música...tem diversas análises. Eles quiseram escolher dez ou doze discos, não lembro agora, 'desconhecidos' da música brasileira, ou seja, não estamos falando de metal nem de punk, vai tudo. O 'Antes do Fim' foi escolhido como um dos dez ou doze discos mais importantes da música no Brasil. Música desconhecida. e nesse grupo vai rock, samba, música alternativa, vai tudo. Pra você ver a perenidade do disco".
Lembrando que há uma versão regravada do álbum chamada "Antes do fim, depois do fim" (2005).
Continuando a análise da discografia, Carlos Lopes comentou sobre o álbum "Dividir & Conquistar" (1988). "Eu diria que é um disco semi-progressivo, em que eu estava inserindo certas coisas que eu trazia dos anos 70 de rock progressivo. [...] Esse disco foi muito bem aceito em São Paulo. Ele vendeu mais de 1000 cópias em um só dia nas lojas da Galeria do Rock".
A influência da concepção dos grandes discos de rock progressivo de bandas como Genesis e Pink Floyd e de ópera-rock, como "Thommy" do The Who acabou gerando a trilogia formada pelos álbuns "Searching for the Light" (1990), "Musical Guide from Stellium" (1992) e "Alea Jacta Est" (1994), naquilo que a imprensa internacional chamou de "ópera-thrash". "Searching for the Light" foi como um livro musicado, pois o texto das letras é contínuo, como um texto em prosa, sem rimas. As letras estavam em inglês.
Carlos Lopes explica que "a capa foi uma foto feita pelo, hoje famoso jornalista e escritor, André Barcinski. Eu contei pra ele que parte da ideologia no "Searching for the Light" era derivada de um filme do Luís Buñuel, onde entravam ovelhas numa sala da grande burguesia espanhola e as pessoas que iam para o jantar não conseguiam sair da sala (o filme se chama "O discreto charme da burguesia"). Depois achamos um cano num terreno baldio e eu disse: é essa a capa. Chamamos um amigo ator e o fotografamos".
Na sequência, a Dorsal Atlântica lançou o disco "Straight" (1996), gravado na Inglaterra e com sonoridade calcada no crust e no hardcore.
Depois disso, Carlos Lopes colocou a banda em período de hibernação após o memorável show da edição de 1998 do festival "Monsters of Rock".
Carlos Lopes se dedicou às atividades das bandas Mustang e Usina Le Blond.
O retorno da banda Dorsal Atlântica aconteceu em 2012, com o lançamento do disco "2012", cantado em português e financiado por "crowdfunding" ("vaquinha virtual").
"[A volta da Dorsal Atlântica] só faria sentido se a banda fosse atualizada", disse Carlos Lopes. "E as pessoas já estavam com essa cabeça de 'old school', que é uma ideia que eu repilo totalmente, não tem nada a ver comigo. [...] aí uma vizinha me falou sobre a ideia de financiamento coletivo e disse: 'eu não sei, mas parece a tua cara'. e eu disse: 'então vamos fazer, vamos tentar'. [...] De certa forma, o brinde que eu dei para as pessoas foi a volta da formação que tinha gravado o "Antes do fim", o "Dividir [e Conquistar]" e o "Searching for the Light" (A formação contava com Carlos Lopes nos vocais e guitarra, Cláudio Lopes no baixo e Hardcore na bateria).
Lopes continua: "Eu só pedi uma coisa aos apoiadores: 'vocês têm que me dar carta branca, porque eu não quero que a Dorsal retorne como uma cópia do passado. Ela tem que ter uma leitura nova, uma roupagem nova, tem que falar de coisas novas e, principalmente, do Brasil [...]. E, a coisa que me marca profundamente, foi o ano do nascimento do meu filho, que foi em 2012".
"2012" está sendo relançado atualmente em vinil amarelo 180g, com pôster e adesivo, em apenas 300 cópias, pelos selos La Ursa Discos e CKD Discos, ambos sediados em Olinda/PE. A nova versão em vinil celebra os 10 anos desde o lançamento do disco.
Sobre o álbum "Imperium'' (2014), Lopes informa que: "conta o final da democracia no Brasil. A nossa pretensa democracia, que foi compactuada com os militares no Brasil para que pudesse ter a primeira eleição indireta. [...] E eu emendo a história que começo contando no 'Imperium' para o "Canudos" (2017), tanto que na capa há a figura de uma mulher com uma cabeleira bem grande que é a Dilma [Roussef - ex-Presidente da República]. Esse é o primeiro disco que faz uma revolução musical na Dorsal. É o primeiro disco que assumidamente não tem mais melodias inspiradas em qualquer coisa que não seja o Brasil. O disco inteiro foi composto para ter melodia de baião, candomblé, música armorial, nordestina. E você dá uma leitura a tudo isso de rock pesado".
Esta nova forma de expressão da música da Dorsal Atlântica se mantém no álbum seguinte, "Pandemia" (2021), que traz uma história alegórica e sombria que representa a realidade política, econômica e social do Brasil atual. Destaque para a invenção de um novo modelo de guitarra chamada de "Matadeira" ou "guitarra baiana", que foi usada em "Canudos" e "Pandemia".
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