Rita Lee, Ovelha Negra e como fato inusitado mostrou a importância do solo de guitarra
Por Bruce William
Postado em 05 de agosto de 2023
Este corte da participação de Luiz Carlini no Pitadas do Sal, o guitarrista do Tutti Frutti conta como ele percebeu a tremenda importância de um solo de guitarra, após explicar como a marca individual do músico transcende a questão meramente técnica do instrumento.
"Primeiro, eu sou guitarrista da Les Paul. Eu tenho várias e eu conheci o Les Paul, o cara que fez a Gibson Les Paul, eu tenho foto com ele, agradeci, beijei a mão dele, disse: 'Você fez a guitarra da minha vida'" conta, rindo. "A minha sonoridade, a minha característica e a minha personalidade está, diretamente linkada ao instrumento. É dali que veio o tempero que dá a minha dicção. Isso é o que todo guitarrista almeja, quer. Você reconhece... você ouve uma música que nunca ouviu, aí entra no solo de guitarra e você fala: 'É o David Gilmour!'", explica Carlini, afirmando que isto é o maior troféu que um guitarrista pode ganhar. "Porque é tão fácil parecer com todo mundo, sabe?".
Neste ponto Carlini fala sobre "Ovelha Negra", lançada pela Rita Lee em seu álbum de mesmo nome de 1975. "É o solo de guitarra que catapultou a minha carreira. Quando o solo apareceu, foi eleito o solo mais famoso do Brasil. Não que eu ache isso, mas isso aconteceu, a revista Guitar Player fez um concurso de cem solos e eu fui premiado no primeiro lugar, os guitarristas que votaram, eles falam pra mim "Você foi abençoado!'"
Depois de contar que ele sonhou com o solo, que se tornou tão famoso a ponto das pessoas "tocarem" junto com ele nas apresentações que eles faziam para plateias de até dez mil pessoas na turnê que tinha os ingressos dos shows esgotados, Carlini revela que aquilo lhe proporcionou uma compreensão profunda sobre o impacto da música e a influência significativa de um solo de guitarra.
Para tanto, ele relata um episódio que aconteceu com ele durante a turnê do álbum em um hotel de Belém do Pará, que o levou a compreender de forma mais profunda o poder do solo de uma guitarra: "Eu entrei no quarto, deitei na cama, abri a janela, ligamos a televisão, eu e o Lee (Marcucci, baixista) estava esperando uma menina que ia varrer o quarto, depois ela ia sair e tal. E a menina veio, era uma indígena. Ela descalça, com uma vassoura, varrendo o quarto e assobiando o solo de 'Ovelha Negra'. Eu estava deitado na cama, eu olhei e falei: 'Como! Ela não sabe que sou eu que fiz isso. Ela nem sabe.'".
Naquele momento, Carlini refletiu a profundidade do que estava acontecendo: "Eu faço um solo de guitarra em São Paulo, numa banda de rock, e isto atinge uma pessoa assim, logicamente chegou através do rádio até ela, aquela música ficou famosa e ela ia assobiando aquela melodia, o poder daquela melodia. Isso aí me levou a... eu fiquei muito famoso com o solo, o solo ficou famoso como a música, e me levou a pensar nos solos de uma maneira completamente diferente", contou. "Solos de guitarra, eles tem letra. A pessoa vem cantando, parou de falar, quem vai falar sou eu, eu que continuo aquela história. Eu não tô tocando para guitarrista ouvir. Por sinal, eu nunca toquei pra guitarrista, não é para eles que eu faço. Eu faço porque eu faço!", finaliza.
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