Os valores em dólar que Sepultura negociou com gravadora no começo da carreira
Por Gustavo Maiato
Postado em 13 de novembro de 2024
Em 1988, o Sepultura assinou um contrato com a gravadora Roadrunner Records, estabelecendo um vínculo de sete discos. Esse acordo, embora tenha sido um marco na inserção do grupo no mercado internacional, se mostrou ser financeiramente desfavorável para os músicos, refletindo as dificuldades que muitas bandas de fora dos Estados Unidos e Europa enfrentam ao negociar com grandes gravadoras.
Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, relembra a complexidade do contrato em entrevista ao Music Thunder Vision: "Foi uma história maluca, uma verdadeira história de Cinderela. Era um sonho realizado, mas ao mesmo tempo uma encruzilhada, um compromisso para a vida inteira. A gente assinou um contrato de sete discos, cara, e isso foi praticamente um suicídio, porque eram sete álbuns com uma gravadora enorme, onde a gente não tinha noção do que estava por vir." O vínculo duraria sete álbuns, e o aumento progressivo nos valores pagos à banda a cada disco era um atrativo, mas também implicava riscos significativos.
Segundo Kisser, o primeiro álbum do Sepultura com a gravadora geraria US$ 50 mil, um valor que subiu para US$ 75 mil no segundo disco, e no sétimo, o valor chegaria a meio milhão de dólares. "Cada disco era uma grana a mais, mas o problema era que a gravadora nunca ia conseguir recuperar aquilo por causa de burocracias, metas de vendas, e outras questões internas", conta o guitarrista. Esse aumento de valores era um incentivo, mas também implicava compromissos de vendas que nem sempre eram viáveis, o que levou a gravadora a decidir encerrar o contrato antes de seu término.
"Foi o que botou a gente no mundo, mas também nos colocou numa situação difícil. Esse contrato nos ajudou a falar inglês, conhecer gravadoras, empresários, a imprensa, e até a MTV, mas o preço foi alto", diz Kisser, refletindo sobre o impacto positivo da visibilidade internacional, mas também sobre as complicações do vínculo. A gravadora, diante das dificuldades de recuperar os investimentos e da pressão de cumprir o contrato, optou por encerrar a parceria. O Sepultura, por sua vez, seguiu sem conflitos para outras gravadoras, com a sensação de que, apesar das vantagens, o contrato inicial não foi totalmente benéfico.
O episódio, como Kisser descreve, foi "a nossa encruzilhada, sabe? Como um pacto com o diabo. Mas foi o que nos colocou no mapa". Este contrato, embora tenha sido um ponto de virada na carreira da banda, expôs as dificuldades enfrentadas por grupos com pouca experiência em negociações complexas e desiguais com grandes gravadoras. O Sepultura, no entanto, seguiu em frente, aprendendo a lidar com as adversidades e a traçar seu próprio caminho no cenário internacional.
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