Bee Gees e a febre nos embalos dos anos 70
Por Edsão
Postado em 21 de agosto de 2025
A história dos Bee Gees todo o mundo que aprecia música Pop de qualidade conhece e dispensa apresentações. Para os não familiarizados com a biografia do trio, basta dizer que são britânicos (nasceram na Ilha de Man), mudaram-se cedo para a Austrália, onde tiveram seu primeiro sucesso, voltaram para a Inglaterra, onde trilharam uma carreira excepcional na cena musical dos anos 1960 até meados dos anos 2000.


Depois dos Beatles, são o maior conjunto musical Pop da história, com quase cinquenta milhões de álbuns vendidos, grande número de singles em primeiro lugar nas paradas de sucesso, ganhadores de dez Grammy Awards, induzido aos halls da fama dos compositores, grupos vocais, e rock and roll (mesmo tendo poucas canções rockers no currículo).
Protagonistas na segunda trilha sonora mais vendida em todos os tempos (o filme "Saturday Night Fever"), além de revelar o mais prolífico e segundo maior songwriter vivo (atrás apenas de Paul McCartney), o genial, e incomparável, Barry Gibb.
Dito isto, vou abordar, apenas, o que para mim, é o auge criativo e melhor fase dos Bee Gees: de 1974 a 1979.

Os irmãos começaram os anos 1970 separados e com um álbum de pouca repercussão: o "Cucumber Castle", que na capa, trazia apenas o Barry e o Maurice Gibb, pois o Robin abandonara os trabalhos.
A reconciliação viria com o disco "Two Years On", que traria o sucesso "Lonely Days, Lonely Nights".
Em 1971, lançaram o LP "Trafalgar", com o hit "How can you man a broken heart".
Já em 72, viria a bolacha "To whom it may concert", com destaque para a balada "Run to me".
Desgastados e quase separando-se novamente, lançariam em 1973 "Life in a tin can" – um dos trabalhos mais fracos da carreira, que não traria nenhuma faixa de expressão comercial.
A salvação da lavoura iniciar-se-ia em 74 com a contratação do lendário produtor e maestro, Arif Mardin, para dar novo rumo ao trabalho do grupo.

Os arranjos e orquestrações de Mardin, juntamente com onze novas canções que incorporaram, além do Pop, country, soft rock, o soul, o rhythm & blues, e números dançantes, culminaram num bom álbum: "Mr. Natural".
Apesar de o disco não ter decolado nas paradas e, ter apenas a contagiante faixa-título, "Mr. Natural", executada nas rádios, com relativo sucesso, esta obra de transição serviu para apontar novos caminhos para o trio.
Formados pela universidade Arif Mardin, os Bee Gees produziram, em 1975, um de seus melhores álbuns: "Main Course".
Este trabalho traria, além de onze canções certeiras, quatro mega hits: "Nights on Broadway", "Jive Talkin", a sensacional "Wind Of Chance", e a lindíssima balada "Fanny" (Be Tender With My Love).

As gravações e mixagens foram primorosas, com o trio sendo acompanhado por músicos excelentes, que executaram os arranjos com proficiência técnica, e conseguiram emular o melhor do som orgânico da cena analógica dos anos 70. Um retorno triunfal dos Brothers Gibb.
Em 1976 viria o fabuloso "Children Of The World" que consagraria os Bee Gees mundialmente, e traria definitivamente o lendário falsete de Barry Gibb para o imaginário popular.
O álbum abre com o petardo e mega hit percussivo "You Should Be Dancing". Canção com arranjo inspirado pelo rock latino a la "Santana".
O disco ainda conta com os sucessos "You Stepped Into My Life" (com uma pegada r&b e orquestração belíssima), uma das baladas mais pungentes do trio: "Love So Right", a dançante "Boogie Child", a etérea e bela, "Love Me", além da singular e uma de minhas preferidas da discografia do grupo e "cara" dos anos 70, a espetacular "Subway".

O sucesso destes dois álbuns culminaria na gravação do primeiro disco ao vivo dos irmãos: "Bee Gees Live - Here At Last", que traria os maiores hits do grupo desde os primórdios da carreira.
A captação de som, performance da banda que os acompanhou, além da virtuose vocal do trio, e interação com o público, tornaram a obra como um dos discos pop ao vivo mais celebrados da década.
1977 traria um fenômeno popular e marco cultural dos anos 70: o campeão de bilheteria "Os Embalos De Sábado À Noite". Blockbuster estrelado por John Travolta, que contava em sua trilha sonora com sete canções dos Bee Gees, sendo cinco inéditas.
O sucesso do filme e das músicas foi tão avassalador que influenciou o comportamento mundial dos jovens da época.

Os figurinos da película ditaram a moda (de gosto duvidoso) daquele período, formou hábitos de consumo de uma geração, mudou os ritmos nos salões de baile (que passaram a ser chamados de discotecas), e impôs a onipresença nas rádios da música dançante batizada de "disco".
A bilheteria mundial de "Saturday Night Fever" foi estrondosa, a trilha sonora, até hoje, é a segunda mais vendida de todos os tempos, com o álbum figurando em sétimo lugar em maiores vendas na história, e o sucesso das canções tornou os Bee Gees ícones da música pop.
O curioso, é que as faixas que estouraram nas paradas, não foram compostas pensando no filme; os irmãos estavam compondo para um novo álbum, quando seu empresário pediu a eles que participassem. Assim eles cederam as músicas que já estavam prontas para a trilha sonora.

Reza a lenda de que eles não tinham ideia de que "Stayin’ Alive" (com seu riff marcante e refrão hipnótico, viraria hino de uma época), "How Deep Is Your Love" se tornaria uma das baladas mais celebradas da história, "Night Fever" seria um marco dance, "More Than A Woman" um libelo romântico, "If I Can’t Have You" sucesso na voz de Yvonne Elliman, "Jive Talkin" e "You Should Be Dance" presenças obrigatórias nas pistas de dança até hoje; é mole?
Não satisfeito, Barry Gibb, em seguida, ainda emplacaria mais um número um nas paradas com a canção "Grease", na voz de Frankie Valli, como tema de abertura do filme de mesmo nome e de enorme sucesso, estrelado por John Travolta e Olivia Newton John, o musical chamado "Nos Tempos Da Brilhantina" no Brasil, também teve repercussão mundial.

Os êxitos foram tão inebriantes que os levou, em 1978, a perder o senso artístico e a cometer a sandice de participar de um desastre cinematográfico regravando as músicas dos Beatles em "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band".
O fracasso retumbante de crítica e público foi tão grande que, até o fim do trio, constrangidos, nenhum dos irmãos queria comentar sobre o fiasco.
Consagrados como artistas singulares no mundo Pop, em 1979 lançariam seu melhor álbum de estúdio: o soberbo "Spirits Having Flown". Produzido por eles e pelos engenheiros de som, Karl Richardson e Albhy Galuten.
Este disco é uma obra-prima e um dos melhores álbuns da história, independente do gênero musical. São dez canções que trazem o que há de melhor no Pop em todos os tempos.

Começa com "Tragedy" (canção com uma base épica orquestral que utiliza magistralmente os recursos modernos dos efeitos de estúdio à época, como sequencers e sintetizadores.
Em seguida vem "Too Much Heaven" - balada magnífica e com uma das harmonizações vocais mais impactantes do trio (os Bee Gees doaram os royaltes desta canção para a Unicef).
A terceira faixa, "Love You Inside Out" é uma incrível fusão de r&b com funk e soft rock, que entrega um refrão sofisticado com um bridge grandioso.
Já a romântica "Reaching Out", registrou uma das maiores performances vocais em falsete da história: a gravação do Barry Gibb é impressionante e inigualável.
Na faixa título, "Spirits Having Flown", os violões e percussão predominam permeando a canção com um aproach folk bucólico e poético.

"Search, Find" é uma das minhas prediletas em toda a obra dos Bee Gees. Uma combinação excepcional de groove com rhythm & blues e soft music, além de arranjos de cordas e metais deslumbrantes.
Na faixa sete, Barry faz uma incursão vocal pelo pop jazzístico com a estonteante "Stop (Think Again)".
Já em "Living Together", o trio destila todo seu virtuosismo vocal com uma levada funkeada e um Pop pulsante, mais um nipe de metais poderoso em arranjos arrebatadores. Uma faixa grandiosa e ímpar.
A penúltima track, "I’m Satisfied" é um r&b esplendoroso e edificante. Arranjos sofisticadíssimos com strings e vocais superlativos.
Para fechar esta obra espetacular, vem a onírica "Until", com Barry Gibb acompanhado por uma singela harpa e cordas.

No fim da década de 70, o sucesso da disco music e dos Bee Gees era tão grande, que artistas de rock e outros gêneros encamparam campanhas de protesto contra o gênero e o trio.
Sob pressão de todo o meio artístico, a própria indústria fonográfica decidiu difamar e colocar os irmãos na geladeira, tal era sua onipresença na mídia e em shows.
Diante deste cenário, o grupo decidiu sair de cena e, em grande parte dos anos 80, gravaram discos solo e, como compositores, escreveram e produziram sucessos para outros artistas, como: Barbra Streisand, Dionne Warwick, Kenny Rogers, e Diana Ross.
E o resto é história.
Grande Abraço!
BEE GEES e a febre nos embalos dos anos 70 - YouTube

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