A obra-prima do Depeche Mode que poucos sabem que é inspirada em Elvis Presley
Por Gustavo Maiato
Postado em 22 de outubro de 2025
Quando o Depeche Mode lançou "Personal Jesus", em 1989, muitos fãs enxergaram apenas mais um clássico do synthpop sombrio que consagrou a banda. Mas, como revelou o jornalista Tom Taylor, da Far Out Magazine, a origem da música está diretamente ligada a uma das histórias mais controversas do rock: o relacionamento entre Elvis Presley e Priscilla Presley.
"Se você fez arte depois de 1954, há grandes chances de ter sido influenciado por Elvis Presley", escreveu Taylor, destacando que o cantor "mudou a cultura pop a tal ponto que há o que veio antes de Elvis e o que veio depois". O jornalista relembra que o Rei do Rock não apenas redefiniu a música, mas também se tornou um arquétipo de ídolo - algo que inspiraria e, ao mesmo tempo, intrigaria Martin Gore décadas depois.


Durante o serviço militar na Alemanha, Elvis conheceu Priscilla Beaulieu, então com 14 anos. A relação entre os dois evoluiu à distância, através de ligações telefônicas, enquanto ele servia o exército. Essa dinâmica - a de uma devoção quase religiosa a um ídolo inalcançável - foi o ponto de partida para a criação de "Personal Jesus".

Depeche Mode e Elvis Presley
Segundo Taylor, Martin Gore teve a ideia da música após ler o livro "Elvis and Me", de Priscilla Presley. "Quando Martin Gore, guitarrista e principal compositor do Depeche Mode, folheava o livro, percebeu um tema que ia além daquele relacionamento: a transformação de um objeto de desejo em um ídolo de adoração e dependência", escreveu o jornalista.
O próprio Gore explicou: "É uma música sobre ser o Jesus de alguém - alguém que oferece esperança e cuidado. É sobre como Elvis foi o homem e o mentor de Priscilla, e como isso acontece em muitos relacionamentos amorosos. O coração de cada pessoa vira uma espécie de Deus, e isso não é uma visão muito equilibrada, não é?"

Para Tom Taylor, essa percepção de Gore traduziu perfeitamente a dualidade da relação entre idolatria e controle. "De forma até doentia, o contrário também era verdadeiro. Priscilla foi uma espécie de ídolo para Elvis, no sentido mais superficial possível", escreveu. A própria Priscilla afirmou ao Hollywood Reporter: "Eu era a boneca viva de Elvis, moldada como ele queria."
Mesmo recebida com críticas e acusações de blasfêmia na época, "Personal Jesus" se tornou um marco do Depeche Mode - uma síntese perfeita entre devoção, sensualidade e tecnologia. Para Tom Taylor, a canção "mostrou como os sintetizadores podiam criar atmosferas sagradas sem dominar a composição - uma obra-prima em que letras quase dylanesques se fundem com o som do futuro".

O jornalista encerra seu texto com uma ironia: "Talvez o mais curioso de tudo seja que o próprio Elvis provavelmente teria feito uma ótima versão de 'Personal Jesus', porque, em parte, a música foi escrita à sua imagem."
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