O baterista que Neil Peart disse ser "perfeito" e desconhecido; "eu nem sabia o nome dele!"
Por Bruce William
Postado em 14 de outubro de 2025
Para quem toca bateria, encarar Neil Peart é quase um rito de passagem. Ele dominava viradas complexas e, mesmo no compasso mais simples, construía partes que pareciam pensadas com ouvido puro de compositor: tudo com função dentro da música. Por trás da técnica havia um ouvinte curioso, sempre caçando ideias fora do circuito óbvio.
Nos anos 80, enquanto muita gente fechava a porta para sons que não "conversavam" com a própria banda, Peart fazia o oposto. Mantinha o radar ligado - de Yes e Genesis a Police e Ultravox - e tratava cada descoberta como chance de ampliar vocabulário. Mais do que estilo, buscava soluções de bateria que servissem ao desenho da canção.


Foi assim que se deparou com "Movements", do maestro e bandleader Johnny Harris. Conhecido por arranjos pop para Tom Jones e Lulu, Harris assinava um álbum instrumental em que a bateria saltou aos ouvidos de Peart. O impacto foi tamanho que, anos depois, ao revisitar o disco, ele percebeu o quanto aquelas ideias tinham entrado na sua escrita e, ainda assim, não fazia ideia de quem tocava.
Peart registrou a sensação sem economizar elogios, conforme resgate feito pela Far Out: "Mais do que qualquer coisa, eu amei a construção das partes de bateria, tão intrincadamente desenhadas e elegantes, em estilos que iam do funk relaxado à energia direta, e entregues com um som natural excelente, e tempo e feeling perfeitos. Vinte anos depois, ouvi aquele disco novamente e percebi o quanto o baterista tinha me influenciado, especialmente na construção de partes de bateria para canções - e eu nem sabia o nome dele!"

O nome, mais tarde creditado, era Brian French. O que prendeu Peart não foi velocidade, e sim projeto: linhas de bateria que conduzem a música, variando de um groove contido a uma pegada reta, sempre com timbre natural e tempo impecável. É o tipo de solução reconhecível no próprio Peart: partes pensadas como composição, não ornamento, com cada acento empurrando a narrativa da canção.
Dá para listar influências famosas em Peart, ainda mais considerando luminares da bateria como John Bonham, Keith Moon, Hal Blaine, mas a lição desse disco "esquecido" era outra: tocar o suficiente para transformar cada faixa em pequena aventura, sem cair no excesso. Se muita gente fala em "servir à música", ele mostrava como fazer isso com rigor de engenheiro e a curiosidade de quem nunca deixou de ser fã, inclusive de um baterista "perfeito" cujo nome quase ninguém lembrava.

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